« O amor é uma cabana… »

Quando apresentei ao meu irmão aquele que foi o amor da minha vida, numa noite fulgurante de copos, amigos e diversão descomprometida, ele disse-me a dada altura da noite:
– “Sabes, irmão, guarda esta mulher… porque alguém que olha para ti, como ela olha, quando tu não estás a olhar de volta… bem, isso é amor, meu irmão!”
Sempre fui um pragmático, nestas coisas do amor, apesar de ser um incurável romântico (por incrível que pareça, ambos podem coexistir)!
Por isso, na opinião deste vosso camarada cronista, o amor é uma cabana, facilmente “soprável” por um qualquer lobo… O que, realmente, nos torna unos com outrem é tudo o resto!
Se considerarmos um foguetão, como figura análoga de um relacionamento monogâmico, o amor seria o combustível e a relação seria tudo o que esse combustível projecta para o espaço.
É o amor que nos move, há quem diga, mas o que segura e delonga no tempo uma relação é o entendimento e a cumplicidade entre duas pessoas. E essas duas componentes são o que de mais bonito há nas relações interpessoais, sejam elas amorosas ou não.
Aquela frase, aquela piada, aquele momento, aquele filme, que ambos gritam e gargalham num olhar mudo de cumplicidade e entendimento perfeito…
Aquele cheiro, aquele gesto, aquele olhar, aquele defeito irritante que nós simplesmente já não passamos sem…
O amor, meus amigos, é um substantivo! Agora, duas pessoas que fazem cedências de parte-a-parte, diariamente, com o fim de elevar o objetivo comum, sobrepondo-o aos objetivos individuais? Isso sim, é um sentimento!
Um sentimento que parte de uma vontade mútua de partilhar experiências de vida com outrem… Seja pelo mero conforto de nos sentirmos acompanhados, seja pelo contexto sociocultural que nos é incutido, de que fomos feitos para casar e procriar monogamamente… Seja apenas pelo simples facto de amarmos, de facto, alguém ao ponto de querermos estar a seu lado até ao fim dos nossos dias…
Todas elas são válidas, todas elas se cruzam.
Porque, ao olharmos para trás no final das nossas vidas, pouco interessarão as causas, as razões… interessar-nos-á saber se a cabana aguentou todos os sopros dos lobos-maus que a vida nos atirou à porta da entrada!
O Amor pode até ser apenas uma cabana, mas por muito fraca que seja, essa cabana protege do frio, da chuva e do desconhecido! Por isso, façamos cabanas, meus amigos… façamos cabanas!