O Fogo É Mau e o Thomas Edison Era Uma Bruxa

“Look Up”, um vídeo feito por um senhor chamado Gary Turk, é o novo fenómeno intranet (intra, de dentro da net, mas não cá fora, e já vão ver porque é que este detalhe é super híper mega importante) gira à volta do mal das redes sociais e do quanto nós, como pessoas que usamos essas redes sociais, somos uns tristes.

Tristes, digo-vos eu! Tristes! E vejamos porquê:

As crianças agora não saem à rua, meu deus do céu, só ficam em casa a jogar nos pêcês, nos triquelibriquelis, nos andróides e nos ai fones, não têm amigos e mimimi! A geração vindoura está perdida, digo-vos eu, perdida! Já ninguém fala com estranhos na rua, já ninguém dá beijos e faz amor, somos anti-sociais e pobres de espírito e tristes e não temos amigos, vamos morrer sozinhos e a Terra vai deixar de girar.

Ablooo ablblooo bloo (isto sou eu a chorar)

E este caro senhor, esta alma caridosa e bem-feitora, fez um vídeo de poesia falada e gentilmente passou-o para o youtube para que nós, comuns mortais descrentes e não-pensadores, sofrêssemos uma epifania colectiva e deitássemos os computadores fora porque são a arma do diabo e este senhor é Jesus Cristo nosso salvador, ámen.

Mas primeiro temos de ver o tal vídeo de cinco minutos. Vá, são só mais cinco minutos a utilizar a internet e depois podemos desligar o computador pela última vez. Adeus, velho amigo! Sentirei a tua falta!

Hm… Só que não.

Irei por partes, só para que não haja dúvida de que eu opino que este homem é um charlatão hipócrita e vocês não devem ter medo das redes sociais (como ele quer fazer parecer). E não só! Irei falar sobre isto em poesia. Ah pois é! Só não é poesia falada porque tenho pouco tempo para estar em frente ao computador a gravar vídeos (ai ironia). Vá, preparem-se, aqui vai:

Eu sei que pode ser difícil para vocês aceitar
Que falar na internet é por texto mas é falar
E para quem ter um horário super apertado
Abrir o facebook é desabafar um bocado

Agora que todas as pessoas têm computadores
É mais fácil ter comportamentos perturbadores
No entanto daí a fecharmos as portas
É apenas uma tentativa de nos trocar as voltas

Quanto a vocês não sei mas não me sinto confundida
Sei bem que o computador não é a minha pessoa querida
Mas sinto que à vontade posso partilhar
Sem que me possam interromper ou abafar

O instagram promove o próprio
Num mundo onde somos feios e micróbios
Uma imagem vale mais que mil palavras
As emoções estão lá, não são enterradas

Quanto aos amigos esclareço o assunto
Se o convite para sair está cada vez mais defunto
Já todos pasamos por amizades agora perdidas
Não é um poema que as põe revividas

Quem já escreveu cartas certamente compreende
O papel que os recursos estilísticos têm em mente
Quer seja um blog, um tweet ou estado
Escrevemos para nós, não para o vizinho do lado

Se podemos falar com estranhos? Sim, podemos
Mas todos nos ensinam para não o fazermos
Não é um homem num vídeo que tem o direito
De criticar o que fazemos já por defeito

Vocês podem não ver mas eu vejo as crianças
A brincar nos parques e formarem alianças
E se por acaso passam tempo demais no pc a brincar
Se calhar é porque os pais estão a trabalhar

Generalizar é muito fácil quando se usa voz pausada
Mas não quer dizer que nenhuma palavra esteja errada
Tenho ainda mais coisas a dizer
Quanto à fantasia do amor e o que quer parecer

Que é isso da história que nunca aconteceu?
Casamento que não existe e alguém que sozinho morreu?
Lá porque usamos iPhones e androids
Não quer dizer que sejamos uns mongolóides

As pessoas continuam a ter relações que começam e acabam
Não é por termos um portátil que os mundos desabam
Se uma relação não acontece então não estava destinada
Culpabilizar um gadget é uma muito grande asneirada

Somos sete mil milhões de pessoas neste pequeno planeta
Que não conhecem outras culturas
Qual é exactamente o problema de fazer correspondência
Com um leque vasto de pessoas?

Senhor autor deste video assutador
Pouco viável e nada informador
A poesia falada é um bom método de persuasão
Mas não quando o intuito é dar às pessoas um abanão

Para finalizar quero só esclarecer
Nesta época digital comunicar é poder
Está a ser demonstrado neste caso particular
Que nunca se deve acreditar em nada antes de criticar

Agora vou deixar de rimar que isto dá uma trabalheira que nem tampouco é merecida. Espero ter esclarecido algumas coisas, mas como basta falar a rimar que as pessoas ficam todas doidas, se calhar nem esclareci nada mas vão-me bater palmas na mesma. Não? Pronto, está bem.