O dia em que todo o mundo decidiu fazer greve! – Gil Oliveira

Seja bem-vindo a mais uma crónica do “Graças a Dois”. Esta semana decidi ser mais ligeiro e abordar um tema pouco polémico (cof…cof…). Irei falar-lhe sobre greves! Eu não sei se o leitor costuma exercer o seu direito à greve mas se o faz, bom para si! Uma grande salva de palmas… Eu, feliz ou infelizmente , nunca fiz uma greve na minha vida! Posso até dizer que sou um virgem no que toca a manifestações e protestos! Só para ter uma ideia do quão pacífico sou, fique sabendo que no fatídico dia 1 de Maio de 2012 – o Dia Nacional da Guerra do Pingo Doce – ofereci o meu carrinho de compras a uma velhota, dei os meus sacos a dois anões e, no fim do dia, ainda fiquei lá a ajudar os funcionários nas limpezas. Só por aí você vê o quão pacífico sou…

Eu sei que ser virgem aos 30 – no que toca a manifestações contra a entidade patronal e afins – em nada abona a meu favor. ‘Shame one me!’ Este assunto é de tal forma vergonhoso para mim que às vezes até minto quando meus amigos me perguntam se fiz greve. Eu respondo-lhes sempre que sim. E algumas vezes ainda me armo em fanfarrão e digo-lhes: “Uiii! Aquilo é que foi uma greve, pá! Ainda fomos lá para a porta da empresa proibir a malta de entrar e tudo… Estávamos doidos! Ninguém nos parava! Ui se paravam…Era o paravas!”. Agora que partilhei isto consigo até me sinto mais forte! Só ‘por causa das tosses’ vou-lhe fazer uma promessa: assim que tiver um tempinho livre, vou arranjar um motivo só para fazer greve!

Mas agora falando um pouco mais a sério (ou pelo menos tentando) eu sei que as greves são necessárias e são uma das maneiras que os trabalhadores têm para fazerem valer os seus direitos. Mas há que ter moderação, não é? Para mim fazer greve é como comer chocolates. Se for um de vez em quando, tudo bem. Agora, todos os dias ou até mesmo, todas as semanas?! Pelo amor da Santa… Se comer chocolates todos os dias sei que vou ter uma valente caganeira (era para ter escrito volta à tripa mas achei que caganeira era mais ilustrativo). O mesmo se aplica às greves. Uma de vez em quando, toda a gente concorda e percebe a ideia. Uma todas as semanas, começa a cheirar mal!

Imagine lá se um dia todo o mundo decidisse fazer greve:
Não haveria luz. (Até porque todo o mundo sabe que é preciso um funcionário lá, para carregar no botão, senão aquela geringonça não funciona.) Muito provavelmente também não haveria água. Sair para a rua era para esquecer. Sem polícias, bombeiros e donos de tabernas as ruas estariam cheias de criminosos e bêbados a ressacar por álcool. Se por algum azar cortássemos acidentalmente o dedo mindinho do pé onde é que nos dirigíamos? (Sim! Pode acontecer… Eu sei de uma história de um tipo que ficou sem o dedo mindinho do pé porque o corta-unhas escapou-lhe da mão.) Não havia médicos nem enfermeiras a trabalhar! Ahh, pois é!! De repente a ideia da greve já não lhe parece uma coisa tão inocente quanto isso, não é? Está com ‘miaúfa’ de perder o seu dedo mindinho do pé, não está?! Mas pode ficar descansado que este cenário apocalíptico muito dificilmente se concretizará. Cá em Portugal as greves resumem-se quase sempre aos transportes públicos. Ou, em alguns casos extremos, à função pública. O maior risco que o leitor enfrenta é o de chegar tarde ao emprego ou não conseguir pagar o selo do carro! O que me irrita bastante, pois aposto consigo que se começasse a haver menos dedos dos pés e mais bêbados em fúria por os tascos terem a porta fechada, as coisas talvez começassem a mudar, tanto no abuso do poder como no abuso das greves! Tenho dito!

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Crónica de Gil Oliveira
Graças a Dois
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