Olá, querido leitor. Preparado para mais uma crónica «Graças a Dois», aqui neste pequeno mas grandioso espaço que dá pelo nome de Mais Opinião? Como? Está mesmo à rasquinha para ir à casa-de-banho e, por essa mesma razão, não se sente preparado para mais uma crónica »Graças a Dois»? Lamento, mas desta vez o leitor não tem desculpa. Porra, depois de quase 100 crónicas “Graças a Dois” que a minha humilde e estimada pessoa escreveu para o Mais Opinião, e o leitor ainda não sabe que, sempre que se sentar em frente ao computador/tablet/smartphone/traquitana-que-usa-para-ler-o-que-aqui-se-escreve, tem de vir preparado para usar o belo truque do camionista de longo percurso: usar uma pequena garrafa, para poder fazer a necessidade fisiológica número um sem levantar o rabo da cadeira/sofá/cama/chão/sítio-que-utiliza-para-se-acomodar-enquanto-lê-o-que-se-escreve-por-aqui? Mau, mau… Isso quer dizer duas coisas; ou que o leitor anda desatento, ou então que anda a brincar comigo. Se, porventura, se trata da segunda opção, então tenho de fazer-lhe uma pequena reprimenda — é que o Carnaval já passou, e a história do «Ninguém leva a mal, porque é Carnaval», já não pega!
(Chichizinho feito? Até que enfim! Podemos então avançar para a crónica de hoje? Sim? Já tem a garrafinha à mão, no caso de sofrer de incontinência urinária? Ah, bom…)
Há uns dias atrás, dei por mim sentado numa sala de espera de uma clínica de saúde — para realizar uns exames de rotina — a olhar estupidamente — e, direi até, de uma forma algo perturbadora — para a televisão que estava sintonizada na SIC, no programa matinal «A Vida Nas Cartas», da taróloga Maria Helena Martins. Até aqui tudo bem, não fosse o facto de, a dada a altura, ter começado a assistir às respostas que a taróloga ia disparando às perguntas que as mulheres transtornadas com a sua vida, telefonicamente iam entregando de uma forma totalmente sofrida — chegando até a ser, por vezes, demasiado bizarra para mim.
Se as perguntas eram, por sua vez, demasiado bizarras ou simplesmente estranhas, já as respostas que Maria Helena Martins dava, eram muito simples e pouco elaboradas. A dada altura dei por mim a pensar: «Oh pá, isto assim é muito fácil e nada difícil de fazer!» E logo a seguir, o seguinte pensamento assombrou-me a mente como se de um fantasma se tratasse: «Eh pá, isto é dinheiro fácil! Eu podia muito bem ser um tarólogo! Buuuuuuuuuhhhhhh!» (O Buuuuuuuuuhhhhhh! serviu apenas para reforçar a metáfora…)
Então, depois de realizar os exames, corri para casa para colocar em prática o plano que se tinha formado na minha mente — e que me parecia ser muito credível. O plano consistia em criar uma linha telefónica para que as pessoas pudessem telefonar e pedir os conselhos de «Ricardo Espada, o Tarólogo!», pagando apenas um pequena maquia pelo serviço prestado pela minha pessoa. E se assim pensei, assim o concretizei, e horas depois já estava a receber uma chamada da minha primeira cliente! (Depois de passar quatro horas no Facebook a fazer publicidade aos serviços do grande «Ricardo Espada, o Tarólogo!», obviamente…)
E, para o caríssimo leitor entender como correu a minha sessão — e para ter consciência que é sempre possível concretizar os nossos sonhos ou ideias, mesmo que sejam tão estapafúrdias que a taxa de insucesso seja à volta de 99,9% — eu decidi transcrever para esta crónica o diálogo telefónico com a minha primeira cliente.
Foi algo assim:
Eu: Boa tarde! Ligou para o O GRANDE, FANTÁSTICO, GRANDIOSO E MARAVILHOSO TARÓLOGO RICARDO ESPADA!
Cliente: Ai, ainda bem que atendeu… Eu estou há horas para ligar, mas estava com medo que fosse tudo uma fantochada!
Eu: Uma fantochada, minha querida? Como assim, uma fantochada? Ah, já percebi: a minha querida é uma céptica no que toca ao Tarot, não é verdade?
