O Facebook fez anos – Bárbara Borralho

O Facebook fez dez anos. Que engraçado. Ainda assim, os meus tempos áureos foram noutras redes sociais, ícones de uma geração não muito mais velha do que aquela que milita em maioria no Facebook. Somos filhos do Hi5, sobrinhos do Fotolog, enteados do Formspring, primos afastados do MySpace e observadores distantes do Orkut. Passávamos horas a organizar o top de amigos, a escrever um “sobre mim” sem interesse algum, a colocar fotografias ridículas, a fazer perguntas a desconhecidos, a ouvir música de bandas amadoras e a decidir se devíamos juntar-nos aos nossos irmãos brasileiros. Eram outros tempos que parecem demasiado distantes.

O Hi5 era rei e senhor. Competia-se por visualizações do perfil, por prendas, por número de amigos. Uma infindável quantidade de coisas insignificantes que, pelo menos para mim, nunca fizeram sentido. Havia celebridades no Hi5. Gente que não sabia escrever sem dar dois erros na mesma palavra, gente que não dizia nada de jeito, gente que sentia necessidade de pôr nomes demasiado estranhos seguidos da palavra “oficial” só para que não existessem dúvidas relativamente à autenticidade daquele perfil.

Mas o Hi5 era giro. Quem percebesse uma coisinha ou outra de html e css conseguia modificar o perfil. Tirar as publicidades chatas, reposicionar o “sobre mim”, adicionar uma musiquinha ao perfil. E talvez tenha sido a decisão de retirar esse privilégio de poder mudar as coisas que levou esta rede social a cair em desuso. Mas não era possível continuar a permitir que os utilizadores ocultassem a publicidade, o ganha-pão das páginas online. Foi nessa mesma altura que arrumei as tralhas e parti em busca de outra coisa: o Facebook.

Como benfiquista ferrenha caí muitas vezes no esquema intitulado de “mude a cor do seu facebook”. Parecia-me uma coisa chata, as páginas eram todas iguais e eu não gosto disso. Gosto da diferença, do poder de mudança, da personalização. Já nem me lembro como era o facebook antes de podermos colocar uma foto de capa e termos a nossa vida organizada de forma meticulosa numa cronologia.

Tal como todas as redes sociais, o Facebook tornou-se uma casa para muita gente com más intenções. Indirectas, discussões, fotografias sem pés nem cabeça. Mas o povo gosta é de confusão, de ir buscar o balde de pipocas e fazer “refresh” para se rir com as picardias dos outros. Eu própria gosto disso, admito. A culpa é de quem não sabe distinguir aquilo que se diz cara a cara, no mundo real, daquilo que se diz numa página online.

Uso o Facebook para divulgar as coisas de que gosto. Os meus vídeos no Youtube, os meus textos no Blogger, as minhas piadas no Twitter. É uma bola de neve. Nunca nos conseguimos ficar por uma rede social. Fez dez anos. Eu tinha 11 ou 12 anos quando foi criado. Não tinha internet em casa e contentava-me com os jogos da minha PS One e a minha bicicleta. Ainda assim ensinou-me uma coisa muito importante: o que importa são os amigos que contamos pelos dedos e não aqueles que temos adicionados numa lista virtual.

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Riso sem siso