O estado de “citius” continua

Enquanto o país está entretido com as decisões do candidato a primeiro ministro (mas que ainda não foi eleito secretário geral) pelo PS e em perceber se Passos Coelho recebeu dinheiro da Tecnoforma quando era presidente de uma ONG (que só se sabe que um dos fundadores foi o agora comentador televisivo Marques Mendes, mas não se sabe para o que servia, nem as contas batem certo), o caso do caos na Justiça continua.

Depois de o Secretário de Estado da Justiça ter dito no “Prós e Contras” que estava disponível para ajudar, li que quem a ele recorreu levou um redondo “não sabemos quando o Citius vai estar 100% operacional”. E a Ministra, que depois do pedido de desculpas, de ter dito na Assembleia da República que ia exigir explicações de quem de direito (não resisti a usar a expressão) sobre porque é que não houve problemas nos testes e na data certa não funcionou, veio agora dizer que as coisas estão progressivamente a voltar ao normal.

Pois bem, a verdade é que só o ministério e o presidente do instituto que gere o Citius (nomeado por este governo) acreditam nisso. E são desmentidos por advogados, juízes e funcionários judiciais. Segundo estes, aqueles que precisam de usar a plataforma informática diariamente, o problema está longe de ser resolvido.

O que mais me espanta é que aqueles que pediam “a cabeça” da ministra tenham acalmado e deixado passar. Há tantas provas e testemunhos de que o Ministério da Justiça foi alertado por pessoal tecnicamente habilitado (responsável pela plataforma) e outros interessados (como o presidente do sindicato dos funcionários judiciais, como o próprio referiu no programa televisivo acima referido), que a plataforma informática não estava preparada, que é, para mim,  bizarra a afirmação da ministra da tutela em comissão no Parlamento. O Ministério tinha a informação. E mesmo assim decidiu avançar, insistir.

Se a senhora Ministra não percebeu porque é que nos testes funcionou tudo bem e na realidade não, faça o seguinte teste: ponha dois copos iguais vazios e encha um deles com uma garrafa de água de 33cl de uma só vez – repito, de uma só vez – e depois faça o mesmo com o outro copo, mas desta vez com um garrafão de 5 litros. E depois compare os resultados. Se ainda tiver dúvidas, pergunte ao presidente do instituto que tutela a plataforma informática, porque se o seu “know-how” permitiu-lhe ignorar os avisos da equipa responsável pelo Citius, agora deveria ser capaz de facilmente lhe explicar porque não funcionou.

Crónica de João Cerveira