O Mal dos outros – Laura Paiva

Não há coisa que menos suporte do que ouvir dizer “deixa lá, tudo se resolve! Há quem esteja muito pior, com problemas muito mais graves…”

Não é para ouvir isto que se partilham os nossos problemas e angústias. Acham mesmo que eu não sei o mal que vai por este Mundo? É claro que sei e que, obviamente, sabê-lo me entristece a alma e me aperta o coração. Talvez por isso mesmo não haja dia que por mim passe em que eu não agradeça o privilégio concedido de por cá andar no gozo de todas as minhas faculdades e na melhor das companhias – sim, porque até Judas teve o direito de estar rodeado de bons amigos.

Mas como posso eu ter, do mal dos outros, algum tipo de consolação? Não posso! Vem isso minorar os meus problemas ou trazer-me alguma paz? Não, não vem! Considerar sequer essa possibilidade seria sinónimo de um colossal egoísmo existencial. Sentir-me-ia muito mal se achasse estar numa posição superior na escala do mal pois a gravidade dos meus problemas é directamente proporcional à minha realidade, à minha vida.

Que tudo se resolve, a bem ou a mal, eu não tenho a mínima dúvida. Sempre ouvi dizer que a única coisa que não tem solução é a morte. Mas até nela há quem procure a solução. Será que a encontra? A isso já não sei responder.

Dizem que devemos fazer bom uso de todas as pedras que aparecem no nosso caminho, que devemos tirar ensinamentos das voltas que a vida dá e das partidas que pregamos a nós próprios – estas, para mim, são as piores.

Quando eu desabafo com um amigo, o que espero ouvir é “eh pá, parece-me que tás lixada! Mas, caraças, estou cá eu… com essas pedras, vamos construir um castelo”

É assim a essência dos verdadeiros amigos ou estou errada?


Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos