O concretizar de um sonho! (Ou terá sido antes um mini-pesadelo…)

“Nunca desistas dos teus sonhos!” é uma frase que ouvimos com muita frequência assim que começamos a criar objectivos de vida. E, na verdade, trata-se de muito mais do que uma simples frase: trata-se de um lema de vida que todos nós deveríamos adoptar desde muito novos. Mas, claro, o caminho para alcançarmos os nossos sonhos é, quase sempre na sua maioria, bastante longo e tortuoso. O que nos leva a desistir muitas vezes a meio do percurso…

Eu tenho, como a maior parte dos seres humanos que habitam neste planeta, vários sonhos para concretizar na minha ainda curta vida (estou, sensivelmente, a uma semana e troca o passo de fazer 33 anos, por isso deixem-me lá continuar a iludir-me de que sou ainda um jovem com uma vida inteira pela frente, ok? Obrigado…). E um desses sonhos foi concretizado no passado domingo.

(Para as mais mentes mais pornográficas que estão a ler esta crónica, não, eu não fiz um ménage à trois com duas mulheres. Mas esse dia há-de chegar, pois ainda sou um jovem, certo…? Isso…)

Finalmente, e depois de batalhar muito para que tal viesse a realizar-se, consegui ter algo escrito por mim estampado nas páginas de um livro. O que para muitos pode tratar-se de algo insignificante e sem sentido nenhum, para mim foi como ganhar uma espécie de mini-Euromilhões. Depois de tanto tempo a escrever crónicas e contos para plataformas Online, conseguir pegar num livro, folheá-lo e encontrar um amontoado de palavras escritas por mim, é uma sensação única no mundo. Posso não ter enriquecido a conta bancária, mas o meu espírito sentiu-se a ser banhado em ouro – e isso, muito sinceramente, é muito melhor do que qualquer quantia monetária.

Mas nem tudo foi um mar de rosas. Apesar de estar a viver um pequeno sonho, o dia da apresentação do livro foi um dos dias mais complicados da minha vida…

A apresentação realizou-se num hotel em Lisboa. Eu estava em pulgas para chegar ao hotel porque seria aí que iria ter o primeiro contacto físico com o livro. Entrei no hotel com uma camada de ansiedade tal que mais parecia que estava a entrar numa sala de partos e que a minha esposa estava prestes a ter o nosso bebé – o que, na verdade, não deixa de ter um pingo de verdade, visto que posso considerar aquele livro (ou mais propriamente o conto que escrevi…) como o “meu bebezinho”… Lembro-me de me dirigir a uma espécie de bancada que estava à porta da sala de eventos do hotel, onde estava o livro em exposição, e de, de uma forma inocentemente pretensiosa, dizer alto e em bom som para todos ouvirem: “Boa tarde! Eu sou um dos autores deste livro! Chamo-me Ricardo Espada e quero o meu livro!” Eu, infelizmente, quando estou ansioso torno-me automaticamente numa besta incontrolável… O que vale é que a senhora que estava a entregar os livros percebeu imediatamente que eu estava numa pilha de nervos, e respondeu-me com um sorriso amistoso, entregando-me de seguida a minha cópia do livro. Recolhi o livro e apressei-me a entrar na sala onde iria decorrer a apresentação. Só depois de me sentar é que me apercebi que tinha deixado a minha namorada lá fora, à minha procura, porque tinha ido à casa-de-banho e quando regressou não me encontrou… Volto a frisar que, infelizmente, quando estou ansioso torno-me automaticamente numa besta incontrolável.

