O Idiota da Aldeia – Crónica nocturna de um porco idiota

Noite. Altas horas da madrugada, aliás. Local? Um qualquer sítio de boémia nocturna. Muita cerveja dentro do organismo. Algumas bebidas brancas. Eis que senão quando surge aquela familiar sensação. Sim, essa mesmo. “Tenho que mijar”, digo para a pessoa que está ao meu lado. Infelizmente, a pessoa não me conhece e fita-me com um olhar estranho. Embaraçado, sondo o bar à procura da casa-de-banho. É ali. Dirijo-me até ela.

Espero alguns minutos na inevitável fila, juntamente com mais alguns tipos ébrios que por ali se encontram. Formamos um grupo castiço. Finalmente, chega a tão aguardada hora. É a minha vez de ingressar na única casa-de-banho do estabelecimento nocturno. Engraçado como, num sítio onde só vendem líquidos, apenas existe um local para os verter. Entro no dito local, alcanço o trinco para fechar a porta e noto que o trinco não fecha pois está estragado. Sem problema. Um pé na porta, para evitar que alguém irrompa por ali adentro, outro pé colado à sanita ou urinol, uma mão apoiada na parede – a única coisa que evita que eu não me estatele no chão – e outra mão a segurar o Big C. Escusado será dizer que tenho o tronco todo torcido. Assumo, pois, a identidade de um contorcionista de circo. Depois, vem a melhor parte. Mudo a água às azeitonas, enquanto um arrepio de prazer se apodera da minha espinha torcida. Finito. Pronto para continuar a missão de consumir o equivalente ao meu peso em cevada.

Mas antes disso, e enquanto saio da latrina, um pensamento apodera-se da minha mente: “Então, seu porco, não vais lavar as mãos?”. Penso no frio lá fora e nas minhas mãos a gelar enquanto seguro um cálice de cerveja bem fresca. “Caguei, ninguém vai saber”, penso, enquanto trajo um ar de quem cometeu a burla do ano e escapou. Abro a porta com um ar confiante. Mal saio, dou de caras com três belos espécimens de mulher que me olham, enquanto aguardam a sua vez na tão misteriosa casa-de-banho feminina. “Merda”, penso, “agora vou ter mesmo que lavar as mãos”. É a questão de manter viva a possibilidade de alguma vez manter relações sexuais com alguma daquelas tipas que está aqui em causa.

Então, num irónico volte-face, sou obrigado a dirigir-me com artifical naturalidade para o lavatório cuja localização é num lugar comum a ambos os sexos e, para cúmulo dos azares, mesmo ao lado daquelas três musas. Todavia, eu sou obstinado e matreiro. Decido simular a lavagem. Abro a torneira, molho as pontas dos dedos e, num momento de distracção daquele belo trio, faço uma sequência de gestos rápidos nos quais simulo pôr sabonete e lavar as mãos. Quando elas se parecem concentrar novamente na minha pessoa, já eu estou numa épica simulação de limpeza das mãos com papel. Sorrio para as chicas.

Triunfante, Subo as escadas. Peço outra imperial. Á medida que vou sorvendo a “loirinha”, rio-me e penso que devia ganhar um óscar pela minha representação. Posso ser porco, mas sou um porco realmente genial. Então, no meu estômago, a cerveja encontra a feijoada que comi ao jantar e as duas chateiam-se. Eis que senão quando chega a menos familiar e mais trágica sensação. “FODA-SE, tenho que cagar!!!”.

Corro como o Obikwello para a casa-de-banho, ultrapassando um outro grupo de seis mulherões que aguardam cá fora por vez. Felizmente, a “casinha” dos homens ainda está livre. Assumo novamente a posição de contorcionista, mas desta feita numa posição mais ousada e desafiante. De seguida, evacuo com toda a força do meu ser. Alívio supremo. Enquanto termino o meu número inesperado, lembro-me da lavagem de mãos. “Tranquilo, sei exactamente o que fazer. Sou provavelmente um dos melhores actores do mundo”, penso orgulhoso. Estico a mão e constato, terrificado, que não há papel higiénico. Do outro lado da porta, seis mulheres esperam…