O Conto do Vigário – Mi Céu

Atrevo-me a dizer que, este termo é quase tão antigo, como a humanidade…e infelizmente existem práticas que o confirmam, que não se fica apenas por uma expressão pouco categórica ou que relembremos com pouco motivo de orgulho!

Quem nunca passou por uma situação de ser literalmente enganada, ou como se diz em linguagem popular, já com rugas o célebre insano desnaturado “conto do vigário”?
Esta semana, vivi, na primeira pessoa, enquanto desempregada uma lamentável situação destas do “conto do vigário”, da qual fui vítima!

Desempregada desde Maio de 2012, naturalmente, uma das minhas rotinas, é a procura de emprego…mas faça-se notar, que procurar, não é sinónimo de desespero…pois quando estamos desesperados aceitamos qualquer coisa…estar desesperada mesmo, nunca estive, graças a deus…mas julgo que o desespero deve ser um péssimo inimigo! Inclusive peço todos os dias, para nunca perder a minha sanidade mental, pois enquanto a tiver, é certo que irei conseguir arranjar trabalho, ou melhor ou pior!

Uma coisa é, andarmos à procura de emprego e conseguirmos ter capacidade de discernimento suficiente, para percebermos ao que estamos a responder em termos de propostas de trabalho…estar desesperado, faz-nos responder a tudo, sem selecção prévia…devemos sempre adequar as nossas candidaturas conforme o currículo que construímos, de acordo com as nossas competências e formação para o efeito…e sabermo-nos defender é igualmente importante!
Então após umas situações caricatas, fora do normal ou mesmo vindas de Hollywood, talvez seja a expressão que mais se adequa! Partilho o que aconteceu já no início deste ano, mês de Janeiro…

Resumidamente, fui chamada para uma entrevista, para um cargo de supervisão relacionado com uma área que possuo longa experiência, não directamente com a função em si, mas com a área de negócio! Uma vez chegada à entrevista, tudo decorreu dentro da normalidade, a percepção com que fiquei foi que a entrevista tinha corrido bem! Como sempre estava optimista e isso passou para o outro lado, respondi a tudo o que me foi perguntado com a determinação, que me é própria…fui honesta nas respostas, às questões que me colocaram, inclusive na parte da morada, o currículo entregue mencionava a minha antiga morada, podia ter deixado passar, se calhar saía favorecida…mas sou pela verdade sempre, corrigi esse aspecto, mencionando que por força das circunstâncias tive de alterar a minha vida e consequentemente, de morada!

Ora tudo tinha corrido, aparentemente muito bem, ficaram de dar resposta passados alguns dias!
Contactaram um dia após a data indicada, a darem o feedback, “não foi seleccionada pois não possui experiência directamente na função de supervisão” ao que respondi indignada “ pois mas possuo experiência suficiente nessa área que me permite desempenhar sem dificuldade um cargo de supervisão, aliás se já tinham esses elementos no currículo porque motivo me chamaram para entrevista ,se já sabiam que eu não possuía experiência específica nessa função?” do outro lado ouviu-se “ bem posso também adiantar que nenhuma das pessoas entrevistadas ficou com o lugar, acabamos por seleccionar uma pessoa interna da empresa para essa função” ao que respondi mais indignada ainda “ com que intuito chamam as pessoas para entrevista e fazem as pessoas perderem o seu tempo e dinheiro para inglês ver? Deviam ter o mínimo de respeito e consideração pelas pessoas!”

Após esta conversa telefónica, dei por encerrado este assunto, ficando inevitavelmente com uma opinião bastante negativa a respeito desta empresa, por sinal com algum renome no mercado, mas também com herança de muitas reclamações por parte dos clientes… se calhar porque ainda não descobriram que “comportamento gera comportamento”!

Qual o meu espanto, quando passado quase um mês, desta quase cena de novela portuguesa…aconteceu uma cena pior ainda, diria uma autêntica novela cigana, sem escrúpulos, onde vale tudo…já vão entender porquê!
Toca o telefone, já estávamos em meados de Fevereiro, a pessoa apresenta-se como sendo alguém da Empresa referida anteriormente e que me tinha entrevistado…automaticamente associei à pessoa com quem tinha falado na chamada anterior…respondi “com voz de poucos amigos” do outro lado a pessoa respondeu que eu estaria equivocada, pois não me encontrava a falar com o representante da empresa, mas sim com a outra pessoa presente também, mas por sua vez, dono da loja para onde iria trabalhar…recordei-me sim que haviam dois interlocutores na entrevista e que um praticamente não se pronunciou, para além do contacto visual e fazendo cumprir o ritual do aperto de mão…

