“O Grupo” 2/3 – Bruno Neves

Digamos que eu tomei o gosto à experiência de escrever contos e como tal tenho mais um para todos vós. Tem o sugestivo título de “O Grupo” e aborda as aventuras e desventuras de um grupo muito particular de adolescentes. Não podem perder a próxima edição desta crónica para saber o fim deste conto. Agora sim, a segunda parte deste conto. Boa leitura.

Vocês não percebem a magnitude desta festa. Realiza-se todos os anos, na mansão da família Coutinho, pelo menos três gerações. Mas este ano a festa era ainda mais especial do que nos outros anos. Este ano a mítica festa comemora 50 anos desde a sua criação. E por esse motivo a sua abertura foi realizada por toda a família Coutinho.

No cimo da escadaria, altivo e imponente, João de Sousa Coutinho. É o patriarca da família, foi ele o responsável pela criação deste já mítico evento e é graças a ele que a família Coutinho tem tanto poder e dinheiro. Um degrau abaixo, no seu fato de vários milhares de euros, Sebastião de Sousa Coutinho. É o pai do Bernardo e o líder dos negócios de família. Logo depois, de nariz empinado e largo sorriso no rosto, Bernardo de Sousa Coutinho.

Depois de umas breves palavras do seu avô e do seu pai foi tempo de assistirem à primeira surpresa da noite: um vídeo produzido nesse mesmo dia, naquela mesma mansão. Mas não era um vídeo qualquer. Era uma Lip Dub. Esta foi muito provavelmente a primeira Lip Dub realizada numa festa caseira, e Bernardo orgulhava-se disso.

O vídeo é reproduzido, todos aplaudem efusivamente, e ao descer a escadaria João de Sousa Coutinho tropeça num cabo, aparecido sabe se lá de onde, e depois de uma série de voltas no ar cai com grande estrondo em cima de uma mesa cheia de comidas exóticas, destruindo-a por completo. Alguém chamou uma ambulância e daí a minutos já o patriarca estava a caminho do hospital.

Mas a festa tinha de continuar e assim foi. A pista de dança estava agora oficialmente aberta e o público delirava perante um reputado dj nacional. Tudo parecia ter voltado ao seu ritmo habitual quando os planetas voltaram a desalinhar-se. Sebastião Coutinho caiu redondo no chão. Estava agora estendido no soalho, batalhando para respirar. Bernardo chegou rapidamente junto dele e percebeu imediatamente o que tinha acontecido. Flores. A culpa era daquelas malditas flores. Sebastião tem uma terrível alergia a certas flores. Não a todas, apenas a algumas. E naquele preciso espaço estavam dezenas delas. Com a sala meio escura e toda a aquela gente, nem ele próprio deve ter reparado nelas. Pela segunda vez naquela noite uma ambulância foi chamada à mansão Coutinho, e mais uma vez um membro daquela poderosa família estava a caminho do hospital local.

Bernardo não sabia o que fazer. Tudo parecia estar a correr mal. Tinha que tomar uma decisão e tomou a mais previsível: distrair o público. Dar-lhes algo que desvie a atenção dos infortúnios inesperados do seu pai e avô. Antecipou uma das surpresas da noite: uma flash mob mesmo no centro da pista de dança. Falou com os membros envolvidos e assegurou-se que tudo aconteceria como planeado.

Assim que a manobra de diversão começou, esgueirou-se por entre o público e foi para uma das casas de banho da sua mansão. Pôs a mão ao bolso e tirou um pequeno saco transparente. Alguém estava a tentar entrar na casa de banho. A porta estava bloqueada com uma cadeira, mas não aguentaria muito tempo. Espalhou o pó branco pela bancada e apressou-se a consumir tudo. Não podia correr o risco de ser apanhado a consumir substâncias ilegais, seria um escândalo! Num ápice tudo tinha desaparecido, o saco estava guardado e Bernardo estava tranquilamente a lavar as mãos. Retirou a cadeira que bloqueava a porta e ao sair constatou que não estava lá ninguém. Apesar de surpreendido ficou contente por, finalmente, algo ter corrido bem naquela noite.

Juntou-se apressadamente à multidão e ainda foi a tempo de entrar na flash mob. Ele próprio tinha preparado cada detalhe, logo poderia facilmente entrar em qualquer altura da coreografia. A coreografia acaba, o público aplaude efusivamente e uma fracção de segundo depois, Bernardo está estatelado no chão. Diana tentava perceber o que se passava, vinha do jardim e estava completamente encharcada. Sentia-se humilhada por estar naqueles preparos mas quando percebeu que era Bernardo que estava estendido no chão correu para ele, abraçou-o e começou a chorar. E pela terceira vez na mesma noite um membro da família Coutinho era levado para o hospital. Inesperadamente aquela tornou-se na pior noite de sempre da família Coutinho…

Como é que esta noite tão magnifica se tornou repentinamente num autêntico pesadelo?
O que será que ainda está para acontecer neste festa?
Será tudo coincidência?

Não podem perder a próxima edição do “Desnecessariamente Complicado”!  Até lá, boas leituras!


Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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