O dia em que a Tum’Acanénica me fez uma serenata

A vida é feita de momentos. Uns bons. Outros maus. Alguns que merecem ser recordados para sempre, outros para esquecer o quanto antes, mas que é feita de momentos ninguém dúvida. Se por um lado os vinte e quatro anos que carrego me tornam num jovem com toda uma vida pela frente, por outro fazem com que já tenha muitos (e bons, acrescento eu) momentos especiais para recordar. No “Desnecessariamente Complicado” desta semana trago para vos contar um desses episódios.

O título desta crónica impede-me de guardar segredo e surpreender-vos quanto ao episódio em questão. Sim, é verdade, uma tuna académica fez-me mesmo uma serenata. Mas vamos por partes.

Se acompanha regularmente este meu espaço de crónicas talvez se recorde de uma em particular. Tinha como título “Estar sozinho não é o mesmo que estar só” e falava daquelas pessoas que não têm uma relação amorosa, mas que não vivem atormentadas por estarem “sozinhas”. Porque, tal como eu defendo na referida crónica, estar sozinho não é o mesmo de estar só. Ora no final do passado mês de Maio (quando a crónica em causa foi publicada) eu era uma dessas pessoas. Estava sozinho, mas não estava só. Contudo, apenas poucas semanas depois, tudo mudou.

Sim, digamos que o cúpido fez bem o seu trabalho e, desta vez, a seta do amor acertou em ambos os intervenientes (e não apenas em mim como antes tinha acontecido). Trocando por “miúdos”: passei a ter namorada (sendo a mesma daqui em diante tratada por “M”). E antes que perguntem eu mato já a vossa curiosidade: namoro esse que ainda se mantem. E que, no que depender de mim, se manterá durante muitos, e bons, anos.

Com pouco mais de um mês de namoro, proporcionou-se fazermos uma viagem que se revelou deveras importante para ambos. O local? A bela e maravilhosa, cidade de Leiria, cidade essa que acolheu (e muito bem, por sinal) a minha amada durante três belos e simultaneamente duros anos (tempo suficiente para ela concluir com sucesso a sua licenciatura). Toda a gente sabe que nunca se esquecem os tempos da faculdade, logo este seria um regresso emocionante ao local e às pessoas, (visto muitos amigos lá permanecerem) onde viveu e cresceu num passado muito recente.

Visto eu não conhecer a cidade, ela tratou de planear todo um roteiro repleto de locais e espaços que tínhamos que visitar em conjunto (assim como pessoas que não podia deixar de conhecer, claro está). No final do primeiro dia notei um ambiente algo estranho. A “M” parecia preocupada e algo stressada. Afastava-se de mim diversas vezes para se juntar às amigas, recebia e envia sms’s fervorosamente.

Contudo, a partir do momento em que ela me confirma que está tudo bem não tinha motivo para me preocupar. Respirei fundo e tranquilizei-me. Tudo isto teve lugar na habitação de uma amiga da “M”, que simpaticamente nos recebeu. Era então tempo de rumarmos à noite leiriense.

Foi então que tive a surpresa de uma vida. Estranhei assim que vi meia dúzia de indivíduos trajados imediatamente à saída do prédio, mas sendo Leiria uma cidade recheada de vida académica, não era tão estranho como isso.

Para meu espanto a minha amada largou rapidamente a mala que tinha ao ombro, pegou numa capa e colocou-a aos ombros juntando-se de seguida aos trajados. Todos eles tinham instrumentos nas mãos e quando eu dou por isso estão a cantar. Mas atenção, estavam a cantar…para mim, era a chamada “serenata”. Ok, aquilo não podia estar a acontecer! Não a mim.

Uma serenata? Bem, por esta é que eu não esperava, é que foi uma surpresa tão bem planeada que eu nunca suspeitei de nada! As minhas desculpas a todos os intervenientes, mas não consegui descolar os olhos da minha amada, assim como não consegui tirar um sorriso apaixonado da face.

Foram apenas alguns minutos, contudo essa memória permanecerá na minha mente para todo o sempre afinal de contas raras são as vezes em que uma tuna académica faz uma serenata a um homem. É para verem o quão fantástica é a minha namorada!

Nunca pertenci a nenhuma Tuna, tenho um respeito enorme pelo trabalho que desenvolvem. Todo o universo das tunas é absolutamente maravilhoso e só quem está completamente alheado à sua realidade pode ter uma opinião diferente. Lá nascem e desenvolvem-se músicos e cantores excepcionais, arrisco mesmo dizer que a verdadeira união e espírito de grupo reside no interior de uma tuna académica.

A todas as tunas do país e a todos aqueles que batalham diariamente para não deixar morrer a tradição académica o meu muito obrigado. Um bem-haja a esses jovens que retiram algum do seu tempo para dedicar a uma das causas mais nobres que conheço.

Em especial o meu muito obrigado à Tum’Acanénica, a Tuna Mista da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Graças à sua disponibilidade e boa vontade, fizeram parte de um daqueles momentos que nunca mais esquecerei, passem os anos que passarem. Foi importante para mim, mas foi muito mais para a “M”.

Antes de terminar, espaço apenas para dois pequenos apontamentos. Primeiro: se com pouco mais de um mês de namoro a minha namorada me faz uma serenata, conseguem imaginar o esforço titânico que terei que fazer mês após mês, para conseguir chegar sequer aos calcanhares de tamanha surpresa? Resumindo: tramou-me bem tramado! Em segundo lugar, esta crónica não foi publicada hoje por acaso. O dia 7 é um dia importante para a nossa relação dado que foi ao sétimo dia, de um determinado mês, que começámos a namorar.

Como tal, reservei estas últimas linhas para algo especial. Permitam-me que agora fale directamente para ela. “M”, meu amor, estes foram meses recheados. De amor. De bons momentos. De sorrisos. De gargalhadas. De uma cumplicidade que julgava nunca conseguir criar com outro ser humano. Por tudo aquilo que me deste e que me dás diariamente, o meu muito obrigado. Orgulho-me da pessoa fantástica que és. Orgulho-me por poder chamar-te de namorada. Apenas faço uma promessa: retribuir a dobrar todo o amor que me dás e toda a felicidade que fazes crescer em mim.

Que o 7 nunca deixe de passar por nós e que possamos sempre acenar-lhe com um sorriso no rosto e um lugar quentinho no coração.

Obrigado a todas as tunas do país e em particular à Tum’Acanénica. Obrigado a ti, “M”, por estares a meu lado, por teres paciência para me aturar e por me amares mais a cada dia que passa.

Boa semana.
Boas leituras.