O Avante…

Muito possivelmente, a festa do Avante é o único local no qual todos se sentem comunistas, mesmo aqueles que não o são. Paralelamente, é também o local no qual os comunistas demonstram toda a relatividade da sua ideologia. O Avante é tudo e nada ao mesmo tempo; é um local cheio de dança, música e expressão artística e um vazio de ideias políticas. Apenas as utopias são palavras de ordem…

Seria de todo injusto menosprezar a importância e validade desta festa. O slogan “Não existe festa como esta” foi bem escolhido e não me parece de todo enganador. Quem participa gosta e não esquece; quem participa ouve e aplaude Jerónimo com vigor (mesmo não sendo comunista); quem participa abraça a comunhão da sandes de panado e do copo de cerveja. É certamente a altura e local do ano em que existem mais t-shirt’s do Che Guevara por metro quadrado. “Hasta la vitoria siempre!” dizem alguns com o Big Mac na mão! É a globalização, é o capitalismo feroz e desumano a penetrar pelas redondezas da Quinta da Atalaia.

Toda esta pluralidade artística e cultural contrasta de forma gritante com o pensamento, por exemplo, do camarada “Che” que proibiu a música de inspiração anglo-saxónica em Cuba. Há contradições na vida e, caro leitor, haverá melhor local que o Avante para explorar essas mesmas contradições? Estamos contudo já a entrar por campos polémicos demais e isso não se faz em “dia de festa”!

Enquanto fenómeno cultural e de comunhão, a Festa do Avante encerra momentos únicos de partilha. Não deixa de ser porém irónico que grande parte dos frequentadores da mesma não façam a mais pequena ideia dos pilares da ideologia que a sustenta assim como do historial pouco abonatório em termos de aceitação de pluralidades e tolerâncias. Por outro lado, os comunistas ferrenhos, que tatuam a ferro e fogo a foice e o martelo nas costas, têm na Festa do Avante a única hipótese de ver parte da sua utopia concretizada. Por pouco tempo é certo mas pelo menos para já, e para bem de todos, parecem estar satisfeitos.

É caso para dizer “Avante Camarada!!!”, apenas não sabemos muito bem para onde. Não sabemos o que é o comunismo de hoje, mas sabemos muito bem o que foi o comunismo de ontem. Se é verdade que o comunismo de hoje é contra o facto de Portugal estar no euro e na UE, é contra o facto de estarmos subordinados aos “grandes senhores do dinheiro” (seja lá o que isso for) não deixa de ser também verdade que não nos apresentam alternativas minimamente credíveis para voltarmos a arriscar seguir um caminho que a história, por mais que muitas vezes, provou ser muito perigoso.