O efeito caranguejo

O efeito caranguejo

Estou a ler um livro fantástico, daqueles livros poderosos que em simples palavras dizem tudo o que precisamos de ouvir. Não deixa de ser interessante a dinâmica que eu tenho pessoalmente com os livros, em fases menos boas da minha vida eu não entro num bar para beber, não entro numa pastelaria e compro um misto de bolos cheios de creme e massa folhada, quer dizer…confesso que também o faço algumas vezes, perdão à minha dieta, não vou fumar umas ganzas à socapa, não, eu vou a uma livraria e fico lá, uma a duas horas, eu e os livros, e os livros escolhem-me, parece um absurdo não é leitores? Mas os livros escolhem-me, eu sei de cor e salteado o motivo porque li os livros que li em determinadas alturas da minha vida, um livro salva vidas e não, não estou a ser demasiado dramática.

Mas o meu propósito nesta crónica não foi de todo escrever sobre a minha louca paixão pelos livros e da excelente companhia que os livros representam, esta semana vou escrever sobre um dos parágrafos que li no tal livro fantástico que referi acima: o efeito caranguejo. Achei o conceito interessante e resolvi pesquisar sobre o assunto, mas a internet não está para aí virada e pouco ou nada consegui obter. Então, perguntam os leitores, o que é isso do efeito caranguejo? Quando colocamos caranguejos num balde ou numa panela, os caranguejos, amontoados uns nos outros tentam a todo o custo subir a panela, quando um deles está quase no topo do objecto, pronto para se pôr a milhas, o que é que acontece? Os outros caranguejos puxam-no para baixo, inconscientemente, e ficam todos num desespero morticínio. Isto é exactamente o que acontece com as pessoas, a única diferença é a intenção.

Quando mudas de emprego, de casa, de país, quando terminas o teu casamento e começas uma relação com um tipo dez anos mais novo que tu, quando tens dois filhos e resolves ter mais um, quando tens um emprego de chefia mas despedes-te e vais fazer bolos, quando largas tudo o que é conforto e começas a tua vida do zero num local onde ninguém te conhece, quando vives na cidade com um plasma, internet e um confortável chaise longue e vais viver para uma aldeia no interior do país, para o meio da terra plantar batatas e tomates, quando vais e nem olhas para trás, quando persegues um sonho…o que é que te dizem? Eu sei o que nos dizem: tens a certeza? Não é arriscado? E os teus filhos? Eles vão sofrer. Tu vais sofrer. Vais te arrepender e depois não há nada a fazer. Vai ser difícil. É quase impossível. Isso é um sonho irrealista. Sonhas demais. És uma inconformada. Nunca estás satisfeita. Mas tens uma vida tão porreira. Porquê? Tens a certeza? E se não resultar? O teu marido apoia? Como é que vai ser? De que vão viver? Vai ser difícil. Vai ser difícil. Vai ser difícil.

Acredito piamente que as pessoas que gostam de nós e nos respeitam não o façam com intenção de nos magoar ou nos desencorajar, têm medo que a mudança nos cause sofrimento, também acredito que algumas pessoas querem mais é que tropecemos nos desafios da vida, convivemos sempre com pessoas assim, mas o que eu realmente acredito é que o medo do desconhecido, o medo de dar um passo em frente com medo de cair num precipício em vez de cair numa nuvem de algodão doce é o que nos trava a coragem, o medo, esse bicho interior que nos domina e nos deixa reféns de uma vida mediana em vez da vida que queremos verdadeiramente viver. Este é o efeito caranguejo. Projectamos nos outros e não poucas vezes em nós mesmos.

“Do outro lado do medo, está a sua liberdade” Jen Sincero