O Idiota da Aldeia – Empreendedorismo

Numa altura de C.R.I.S.E. (Consequências Reais e Inevitáveis do Sistema Económico), já todos percebemos que existem medidas económicas que devem ser obrigatoriamente implementadas. Não com o propósito de melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas sim com o de acalmar esses seres mitológicos que são os mercados e que, aparentemente, sofrem de problemas de ansiedade. Mas enfim, é natural que os economistas se debrucem sobre entidades imaginárias quando, na ciência que estudam, uma das teorias mais conhecidas defende a existência de uma “mão invisível” que resolve todos os problemas.

Para além destas medidas de cariz económico-místico, surgiu também um fenómeno bastante defendido e difundido que parece poder revigorar a economia: o empreendedorismo. Apesar de achar muito bem que as pessoas sejam pró-activas e inovadoras, que tentem gerar riqueza e mudar o mundo com a sua atitude, não suporto a constante lavagem cerebral de que temos TODOS de ser empreendedores.

Lamento se estou a desiludir alguém mas não podemos ser todos empreendedores. Se assim fosse, só em Portugal existiriam dez milhões de empresas cada uma delas apenas com uma pessoa. Não há dúvida que isso contribuiria para aumentar o número de PME’s e que o comércio voltaria a ser mais familiar mas, ou muito me engano, ou isso não iria melhorar o estado da economia.

E depois, nem todas as pessoas são empreendedoras. Umas são, outras não. Alguns de nós não têm isso na sua personalidade e não é por isso que deixamos de ser socialmente relevantes. Aliás, a meu ver, o mundo precisa é de menos pessoas com atitude empreendedora. Dessa forma, talvez pudéssemos ter evitado que ideias como  a Cientologia, a Casa dos Segredos ou toda a música Techno fossem efectivamente concretizadas.

É que contrariamente ao que nos é vendido, ser empreendedor não é uma característica necessariamente positiva. Sabem uma pessoa que foi extremamente empreendedora? O Hitler. O pequeno Adolf analisou o mundo, descobriu um nicho de mercado e mobilizou todos os seus recursos para concretizar o seu sonho. No entanto, há qualquer coisa que me diz que esta atitude de pro-actividade do Führer não tornou o nosso planeta num sítio mais agradável.

Resumindo, é positivo que as pessoas sejam pró-activas e que se promova o empreendedorismo, mas é também importante ter a consciência de que as pessoas têm diferentes personalidades e de que nem sempre empreender significa melhorar. No entanto, espero sinceramente que aquelas pessoas que têm um espírito empreendedor consigam melhorar o estado da economia e do mundo. Caso contrário, a única esperança reside em confiar nos economistas e esperar que um Unicórnio gigante feito de gomas venha melhorar tudo isto com o seu casco invisível.