Não há nada mais bonito do que ouvir uma criança, que mal sabe falar, a dizer um impropério.
Dizem-no porque ouvem e repetem ou porque foram ensinadas – há sempre alguém que se disponibiliza para o efeito!
Pois bem, no meu caso, foi o meu avô materno, que viria a falecer pouco depois de eu ter completado um ano.
Homem de grande porte (acaba de me ocorrer onde foi o meu filho buscar o gene da altura) e de poucas falas. Segundo sei, a minha mãe recebeu uma educação ríspida e o único toque físico que lhe era permitido, em criança, era colocar os pés em cima dos pés do meu avô, mãos em posição de dança e rodopiavam ambos como que bailando…
O meu avô tinha um talho no centro do Porto onde, além dele, trabalhavam a minha avó e a minha mãe. Vida dura, com início na madrugada de cada um dos seis dias da semana em que o talho estava aberto. O Domingo era o único dia de descanso.
Para ele, nada estava acima ou à frente dos clientes.
O seu mau feitio era uma constante – há, inclusivamente, uma história de faca apontada à minha avó e à minha mãe!
Já depois de a minha mãe se ter casado, esteve a milímetros de levar um estalo dele porque, por brincadeira, acendeu um cigarro ao meu pai.
E eis que eu nasço, viro do avesso o mundo do meu avô, passando a ser a sua única prioridade e a sua ocupação a tempo inteiro!
Naquele talho, passa a ouvir-se a toda a hora “os clientes que esperem” “não me interrompam que estou a brincar com a menina” “agora não posso que vou dar o biberão à menina” “segura na menina na montra que vou por fora do vidro fazer-lhe caretas” ” Arminda, coze uma moela para a menina” “Esta carne não é para vender, é para a sopa da menina” “Pouco barulho que a menina já dorme”, etc, etc, etc…
É nesta altura que entra em cena o Armando – moçoilo novo contratado para ajudar no talho!
Mal sabia o Armando (a quem eu só conheço de fotografia) que iria ser o bombo da festa… espero que ele a esta hora tenha perdoado o meu avô.
“diz ao Armando vai foder-te” e eu dizia “ó Amando bai fode-te”
“diz uma puta ao Armando” e eu dizia “ó Amando ‘ma puta”
“diz ao Armando um caralho” e eu dizia “ó Amando um caialho”
E assim reza uma pequena história de como um homem ríspido e frio se torna, quase da noite para o dia, no avô carinhoso do qual, infelizmente, não tenho nenhuma memória ou recordação mas que me deixou, em herança, o gene dos impropérios…
Laura, esta crónica para além de excelente fez-me andar 20 anos no tempo, é que que também a minha filha tem uma história semelhante, desde os impróprios!!!ao mimo, desde estar num talho o dia inteiro, a correr as vendedoras de frutas que existiam no mercado municipal(não é por ser minha filha mas era uma boneca!!!)daí que só posso dizer que adoreiiiiiiiiiiiiii Laura, magnifica esta linda história onde se pode constatar que nunca é tarde para amar…lá vai ao encontro do que tenho dito,pode ser na Ultima Etapa mas fica sempre algo valioso e magnifico para recordar! Beijinhos
Minha amiga Aida…
há coincidências fantásticas!
E coisas que marcam uma vida… Infelizmente não tenho, mesmo, qualquer recordação – apenas sei o que a minha mãe me conta!
Obrigada pelo seu comentário!
Beijinhos
Ainda me lembro quando era giro ensinar asneiras às crianças (sendo eu a criança neste caso)… Agora quando tento ensinar qualquer coisa menos correcta aos meus sobrinhos sou logo repreendido pelos meus pais e irmãos… Tristeza pá! eheh Bela crónica Laura =)
Olá Gil,
Obrigada pelo seu comentário!
Confesso que acho imensa piada mas quando o tentaram fazer com o meu filho, a coisa não correu assim tão bem eheheh
Giro, giro é ouvir asneiras ditas pelos filhos dos outros – essa é que á a verdade!
Um abraço
Grande crónica Laura, que recordações.
Gil eu passo o mesmo com a minha sobrinha e com a minha afilhada. Tenta o seguinte, comigo resultou:
Ensinas em Inglês
Se mesmo assim os pais toparem e caírem em cima de ti, há outras soluções, por exemplo pões a ouvir Rage against the machine.
Foi épico a minha afilhada com 4 anos a gritar:
“Fuck you I wont do what you told me” (algo que soava a isso, lol, mas o Fuch you saia na perfeição) lol
Olá Miguel!!!
Essa é de mestre! Até porque, em inglês, tudo soa muito melhor…
Mas olhe que em alemão também não será mal pensado – até porque, para mim, em alemão tudo soa a asneira!
Merkel, por exemplo… consigo associar a esta palavra uma data de palavrões!
Continue assim e um dia, quando tiver um rebento, vai ver que pimenta no rabo dos outros, é refresco eheheh
Um abraço!
Essa do gene dos impropérios! Haha, vai-te f… ( bjs foi carinho gostei)
Obrigada pelo seu comentário, Carlos!