O desplaneamento do planeamento de umas férias planeadas…

Cada vez menos se podem planear férias, confiantes de que elas irão correr como foram anteriormente planeadas. É uma das poucas lições que a vida me tem dado — visto que tenho ignorado todas as outras lições, por embirração, ou chamemos-lhe antes infantilidade. À medida que os anos vão avançando, fui adquirindo cada vez menos experiência de vida. É um paradoxo absurdo, é certo, mas até faz algum sentido se tiver em conta o facto de eu não querer ganhar consciência de que já não vou para novo. Ainda continuo a pensar que o teste da próstata ainda vai lá longe, quando, na verdade, até está aí a bater à porta.

Mesmo assim, corri o risco de planear as minhas férias de Outono. Como vivo sempre com um pensamento de culpa de que não estou a passar tempo suficiente com a minha filha de 5 anos, eis que planeei umas férias só a pensar nela. Ou seja, decidi que, nestas férias de Outono, iria fazer tudo aquilo que a minha filha me tinha pedido para fazer, mas que, por motivos de trabalho ou outros de força maior, não foi possível realizar. Ir ao cinema, ir andar de metro, de barco ou mesmo simplesmente visitar locais que ela gostaria de conhecer, os planos estavam traçados e iria tudo acontecer.

Como estava tão enganado, por Deus….

Um dia antes do meu aniversário — e quando já me encontrava de férias — estava eu a informar a minha filha de todos os planos, quando recebo uma chamada da escola dela, sentenciando aquilo que iriam ser, afinal, as minhas férias de Outono.

“Estou, é o pai da Beatriz? Olhe, é só para informar que surgiu um caso de Covid-19 na escola e todos os meninos e os respectivos encarregados de educação terão de ficar isolados em casa até a criança fazer o teste e ter o resultado. Obrigado… e ah!… um Feliz Aniversário, sim?!…”

Ter de ficar isolado em casa com a minha filha até nem seria mau de todo, visto que, assim, iria passar imenso tempo com ela na mesma — o que, relembro, seria a minha principal prioridade nas férias. Só não contava era com o facto de, afinal, estar em casa isolado com a minha filha seria o equivalente a estar numa arena de gladiadores, não a correr atrás do adversário, mas sim, a tentar fugir dele o mais tempo possível. Porque, convenhamos, prender uma criança de 5 anos em casa durante um largo período de tempo, não é saudável para ninguém, muito menos para os pais. A dada altura, tudo já começa a saturar a criança e os pais ficam escassos de ideias para entreter a pirralha. Ver filmes, desenhar, pintar, jogar jogos de tabuleiro, jogar às escondidas, à apanhada, ao macaquinho do chinês, chega a um ponto em que tudo deixa de fazer sentido. E aí começa a dura batalha de quem é que irá ceder primeiro: se o pai ou a criança. Claro que, sendo eu aquilo a que se poderá denominar como um “adulto infantil”, tomei as rédeas da situação, arregacei as mangas e fiz frente à minha filha, mostrando quem é, de facto, o pai e quem é que, efectivamente, manda cá em casa.

Entreguei a criança à mãe e fui fechar-me na casa-de-banho, deitei-me no chão em posição fetal e comecei imediatamente a planear as próximas férias de Verão. E essas é que vão ser de arromba, desde que a mãe fique com a criança, obviamente…

Hum…