Minutos mais tarde deu-se início à apresentação do livro, e eu estava tão feliz por estar a viver aquele momento com que tanto sonhei na minha vida, que não parava de sorrir. Até que, a dada altura, o editor que estava a apresentar o livro lembra-se de proferir as seguintes e aterradoras palavras: “Bom, agora eu gostaria de chamar aqui um a um todos os autores do livro, para falarem um pouco sobre o seu conto…”

E eu parei de sorrir. O meu coração começou a bater de uma forma descontrolada e suores frios invadiram-me o corpo. Eu teria de ir falar para uma plateia inteira sobre o que tinha escrito… Estava tramado. Pensei em inventar que teria de ir à casa-de-banho e não mais voltar, mas a minha namorada disse-me imediatamente que, se eu me levantasse daquela cadeira sem ser para ir falar para a plateia, eu nunca mais teria sexo na vida. Fiquei sem perceber se ela se estava a referir a abstinência sexual, ou que me iria cortar algo numa noite destas durante o sono. Pelo sim, pelo não, optei por ficar sossegado no meu lugar…

Os autores iam sendo chamados um a um e eu tremia que nem varas verdes… A dada altura, chega a vez de uma autora falar sobre o seu conto, que era baseado numa história verídica que envolvia o facto de ela quase ter perdido o seu filho… e a sala inteira caiu num ambiente pesado, de drama intenso que me levou quase às lágrimas (que talvez teriam origem nos nervos que sentia naquele momento…). E logo a seguir, ouço o meu nome ser chamado…

Não me consegui mover da cadeira. Fiquei estagnado. Não fosse a minha namorada me ter dado um beliscão, e a esta hora ainda lá estaria sentado, em pânico. Levantei-me num pulo, e automaticamente toda a sala começa a bater palmas. Não fui capaz de olhar para trás, e segui cabisbaixo enquanto me dirigia para a zona onde iria ter de falar um pouco sobre o meu conto. Cumprimento as pessoas que estavam a apresentar o livro com um aperto de mão, e vejo imediatamente nas suas caras que se aperceberam o quão suadas estavam as minhas mãos — pois fizeram ambos a típica expressão facial de quem tinha acabado de comer marisco estragado. Peguei no microfone com a mão direita e segurei o livro com a mão esquerda e enfrento toda a plateia que preenchia a sala… e entrei em pânico.

A sala estava repleta de pessoas! Sentado de costas para todas aquelas pessoas, eu não tinha noção do quão imensa era aquela plateia. Foi assustador ver a cara daquelas pessoas a olhar para mim. Mas, para minha total surpresa, as palavras começaram a sair-me da boca como se as minhas cordas vocais tivessem vida própria e tivessem pensado “vamos lá desenrascar isto que este mariquinhas está em pânico!”. Não falei muito, mas falei… E fiz aquilo que normalmente faço quando estou em apuros: torno-me numa espécie de palhacinho careca e pitosga, e termino o meu discurso da pior maneira.

Tentando explicar que tinha sido algo complicado reduzir um conto a apenas 1500 caracteres — que era o número permitido para cada conto — , decido dizer o seguinte:

“Bom, eu queria acrescentar que, para mim, foi muito difícil conseguir escrever este conto com apenas 1500 caracteres, visto que eu sofro daquilo que se pode chamar de incontinência…”

E bloqueei. Simplesmente deu-me uma branca, e fico ali a olhar para toda aquela plateia que olhava para mim com aquela típica expressão de pesar, como quem pensa: “Oh, coitadinho… Tão novo, e já sofre de incontinência…”

Foram os cinco segundos mais longos da minha vida, em que senti as pernas a fraquejar, o suor a escorrer-me pela testa abaixo, e o coração a bater a um ritmo assustador. Mas, graças a Deus, e sabe-se lá como, fez-se luz na minha mente e eu termino a frase, dizendo “…literária! Eu sofro de incontinência literária!”

E a plateia explode em gargalhadas histéricas. Eu acho que todas as pessoas partilharam aquele momento desconfortável comigo, e estavam elas quase a desmaiar de desespero, devido à minha branca. E aquela explosão de gargalhadas foi a forma de elas se libertarem do sufoco em que estavam. Regressei à minha cadeira debaixo de gargalhadas e aplausos.

Aplausos, pessoal… A sério… eu ainda nem posso crer que isso realmente aconteceu…

Isto é que é uma “Vida de Cão”, hem…