O Fenómeno chamado Grey

Numa semana onde estreou o tão aguardado filme “As Cinquenta Sombras de Grey” tentei perceber o porquê deste fenómeno que foi (e é) Christian Grey.

Tudo começou pelos livros, que venderam que nem pão quente tanto em Portugal como no Mundo inteiro. Como apaixonada por livros que sou e depois de tanto burburinho resolvi comprar os ditos para ler. E foram livros que realmente se leram rápido, que prenderam a atenção de quem os lê, neste caso a minha atenção. Certo é que o primeiro livro é bem mais interessante que os outros dois. Contudo são livros de grande qualidade literária? Claro que não (e por isso após os ler seguiram viagem, não ficaram na minha “biblioteca pessoal” como tantos outros). No entanto como explicar este fenómeno? Um livro tido como “porno para mamãs” ser um campeão em vendas? E ajudar as vendas de outros?

Quando li, fiquei com a sensação de ler um romance com algumas passagens mais picantes, alguma ingenuidade e alguma agressividade de certa forma, tudo à mistura. A típica história de um casal que não tem nada a ver um com o outro e apaixonam-se e quebram barreiras (se bem que estão por vezes amarrados, ou ela pelo menos) para ficar juntos no final. Pelo meio temos um homem controlador de mais e uma mulher inocente.

Claro que um homem fica interessante de fato (especialmente quando imaginamos que o fato assenta que nem uma luva), claro que desperta o interesse sendo misterioso, claro que uma prenda ou outra de vez em quando sabe bem e anima uma pessoa – até aqui eu não me importava de ter um Grey; só que depois temos o lado controlador, o lado abusivo de certa forma (e nada a ver com o lado de dominador na cama digamos assim) que não me atrai. Portanto, e pessoalmente, o Grey fascina-me pela metade. E às outras mulheres? E quanto aos homens? Será a personagem da Anastacia tão fascinante assim, com a sua inocência? É que a mim por vezes só me apetecia dar-lhe duas chapadas para que acordasse para a vida, e não era de prazer. Basicamente enquanto noutros livros temos o “dormiram juntos” e toda a gente sabe o que quer dizer, nos livros do Grey temos a descrição, ao pormenor, de como dormiram, ou como não dormiram.

Podemos também dizer que abriu (não sei se será a palavra mais indicada, dado o assunto, mas à falta de outra vai esta) portas a um mundo meio escondido e desconhecido de muitos: o BDSM. Se levou muitas pessoas a este tipo de práticas não sei, caberá a outras pessoas concluir isso. No entanto poderemos dizer que levou a que mais pessoas procurassem mais brinquedos sexuais – isto a fiar-me nas notícias que por aí andaram e andam.

Assim dois mundos ganharam com o Grey – o literário e o dos brinquedos sexuais. E agora com o filme o mundo cinematográfico também ganhou. E se ganhou!! Não sei quem foi o responsável do marketing mas dou-lhe os parabéns. Prender desta forma as pessoas não é fácil. E colocar bilhetes à venda pela altura do Natal, para um filme que só iria estrear passados dois meses, mais dia menos dia, genial. E ainda por cima, fazê-lo estrear perto do Dia dos Namorados, é caso para ter sala cheia nestes primeiros dias (e nos restantes também).

Ainda não vi o filme, pretendo ver quando houver menos pessoas a ir vê-lo, mesmo que o Grey me fascine apenas pela metade. A curiosidade é maior! E tal como eu, imensas pessoas foram e vão ver o filme, não porque querem ver cenas de sexo mas porque querem ver se o Grey delas é parecido com o que a autora imaginou. Cada uma fantasiou de forma diferente, criou o Grey à sua medida. Imaginaram as personagens e a história (ou parte dela) de forma diferente e acredito que muitas irão ficar descontentes de alguma forma com o filme. Daí que eu não tenho grandes expectativas para o filme…

Mas após este, ficam a faltar mais dois filmes. Dos livros que, na minha opinião, foram escritos simplesmente para que a história terminassem bem, qual conto de fadas. A data do próximo filme, segundo uma notícia que já não me lembro bem onde vi, será em 2017, daqui a dois anos. Esta febre aguentará desta forma mais dois anos? E talvez ainda mais dois depois desses? Sinceramente não me parece. Mesmo com a curiosidade que tenho, já não há pachorra para a contagem decrescente que fizeram, para tudo ser comparado com o Grey e tudo levar ao Grey, para os raios dos móveis que foram feitos ou são de uma marca portuguesa.

Atrás deste fenómeno, especialmente o literário (o cinematográfico só daqui a uns tempos poderemos dizer), vieram muitos mais livros de carácter erótico e por ventura melhor escritos. Até existe um livro escrito por uma portuguesa que infelizmente ainda não li, mas que muita curiosidade me desperta pelas críticas (Hoje é melhor do que para sempre de S.D.Gold).

Quanto ao Grey, jeitoso, bem constituído e tal, foi uma moda. Ajudou a abrir mentalidades e portas para ver e falar de sexo, de literatura e filmes eróticos de outra forma. Espero que ao menos dê alguns frutos, aumentando não só as receitas dos mundos já referidos, mas também a taxa de natalidade. Façam bebés (se os quiserem ter e educar) ou então apenas se divirtam, enquanto não surge outro fenómeno tão ou mais interessante.