” O amor que sinto agora” – o livro

Sou uma apaixonada por livros! Acho que os leitores que me acompanham já perceberam essa qualidade intrínseca em mim: foi incutido em mim ler bons livros desde pequena através do meu pai ausente e, desde então que eles me têm acompanhado nesta jornada, ora difícil, ora prazerosa, que é a vida.

Eu costumo dizer que são os livros que me escolhem e não o contrario, e este de que vou escrever não é excepção, ” O amor que sinto agora “, ouvi este titulo há dois anos numa aula de literatura e apontei logo no caderno ( ah…eu e os meus 1000 apontamentos ) comprei alguns meses depois e alguns ( longos ) meses depois finalmente li o livro, a verdade é que, sem querer parecer muito dramática nem muito espiritual, eu tinha esta preciosidade na estante à beira das dezenas de livros que ainda quero ler ( se a vida me permitir ), da estante subiu de posto para a mesa de cabeceira e, destino final: para a minha mala. A minha voz interior dizia-me “Sandra, pega no livro, vai ser importante para ti” e assim o fiz, respeitei a minha voz interior ( devia fazê-lo mais vezes…) e li o livro em cinco dias.

” O amor que sinto agora “ não é a típica historia de amor entre um príncipe e uma princesa, não é um conto de fadas com um final feliz, é um livro sobre o amor próprio, sobre as tentativas frustradas que o ser humano faz ao longo da vida para tentar perdoar o outro e perdoar-se a si próprio, é as inúmeras viagens dentro de si mesmo que o homem faz para tentar perceber o seu lugar no mundo, a validade que a sua vida terá e o que afinal significa o amor.

Tenho por hábito pesquisar sobre os livros e respectivos autores após a leitura dos mesmos, sou uma curiosa acerca do que moveu os escritores a escreverem aquela historia, aqueles temas em determinados momentos da vida ( como Fernando Pessoa que escreveu trinta e tal poemas de uma rajada, de pé numa cómoda, numa noite memorável de êxtase literário fazendo nascer Alberto Caeiro ) Leila Ferreira é a autora deste livro magistral, jornalista, apresentadora e colaboradora de vários jornais e revistas no Brasil, actualmente faz palestras sobre os temas dos seus inúmeros livros – felicidade, amor, humanidade… – pelo seu país. Este livro foi o primeiro a ser publicado em Portugal.

Ana, a protagonista da historia, escreve à sua mãe que morreu há quatro anos, deixando para trás uma vida de miséria conjugal, infelicidade, violência física e psicológica, esta mãe que é o espelho de tantas mães que conhecemos, deixou os seus sonhos presos numa gaveta para sempre e projectou na sua única filha, Ana tinha cinco irmãos, a felicidade que nunca sentiu, o fardo é obviamente pesado para qualquer um e ainda mais para quem teve uma infância extremamente difícil como Ana teve. A mãe deixou uma carta para a filha ler após a sua morte e esta leitura é o principio da viagem espiritual, emocional e geográfica que Ana fará para perceber o seu lugar no mundo e, sobretudo, quebrar o luto das mulheres da sua família – mãe, avó, bisavó – que viveram enclausuradas nas suas tristes vidas.

À medida que ia folheando o livro o meu coração desmanchava-se, tive de me conter para não chorar, li a maior parte do livro em espaços públicos ( recomendo o Boa nota – Natural food e a Padaria Ribeiro, ambas no Porto para leituras prazerosas de livros acompanhadas de um bom café ), chorar enquanto leio um livro não seria novidade para mim mas certamente para as pessoas desconhecidas que estavam na mesa ao lado seria caricato. O tormento desta mãe, desta filha, desta avó, é palpável através das palavras, ficamos sem ar, sem chão, sem querer ler mas relendo novamente as palavras sofridas, há vidas que se antevêem assustadoramente penosas, quebrar um ciclo de gerações de mulheres infelizes é quebrar raízes familiares que, embora não tenham acontecido por acaso, já não faz sentido continuarem dentro da nossa cabeça e do nosso coração.

Um livro monstruosamente soberbo, inspirador e de certa forma reconfortante, não estamos sozinhas nesta luta desigual da alma, vamos sempre a tempo de ser felizes.

” Dizes na carta que Deus se ri da ingenuidade das mães que têm a pretensão de preservar os filhos do sofrimento. Deus não ri, Ele entende. “