O drama, o terror, o horror… de uma simples comichão.

“Mas será possível, isto? Com tanto tema que se pode abordar, e esta besta vai falar de comichões? Interrogo-me por que razão é que eu perco minutos preciosos da minha vida a ler um texto sobre comichões? Não devo andar bem da cabeça, com toda a certeza! Olha, só por estar a falar sobre comichões, já se me está a aparecer um raça de uma comichão nas costas, que eu sei lá! Eish, e não é que o raio da comichão se encontra no local de mais difícil acesso nas costas?! Porra para isto! Ai, que comichão! Quem me manda a mim, hã, meter-me a ler crónicas deste calibre? Agora já estou cheio de comichão, e não sei como é que me hei-de coçar! Porque… simplesmente… NÃO CHEGO LÁ! Ai, que nervos! Ai, alguém que me auxilie! Que eu já não aguento mais esta maldita comichão mesmo no centro das costas! AI! AI! AI! Já sei! Vou buscar uma faca de cortar pão, e vou usá-la para me coçar, que eu já não aguento mais! Ah… tão bom… Ah… tão… AI! PORRA, cortei-me…”

Leitor, ó leitor… Para quê sofrer esse flagelo todo antes de ler a minha crónica? Está a ver o que acontece sempre que apenas lemos o título de uma crónica, e retiramos imediatamente ilações erradas? Sim, é verdade que esta crónica trata-se de comichões. E mais: trata-se exactamente da comichão nas costas. Mas, se o caro e adorado leitor optasse antes por ler a crónica por inteiro – em vez de apenas ler o título –, nunca iria sofrer dessa maldita comichão que tira do sério qualquer ser humano, ou mesmo qualquer animal – basta tomar como exemplo os cães, quando se deitam de barriga para cima em cima do tapete, e fazem movimentos norte/sul em absoluto desespero para acabar com a comichão no lombo.

Existem várias comichões que nos podem retirar do sério, mas penso que a comichão nas costas bate-as a todas aos pontos. Chega a ser bastante incomodativo quando a comichão da costas ataca em força, e nós nunca conseguimos chegar ao local exacto onde ela reside. Já observei pessoas encostadas a ombreiras das portas, tentando coçar-se de uma forma totalmente despreocupada, apenas concentradas em eliminar a comichão de que padecem no momento – ignorando completamente o olhar assustado de outras pessoas que, ao ver aquele cenário, pensam que estão na presença de uma pessoa que foi possuída por um espírito de um canídeo.

A verdade é que esta comichão ataca a generalidade da população portuguesa. E nesta parte da crónica o leitor dispara a seguinte observação: “Ah, eu cá não sofro de nada disso! Se tu sofres, é porque não te deves lavar, seu javardolas!” Leitor, ó leitor… Então, para quê esconder este flagelo? Há que não ter receio, porque isto faz parte do quotidiano de todos nós. E mais: a comichão veio para ficar, e tão cedo não nos vai abandonar.

Não existe solução senão coçar. Mas mesmo esse simples acto, pode vir a relevar-se uma tarefa bastante intricada. Porque nós nunca chegamos ao sítio… E isso leva-nos a tentar, inadvertidamente, alcançar algo que nos possa ajudar no momento. Algum acessório que sirva para eliminar o flagelo que nos assombra as costas. Algo como o simples comando de televisão, por exemplo. Quantos de nós, por vezes e por falta de algo melhor, nos aproveitamos do comando para coçar as costas? E sem querer, damos por nós a fazer uma espécie de zapping. Quantos de nós não desejamos ser uma espécie de polvo, para conseguirmos alcançar a maior parte das costas, e coçar-nos sem mais não? E quantos de nós não desejamos possuir a flexibilidade de um contorcionista, para podermos até mordicar a zona das costas onde se encontra a comichão?

E mais, caro leitor. Deixe-me partilhar consigo, o que eu descobri. Sabeis que este tipo de comichão é uma das razões mais válidas e recorrentes para acabar com os matrimónios? “Hum?! Olha, este pirou de vez! Eh pá, pára lá de escrever, e vai para dentro, mas é!”, diz o leitor, completamente céptico ao que eu possa eventualmente ter descoberto! Então, só por causa desse seu “ceptismo”, eis que elaborei um pequeno diálogo entre marido e mulher, no momento em que se preparam para uma sessão louca de sexo tresloucado…

O marido chega a casa depois de uma dia louco de trabalho, com a clara intenção de fazer amor com a sua mulher…

— Mulher! Cheguei!

 — Ah, já…? Olha que pena…

 — Que pena? Como assim?! Deixa-te de parvoíces, e vem cá presentear o teu marido com um pouco de carinho…

 — Mas qual carinho…?

 — Oh, não te faças de desentendida… Daquele que só tu sabes e podes dar-me… Meu amor… Meu docinho… FAZ AMOR COMIGO! JÁ!

 — Ai, meu deus! Adoro quando ficas assim agressivo! Excitas-me! Deixas-me louca! Anda cá! Anda cá, já!

 O casal envolve-se em beijos e caricias e, quando estão prestes a consumar o seu amor, eis que…

 

— Ai, amor! Anda! Possui-me, meu marido! Meu animal! Meu urso! Anda! Possui-me!

 — É que nem precisas de pedir, catano! Anda cá! Ah… espera…. Pára… Pára tudo!

 — O que foi amor? Passa-se algo?!

 — Sim, passa-se… Passa-se que eu já não aguento mais! Eu não aguento mais! Meu deus! Isto é demais!

 — Deixa lá, meu ursinho de peluche… Isso acontece… Não comeces já a pensar que tens algum problema… Que, eventualmente, possas estar a sofrer de ejaculação precoce… Isso acontece… (Apesar de eu achar estranho que as nossas sessões de sexo, apenas durem uns míseros 30 segundos… Mas é capaz de ser normal… Acho eu…)

 — Ejaculação precoce? Estás doida, ou quê?! Eu sofro lá disso! Eu quero é que me coces as costas, que eu já não aguento mais esta comichão! Está a deixar-me doido!

 — COÇAR-TE AS COSTAS?! ISSO NUNCA! PREFERIA MIL VEZES QUE SOFRESSES DE EJACULAÇÃO PRECOCE! AO MENOS ISSO ERA UMA DESCULPA VÁLIDA E COMPREENSÍVEL PARA NÃO FAZERMOS AMOR COMO OS CASAIS NORMAIS! AGORA, COÇAR-TE AS COSTAS? VAI PARA O RAIO QUE TA PARTA, MAS É! OLHA… QUERO O DIVÓRCIO! JÁ!

 – Porra… Deve estar a sofrer de TPM, esta… Chiça!

E a modos que é isto… Até para a semana, malta catita…


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
Visite o blog do autor: aqui