O avião da Malaysia Airlines na Ucrânia, a Rússia e … o Correio da Manhã!

Em menos de meio ano, a Malaysia Airlines perde dois aparelhos, cheios de passageiros. Creio que todos nós conseguimos concluir que esta companhia dificilmente sobreviverá a 2014. E, supostamente, a culpa dos dois “acidentes” nem é da companhia nem de ninguém relacionado com ela.

O último foi apanhado por um míssil quando atravessava o espaço aéreo ucraniano, diz a comunicação social, citando fontes dos serviços secretos americanos. E se assim foi, de onde veio o tal míssil? O governo de Kiev diz que foram as milícias pró-russas. As milícias pró-russas disseram, inicialmente, que tinha sido o exército ucraniano, mas mais tarde acabaram por reivindicar o ataque, justificando o acto com uma suposta invasão de espaço aéreo. Para contextualizar, estas milícias controlam a zona onde o avião caiu, as regiões de Donetsk e Lugansk, no Leste da Ucrânia.

Isto torna o caso complicado, em termos diplomáticos, para a Rússia. Apesar das milícias serem formadas maioritariamente por ucranianos que se insurgiram contra o seu próprio governo,  eram tacitamente apoiados pela Rússia, como forma de pressão sobre o governo de Kiev, se programava afastar-se de Moscovo e aproximar-se da União Europeia. E é tão evidente que nem vale a pena os russos negarem, que ninguém acredita. Assim, fica difícil para Moscovo justificar como permitiu esta tragédia, como deixou que mercenários por si “alimentados” abatessem uma aeronave comercial da Malásia, com 298 civis a bordo, de várias nacionalidades. Uma terrível tragédia em plena Europa. Pior: como é que a Rússia não só ainda não se ofereceu para ajudar a apurar o que aconteceu bem perto da sua fronteira, como se mantém impávida e serena enquanto os referidos mercenários remexem em tudo, desde corpos a destroços, e impedem os especialistas de chegar ao local? Veremos nos próximos dias como evolui esta crise diplomática para os lados de Moscovo.

Entretanto, há em Portugal quem queira fazer negócio com a necromania (que, para quem não sabe, é o prazer mórbido de contemplar cadáveres) de alguns, sem qualquer respeito pelos leitores, primeiro, e pelas vitimas e suas famílias depois. Falo do Correio da Manhã e do Diário de Notícias. Estas publicações da Cofina e Controlinveste, respectivamente, decidiram colocar na capa fotos desta grande tragédia, em que mostram claramente (mais a do Correio da Manhã do que a do Diário de Notícias) vários cadáveres no meio dos destroços.
A televisão também mostrou imagens, mas aí os pivots de noticiários avisam as pessoas de que as imagens que se seguem podem chocar os espectadores mais sensíveis e há tempo de se mudar de canal, especialmente se existirem crianças a ver. Mas na capa de um jornal, pendurado na parede ou pousando na banca de uma tabacaria ou numa mesa de café, como se evita o choque? Como se evita que qualquer pessoa, seja criança ou não, mais sensível não veja acidentalmente aquilo? Não dá.  Infelizmente. “Shame on you”, CM e DN.

Crónica de João Cerveira

Diz que…