Descubra o Preconceito – O Idiota da Aldeia

Nunca fui apologista de generalizações, mas a verdade é que existem algumas que fazem sentido. Refiro-me, por exemplo, ao pequeno grupo de pessoas que mais contribui para muitos dos problemas que acontecem diariamente. Vocês sabem de quem é que eu estou falar: aqueles que andam sempre com roupa nova e grandes carros, que controlam hospitais e supermercados. Pessoas que roubam e que fazem tudo o que lhes apetece, sem nunca sofrer as consequências, pois parece que estão acima da lei. Exactamente: os ciganos.

Só que ninguém fala mal deles, ninguém ousa criticá-los. E porquê? Porque toda a gente tem medo de ciganos. Se estivermos a conduzir e nos depararmos com um carro parado no meio da estrada, buzinamos, refilamos e insultamos o condutor. No entanto, se virmos que o condutor é de etnia cigana, tornamo-nos logo na pessoa mais compreensiva do mundo: “Se calhar teve de parar aqui porque está à espera da mãe que é velhota e não pode andar. Eu espero, não há problema.” E este receio leva-nos a adoptar um comportamento perante os ciganos que é semelhante ao que adoptamos perante um tumor: quando detectamos algum num local, ficamos logo preocupados em saber se é só aquele ou se existem mais.

O medo de pessoas desta raça está tão globalmente enraizado que, em nenhum noticiário do mundo, aparecem notícias de ciganas que foram violadas. Os violadores não se atrevem. Mais: nunca, na história da Humanidade, existiu um serial killer cujo perfil das vítimas incluísse a característica “etnia cigana”. Eu acho que mesmo Deus receia esta raça. Tem medo que acampem à porta do paraíso e que se ponham a gritar, a chorar e a fazer ameaças até que Ele seja forçado a deixar os seus familiares entrarem.

Claro que os ciganos não têm apenas características negativas, há coisas em que eles têm valor. Enquanto os ricos roubam os pobres e os pobres assaltam os ricos, os ciganos gamam toda a gente, não discriminam ninguém. São uma espécie de justiceiros sociais. Sim, eu sei que nem todos os ciganos roubam, mas não me parece de bom tom vir para aqui falar de ciganos que já faleceram.

Se o leitor acha que este texto tem uma conotação discriminatória, eu gostava de lhe dizer o seguinte: a verdadeira discriminação racial é não dizermos mal de ciganos. Não temos problemas em criticar e satirizar africanos, asiáticos, caucasianos e esquimós, mas em relação aos ciganos já pensamos duas vezes porque assumimos que, se eles ouvirem ou lerem as nossas críticas, nos irão fazer mal. E essa é a verdadeira discriminação. Assim, não tenham medo de criticar e satirizar os ciganos, com generalizações e exageros – como fazem com todas as outras raças – pois assumir que todas as pessoas desta etnia não têm sentido de humor ou capacidade de aceitar críticas é que é o verdadeiro preconceito.

 

NOTA: No caso do leitor ser cigano: este texto foi escrito por um sapo gigante, que é cliente da Sapo e que tem vestida uma t-shirt do Cocas.


Crónica de Amílcar Monteiro
O idiota da Aldeia