Fiquei bastante admirada com esta chamada, quando percebi de quem se tratava…mais admirada fiquei, quando me disse que queria que eu fosse para lá trabalhar e por isso queria falar comigo pessoalmente, para chegarmos a um acordo! Reformulei e referi a peripécia da chamada anterior, ao que ele disse desconhecer que tinham entrado comigo para tal feedback, indicando que depois me esclarecia melhor na reunião que iriamos ter. Insisti na minha posição, que não pretendia que me fizessem perder tempo…uma vez que tempo é dinheiro e apesar de desempregada, não estou desesperada…apenas aceito trabalho fidedigno! Após ouvir-me insistiu, sem compromisso da minha parte, marcarmos uma reunião para ele me apresentar a proposta de trabalho e condições…

Passado uns dias, lá me apresentei à reunião marcada, que durou aproximadamente 3 horas, falou-se um pouco de tudo relacionado com o trabalho, a função, as condições, muito embora alguns aspectos não tenham ficado muito claros relativamente ao contrato de trabalho por exemplo…mas considero justo um contrato que contemple um período experimental para que ambas as partes possam verificar se corresponde às expectativas…mas nunca sem ficar preestabelecido e acordado entre ambas as partes, para saberem com o que podem contar na realidade!

Após esclarecermos alguns pontos, entendi que a pessoa foi transparente e expôs a sua pretensão, dando-me um tempo para pensar e analisar a tabela que me enviou por e-mail com as condições! Após verificar a tabela, achei de imediato estranho, esta conter apenas uma parte variável e não ter ordenado base…tentei nessa altura contactar com a pessoa em questão, foi-me indicado por terceiros que não seria possível falar com ele ao longo dessa semana, pois iria fazer a zona do norte de Espanha!

Entretanto, recebi uma sms por parte da pessoa em questão, a perguntar se eu estava interessada em ir fazer uma formação de dois dias à sede da empresa, aceitei a proposta.
Enquanto aguardava pela chegada de todo o grupo de formação, dou de caras com o famoso senhor que me fez a entrevista, autor da primeira chamada telefónica…acompanhou-nos até à sala de formação, em que fui surpreendida por uma ex-colega de trabalho como a pessoa que nos iria dar a formação! Até aqui nada de muito estranho, gosto sempre de me intrusar no grupo e de trocar impressões e sigam esta conduta…pois se não o fizesse ainda hoje estaria acreditar que teria arranjado um trabalho honesto e fidedigno!

No intervalo e hora de almoço, aconteceram algumas conversas e houve um colega que me perguntou qual o nome da pessoa da loja que eu representava, ao que respondi…aproveitei para lhe perguntar de imediato se o conhecia, qual a minha surpresa quando me disse que sim, com cara de poucos amigos…percebi que havia algo que me queria contar, mas receava a minha abertura para o que eu iria ouvir…pois o que ele me contou nada tinha haver com a história até ali transmitida…este educado e transparente senhor que me “ofereceu” trabalho, não paga a ninguém que vai trabalhar com ele, em português típico e simplificado, muita gente ficou arder literalmente com ele…não só não paga, como faz falcatruas nos contratos, representa esta marca no mercado o que o inibe de vender outras marcas…mas isso não é impedimento para vender descaradamente outras marcas…é o mestre da vigarice ou se lhe quiserem chamar o mestre do “conto do vigário”!

Ao escrever esta crónica, pretendo alertar todos os que se encontram numa situação como a minha, desempregados…nunca sejam desesperados no mercado, saibam sempre estar atentos e analisar tudo, nem se sintam culpados se tiverem que recusar um trabalho, se tiverem razões que justifiquem essa posição…em primeiro lugar respeitem-se, para serem respeitados!

Este longo texto é a prova da selva, do salve-se quem puder, do vale tudo e da bandalheira, a que está entregue o mercado de trabalho neste momento…mas nunca em momento nenhum, deixem de ser vocês com a vossa conduta, os vossos princípios e as vossas crenças…não fiquem adormecidos perante as situações, que não merecem sequer, o nosso esforço de tentarmos entender,  seja o que for!

Não somos nós que estamos errados…temos de saber o que queremos e o que não queremos, mas nunca cair no erro de aceitar tudo, porque normalmente, isso acaba mal!
Trabalho sim, exploração não! Cumpridores sim, escravos não!
Comportamento gera comportamento…só podemos cumprir, quando cumprem connosco e nos provam por a+b que de facto estamos em “boas mãos” nunca decidam em caso de dúvida!

Apesar de tudo o que referi, quero deixar também uma palavra de esperança! Nunca deixem de acreditar que um dia irá chegar a vossa vez, irão arranjar trabalho com certeza e serão tratados como pessoas!