Cliente: Eu? Não, nem por isso. Eu acredito muito no Tarot. Eu estava com medo que fosse uma fantochada, porque o número telefónico é muito estranho. É a primeira vez que vejo um serviço deste género com o número 669-69-69-69 associado, e a modos que me assustei…
Eu: Ah… Isso… Pois… Foi o único número que consegui criar… Bom, mas não nos desviemos do que realmente interessa: o facto de a minha querida querer usar a capacidade grandiosa do melhor tarólogo que existe no Universo!
Cliente: Ah, sim, sim… Mas… quem é esse melhor tarólogo que existe no Universo?
Eu: Hum… Então… É O GRANDE, FANTÁSTICO, GRANDIOSO E MARAVILHOSO TARÓLOGO RICARDO ESPADA!
Cliente: Ah! E, por acaso, você sabe onde é que eu o posso encontrar?…
Eu: Hum… Sei, sim senhora…
Cliente: Ah, isso é bestial, porque eu estou mesmo a precisar da ajuda dele… Então, onde é que o posso encontrar?
Eu: Ó minha querida… EU SOU O GRANDE, FANTÁSTICO, GRANDIOSO E MARAVILHOSO TARÓLOGO RICARDO ESPADA!
Cliente: Ah, mas isso é bestial! Quem diria que eu iria conseguir encontrar tão rapidamente o melhor tarólogo do Universo? Este deve ser o meu dia de sorte!
Eu: É… É isso, é… É uma sortuda… Bom, avancemos: como é que a minha querida se chama, e o que é que a perturba?…
Cliente: Eu? Eu chamo-me Isabelinha dos Santos de Almeida. E estou muito triste porque o meu marido não pára de beber!
Eu: Ah, ele é alcoólico? Pois, isso é mau…
Cliente: Sim, ele é alcoólico… E ele não pára de beber…
Eu: ...Ah, e a menina Isabelinha sofre muito com isso, não é verdade?
Cliente: Sim, muito…
Eu: Porque ele não pára de beber, e já não faz amor consigo?…
Cliente: Hum… Não, não é isso…
Eu: Ah, porque ele bate-lhe muito, é?
Cliente: Não, não é isso… Ele bebe muito e…
Eu: …E chama-lhe todos os nomes feios e imaginários que existem, é?…
Cliente: Não, não é nada disso… Quer dizer, ele faz isso tudo, mas o problema é que ele não pára de beber…
Eu: …E a menina Isabelinha está a pensar deixá-lo, não é verdade?…
Cliente: Não! Não é nada disso! O problema é que ele não pára de beber cerveja Sagres!
Eu: Ah… Pois… A cerveja dá cabo de um homem…
Cliente: PORRA, QUE VOCÊ É LERDO, HEM?! A CERVEJA SAGRES NÃO DÁ CABO DE UM HOMEM! ELA DÁ CABO É DA MINHA CARTEIRA, PORQUE O RAIO DA CERVEJA SUPER BOCK ESTÁ COM UM DESCONTO DE 20% EM RELAÇÃO À SAGRES, E O MEU HOMEM NÃO GOSTA DE SUPER BOCK! E EU SÓ QUERIA SABER SE ELE, PELO MENOS ESTE FIM-DE-SEMANA, ESTARÁ DISPOSTO A BEBER SUPER BOCK EM VEZ DE SAGRES?!
Eu: Ah… Eu… Bom… Eu… sinceramente, não faço a mais pequena ideia…
Cliente: Mas que bosta de tarólogo que você me saiu! Olhe, passar bem! (desliga a chamada…)
Eu: Ah… Pois… Estou ainda a aprender e tal… Olhe, a querida Isabelinha não quer deixar um pequeno donativo para o O GRANDE, FANTÁSTICO, GRANDIOSO E MARAVILHOSO TARÓLOGO RICARDO ESPADA? Hum? Oh raios, desligou…
Bom, depois disto, achei que era melhor abandonar esta ideia… Mas, vamos lá a ver uma coisa. Há que retirar sempre o que há de bom, em todas as más experiências… E nesta, em particular, eu retirei algo de muito bom: que, este fim-de-semana, a Super Bock vai estar com 20% de desconto!
Até para a semana, malta catita!
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