“O Captain! My Captain!” – Robin Williams

Trago hoje uma homenagem muito especial, um homem que dispensa apresentações e que de certa forma se liga com a nossa vida, e para alguns de nós à nossa infância. Não só vamos percorrer a sua história como apontar os seus 7 filmes obrigatórios. Senhoras e Senhores Robin Williams…

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Podemos afirmar de facto que o percurso de Robin Williams marcou gerações inteiras, especialmente para quem nasceu perto do fim da década de 80 ou inícios dos anos 90. Robin Williams rima com essas duas décadas embora a sua pegada tenha sido muito maior não só no cinema como na televisão e na comédia em geral.

Nascido a 21 Julho de 1951 em Chicago, Robin Williams frequentou a Juilliard School, uma escola dedicada à música e às artes cénicas. Foi ai que conheceu um dos seus grandes amigos e também já falecido Christopher Reeve (sim, o “Super-Homem”). Ganhou alguma fama com os seus números de stand-up o que lhe deram algum arranque para uma carreira mais bem-sucedida, primeiro na televisão com series The Richard Pryor Show ou Mork & Mindy, esta ultima no papel principal. Foi em 1977 que se estreou no grande ecrã com Can I Do It ‘Till I Need Glasses?, uma comédia pouco conhecida mas que marca por ter sido a primeira experiência de Williams no cinema.

É nos anos 80 que o verdadeiro talento de Robin Williams se torna presença activa no grande ecrã. Filmes como Popeye (1980), O Estranho Mundo de Garp (1982) e Um Russo em Nova Iorque (1984) dão a oportunidade ao actor de experimentar todo um leque de papéis solidificando a sua flexibilidade e a sua mestria na comédia e na representação em geral. É com a segunda metade da década de 80 que podemos afirmar que a era de ouro de Robin Williams começa algures com Bom Dia, Vietname (1987) e se prolonga muito além do seu tempo e da sua inesperada morte com sucessos como O Clube dos Poetas Mortos (1989), onde teve a oportunidade de representar uma personagem com um humor mais catedrático e com uma boa dose de drama. Seguem-se Hook (1991), Aladino (1992), Mrs. Doubtfire (1993) e  Jumanji (1995) culminando a década de 90 com O Bom Rebelde (1997) e Patch Adams (1998), entre outros.

Foi nomeado para os óscares 4 vezes, mas apenas ganhou um com O Bom Rebelde (1997), na categoria de melhor actor secundário, recebeu ainda os mais variados prémios como o Globo de Ouro, estatueta esta que levou para casa em varias ocasiões pelos seus papéis nos anos 80 e 90.

Embora a vida no grande ecrã tenha continuado para lá do ano 2000 assumiu um tom mais dramático salvo algumas excepções mais assinaláveis como como À Noite, no Museu (2006). Câmara Indiscreta (2002) e Insónia (2002) mostraram uma representação mais dramática e séria por parte do autor.

Embora portador de uma carreira cheia e de uma boa disposição contagiante, Robin Williams enfrentou as mais duras batalhas na sua vida. O álcool e as drogas (principalmente a cocaína) foram um fantasma bastante presente, levando-o a várias tentativas de reabilitação. O seu primeiro de três casamentos foi marcado por uma relação extraconjugal com uma empregada de um bar. Williams teve 3 filhos: Zachary, Zelda e Cody, os dois últimos da sua segunda mulher, Marsha Garces.

Abraçou as mais variadas causas humanitárias e parece ter sido um grande amigo do seu amigo, tal como podemos verificar na sua amizade com Christopher Reeve, a quem pagou muitos dos tratamentos e animou o actor depois da problemática queda a cavalo que deixou o eterno “Super-Homem” tetraplégico.

Robin Williams pode ter tido uma vida pessoal por vezes controversa, no entanto brilhou na sua vida profissional. Nas suas aparições em público, e mesmo nas fases mais difíceis da sua vida, nunca deixou ninguém sem um sorriso no rosto e nada fazia prever por isso que de certo modo havia uma mascara a esconder as cicatrizes das inúmeras batalhas. Mais uma vez se parece provar que as pessoas que mais fazem rir são as mais infelizes.

É com enorme tristeza e de uma certa incompreensão que vimos partir uma das figuras incontornáveis das últimas décadas. É preciso consciencializar para o grave fantasma que é a depressão e até que ponto pode levar a situações graves como o suicídio, que se veio a verificar no caso de Robin Williams. É ainda importante perceber que os actores e artista no geral são seres humanos como outro qualquer, embora essa consciencialização venha sempre tarde de mais.

