“O Grupo” 3/3 – Bruno Neves

Digamos que eu tomei o gosto à experiência de escrever contos e como tal tenho mais um para todos vós. Tem o sugestivo título de “O Grupo” e aborda as aventuras e desventuras de um grupo muito particular de adolescentes. O fim deste conto é agora revelado. Agora sim! Boa leitura.

Diana não podia acreditar na incrível coincidência que tinha sido entrar pela mansão adentro logo quando Bernardo caiu ao chão. Ia precisamente contar lhe o quão mal lhe estava a correr a noite: estava no jardim a falar ao telemóvel com a sua mãe quando sentiu um empurrão nas costas e como estava à beira do lago acabou por desequilibrar-se e cair dentro do mesmo! Para além do prejuízo que teve com o seu vestido e com o telemóvel, o cabelo ficou uma lástima. Então olhou para trás e viu o Matias aos beijos com uma rapariga. Ficou escandalizada! Foi então que apareceu a Bárbara, viu aquela autêntica cena de teatro e começou a gritar e a chamar-lhe nomes!

Bárbara estava possuída! E então virou-se, olhou em redor, avistou uma mesa com aperitivos bem perto dela, esticou o braço, agarrou numa garrafa e atirou-a com toda a força à cabeça de Matias! E o mais incrível é que acertou em cheio. Matias caiu redondo no chão, a rapariga fugiu pelo meio do jardim cheia de medo e a Bárbara ficou escandalizada com a sua própria pontaria!

Felizmente o Matias ficou apenas com corte na cabeça, nada de muito grave. Bárbara tentava confortá-lo enquanto Diana ia chamar o Bernardo para tentar resolver a situação. Agora Bernardo estava a caminho do hospital e Matias também. Bárbara ia a acompanhar o seu namorado (talvez já não fossem namorados, mas disso falariam mais tarde) e Diana juntou-se-lhes para ir ter com o seu namorado.

Portanto ainda a noite nem vai a meio e já estão quatro pessoas no hospital, entre elas os anfitriões da festa. Era preciso alguém tomar as rédeas da festa e o único com capacidades para tal era o Rui. Ou melhor o “Costa, Rui, Costa”.

A partir daí a noite correu como o esperado: Rui brilhou no seu papel de cicerone e a sua irmã Odete brilhou ao aparecer com um vestido lindíssimo que ninguém percebeu bem como conseguiu comprar. A noite chegou ao fim e apesar de atribulada acabou por ser uma grandiosa festa!

Mas agora perguntam-se vocês: “Como sabes tu tudo isso senhor narrador?” Têm a certeza que querem saber? Pronto, se querem tanto saber eu conto. Deixem-me apresentar: chamo-me Francisco (mas todos me tratam por Chico). Posso-vos dizer que estive presente em toda a história sem nunca ser “visível”. Sou filho do jardineiro da escola secundária que frequento. Eu e “O Grupo”. Eu sempre ambicionei pertencer ao grupo deles, mas eles sempre acharam que eu não era suficientemente bom para isso. Apesar das minhas provas constantes, para eles eu nunca seria bom o suficiente.

Então tive de lhes dar uma pequena lição. Estragar a maior festa do ano passou a ser o meu objectivo. E foi mais do que atingido. Foram ingénuos ao ponto de pensar que era tudo coincidência? Eu digo-vos como tudo aconteceu: bastou estar no sítio certo e puxar um cabo para provocar a queda do João de Sousa Coutinho; bastou aconselhar o meu pai quanto às flores certas para a festa para despoletar um ataque alérgico a Sebastião Coutinho; pressionado por estar alguém a tentar entrar na casa de banho Bernardo não hesitou em consumir tudo de uma vez (aqui admito que tive sorte, mas todos precisamos de sorte na vida), Matias traiu a namorada ao ser seduzido por uma rapariga que subornei e acabou por ser atingido na cabeça por uma garrafa (novo golpe de sorte, eu apenas queria o fim da relação entre ele e a Bárbara) e a Diana acabou encharcada e humilhada.

Tudo saiu perfeito. O Rui e a Odete não são como eles e como tal resolvi ajudá-los. Bastou criar as condições para o Rui ser o cicerone e brilhar. E quanto à Odete, convenci a minha mãe, que é lojista, a fazer-lhe um desconto no vestido que ambicionava comprar para a festa.

Qual a moral da história? Os grandes também caem e por vezes os totós por vezes também vencem. Não se esqueçam de  que tudo na vida acontece por uma razão: não existem coincidências!


Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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