O Carnaval já não é o que era…

Ora viva!

Hoje trago-vos uma crónica muito ao jeito do meu colega, Sérgio Martins. Uma crónica saudosista que relembra os “bons velhos tempos” de quando eu era apenas uma criança. Uma criança que adorava brincar ao Carnaval!

Hoje em dia já não se brinca ao Carnaval. É certo que (algumas) crianças continuam a mascarar-se, que ainda existe a tradição do corso carnavalescos, e o seu q.b. de bailes de mascarados. Mas a dura realidade é que as brincadeiras de Carnaval são praticamente inexistentes hoje em dia.

A maior prova disso é que ainda hoje (véspera do dia de Carnaval) consegui atravessar um dos maiores parques de Setúbal sem sequer ver uma rapariga levar com um balão de água, um puto a atirar bombinhas para o chão e, muito menos, algum pseudo-adolescente com uma queimadura de 2º grau nas mãos, devido ao mau uso de castanholas. Algo que eu considero inadmissível!!

Longe vão os tempos em que eu, um fã incondicional do Carnaval, preparava esta festividade. Um mês antes já andava a fazer stock de balões de água, foguetes, estalinhos, bombas de mau-cheiro e outros tantos produtos específicos desta época. As raparigas tremiam só de pensar que estava a chegar o Carnaval. As lojas enchiam-se de crianças que queriam comprar material para “a festança”. As mães paravam de comprar ovos, duas semanas antes, não fosse o diabo tecê-las (e tecia mesmo… Ui se tecia…) E os pais ameaçavam ensaios de porrada, aos filhos, caso se magoassem. Até os miúdos totós saiam a ganhar com o Carnaval! (Era certo e sabido que quando chegasse a altura, só para não levarem com um balão de água, as miúdas que regra geral não ligavam patavina a eles acabariam por lhes pedir guarida). Na cabeça das raparigas o facto de estarem acompanhadas (o mais juntinho possível) de alguém era o suficiente para não chegarem a casa completamente encharcadas. O que, diga-se de passagem, por vezes até era. Mas outras… Aquelas outras vezes em que o puto totó que estava junto delas, ou a velha razinga que lhes dava a mão, não impedia o ataque é que fazia tudo valer a pena…

«VIIIIIINNHEEEEUUUU… PLOFTT!» Um balão em cheio da miúda. 100 pontos para o atirador. Éramos autênticos Snipers do balão de água. E mesmo que acertássemos na velha, ou no puto, também não importava nada. Eram danos colaterais. Eles sabiam no que se estavam a meter quando decidiram dar abrigo ao alvo!

Havia outras alturas em que optávamos por não atirar o balão à distância. Queríamos mais… Ansiávamos pelo perigo. Aproximava-mo-nos dos alvos, e rebentávamos o dito cujo, em cheio, em cima delas. Quer fosse na cabeça, no rabo, ou nos seios. Era um género de diversão infantil aliada a safadice de adolescente. Com sorte conseguiríamos um 2 em 1, molhávamos o alvo e ainda tocávamos, ao de leve, num mamilo. O que era o auge para alguém que ainda nem pêlos púbicos tinha!

Existiam ainda as brincadeiras já a puxar para a delinquência juvenil: atirar bombas de mau-cheiro dentro da sala de aula; arremessar ovos em direcção aquele vizinho que tanto detestávamos, encher sacos de plástico, com água, e atirar janela a baixo, à primeira pessoa que passasse na rua… Tudo era divertido, tudo era perigoso, tudo era Carnaval!

Para além das tropelias delinquentes e dos malfadados balões de água existia ainda as brincadeiras de Homem! Aquelas brincadeiras que as crianças (normalmente os rapazes) faziam para mostrarem que eram mais fortes que os outros. Que eram aqueles que os outros deviam temer e respeitar. Entre elas tínhamos: o arremesso de bombas de mau-cheiro dentro sala de aula; acender e largar mini-dinamites, TNT’s e outros que tais nos lugares mais inusitados; chocalhar castanholas nas mãos (as castanholas, para quem não sabe, é um género de cabeças de fósforo gigantes que se roçam nas paredes e depois se abanam enquanto se ouve «SPAHH, PAH, PAH, TA, PTEPAH, SPAHH» depois larga-se quando já não aguentamos mais) e atirar bombas artesanais. (Estas eram as que eu tanto gostava de fazer: uma vela de um carro, várias cabeças de fósforo esmagadas e um saco plástico. Juntava-se tudo, atirava-se ao ar e esperava-se que quando caí-se fizesse um enorme «KABUMMMM» capaz de acordar a vizinhança toda. Às vezes funcionava outras nem por isso mas o que importava era que éramos maus o suficiente para tentar.)

Hoje em dia já nada disto acontece. Atravessei aquele parque sem ver uma única criança a atirar bombinhas, não vi nem um sinal de um estalinho no chão, não vi nenhuma rapariga a levar com um balão de água… E pior!! Não havia sequer sinais de já terem sido arremessados balões naquele parque. E isto entristeceu-me… Será que a tradição já não é o que era? Será que o preço dos balões tornou estas brincadeiras assim tão impeditivas? Caramba, antigamente também era caro. Mas eu comprava. Nem que tivesse de deixar de lanchar para poder comprar… Comprava! Enchia! E atirava! Isto sim eram tempos. Isto sim era animação.

Crianças de Portugal, oiçam bem com atenção! (Agora até parecia que ia começar a cantar uma música do Emanuel): Larguem os vossos Smartphones, IPhones, Mp3 player, tablets e tudo mais. Vão à papelaria/supermercado/barraquinha mais próxima e comprem balões de água. Encham-nos e atirem à primeira pessoa que vos passar à frente, vocês vão ver que a vossa vida nunca mais será a mesma… Especialmente se a primeira pessoa que vos passar à frente for um polícia. (Mas isso agora não interessa para nada!) Até porque é Carnaval e ninguém leva a mal!