E agora, e porque é esta a Sétima Arte, aqui estão os sete filmes obrigatórios para conhecer o trabalho de Robin Williams, organizados sem grande critério a não ser a qualidade e a sua ligação com a memória colectiva e pessoal de todos nós…

7. Hook (1991)

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Podíamos inserir este filme na categoria irónica de “Filmes que Nunca passaram na televisão”. Seria uma mentira pouco elaborada mas não nos importaríamos se amanhã voltassem a repeti-lo. Este filme tem um pé na infância de muita gente e fala também sobre essa infância perdida para alguns e reencontrada para outros. Robin Williams é um “Peter Pan” crescido e amnésico em relação ao imaginário da Terra do Nunca. Aqui o actor tem a oportunidade de representar um papel de quase bipolaridade que salta entre o pai responsável e a criança que há em todos nós. É um filme acessível a toda a família e com um elenco de luxo que inclui Dustin Hoffman, Bob Hoskins, Maggie Smith e Julia Roberts.

6. Mrs. Doubtfire (1993)

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Em português Papá para Sempre (a glória da tradução portuguesa). Este já não é um filme “de família” mas sim um filme “sobre família” e especialmente sobre um pai que se mascara de empregada para puder passar tempo com os seus filhos. É um filme sobre a dor do divórcio mas é também um papel importante para Williams que vê uma oportunidade para explorar tanto o drama como a comédia. O resultado é fantástico num filme que é para rir e também para chorar, mas não deixa de ter a sua lição de vida. O filme conta com Sally Field e Pierce Brosnan.

5. Insomnia (2002)

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Eis o primeiro filme na lista que pouco tem de comédia. É talvez o mais serio de todos e põe lado a lado Robin Williams e Al Pacino. Aqui Williams representa um dos seus papéis mais dramáticos e controladores da sua carreira, e faz isto sem qualquer sinal de que a comédia lhe corre nas veias. É uma caça ao homem bem ao estilo de Christopher Nolan e um filme imperdível num percurso mais sombrio e dramático na carreira de Williams.

4. Good Morning Vietnam (1987)

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Um filme sobre o choque cultural, a liberdade de imprensa, rádio e a história ainda recente dos EUA. Aqui Williams faz o que sempre conseguiu fazer: comédia, com algumas doses de improviso e com 30g de drama. Um outro lado da Guerra do Vietnam…

3. Alladin (1992)

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Uma das personagens mais improvisadas da animação, o Génio de Aladino continua a ser um dos papéis mais reconhecidos do actor. O talento de Robin Williams era tanto que lhe foi permitido fugir do guião e criar as suas próprias falas. É a entrada animada da nossa lista que lhe valeu um Globo de Ouro.

2. Dead Poets Society (1989)

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Talvez um dos filmes mais emblemáticos e de culto da lista. O Clube dos Poetas Mortos é um filme sobre a vida no geral. Ensina-nos a lutar pelos nossos sonhos, a fugir da rotina e do ensino rígido e por vezes forçado por interesses alheios aos nossos. A personagens de Williams é importante, não só para a historia mas para todos nós, ensina-nos desfrutar do lado poético e literário da vida, e de certo modo da adolescência em geral. É também um filme para reflectir e deve ser obrigatório para todos, independentemente da idade.

1. Good Will Hunting (1997)

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O Bom Rebelde, é o único filme que valeu um óscar de melhor actor secundário a Williams. Este é o papel derradeiro para a academia e é perceptível o porquê. Na sua busca para ajudar Will Hunting (Matt Damon), a personagem de Robin Williams, um psicólogo, vai embarcar numa viagem tanto pelos problemas inacabados na sua mente, nomeadamente a morte da sua mulher, como pelos problemas psicológicos de Will, um jovem que embora com uma mente brilhante para a Matemática se recusa a aproveitar essas habilidades vivendo uma vida baseada num certo egocentrismo.

O papel de Williams é até certo ponto depressivo, mas tem momentos de brilhantismo e algum humor. É nesta luta interior que a personagem se destaca, e o actor se transforma com ela. É bastante interessante constatar que o único óscar de Williams não é num papel cómico, mas a vida de Williams teve o seu grau de ironias…

É com esta homenagem que nos despedimos de Robin Williams, embora seja sempre um “Até já!” ao jeito de “O Captain! My Captain!” dito em cima de uma qualquer cadeira e se possível no sítio mais desapropriado pelos padrões da sociedade. É um “Até já!”, uma despedida que nunca o foi e que será aliviada cada vez que o “génio” (animado ou em carne e osso) aparecer na televisão e nos fizer rir ou chorar (depende do filme, claro!).

“Não importa os que as pessoas te digam, palavras e ideias podem mudar o mundo”, Robin Williams