O meu pequeno Jardim – parte 2

Era com o crescimento típico de um revoltado a caminho da serenidade que me levou à introspeção incipiente, crua, nua, destrutiva, construtiva e nada contraditória. Achava eu que a falha era inerente ao ser humano, que a transcendentalidade da falta de ação era apenas comparável à devassa retórica de quem promete pão a uma sociedade de mortos de fome. Que o Amor andava de mãos dadas com a Morte, enquanto esta resolvia cirandar por aí, qual transeunte perdido pelos campos encontrados.

Seria exemplificativo da evolução da emocionalidade pensar que a verdade, a razão e a Universalidade nada mais eram que utopias de uma criança em busca do seu espaço no Mundo?

A cinza do meu Jardim ressoava na minha mente, como um espinho encravado no pé de Hermes. Não sabia se a sua existência havia sido perpetuada, sem o meu cuidado, ele havia sido dotado, como donzela em dia de casamento, de abandono.

Imaginava eu vê-lo em pó, aplanado por uma qualquer bomba, ou violado por introspetivas trepadeiras, inquirindo as outrora suaves pétalas de rosa sobre a composição da água e do seu alimento antes de, como lobos de uma qualquer bolsa de valores, surripiarem todo e qualquer valor, deixando apenas a abjeta carcaça como prova da sua existência. Mas tal era uma impossibilidade. Recordava-me o Belo, essa instituição, frequentemente ignorada pelo ritmo frenético societário. Recordava-me a inacabada (e perfeita) equação própria da eventualidade incontrolável:

Vaidade,

O outro sentimento impassível,

Lamentável,

Terrífico para a mente

Aterrorizada, ou por outros termos:

Ridicularizada pela realidade

Externa, quando na verdade, tudo o que contava… Era o…

Interior. O meu pequeno Jardim.

Impassivelmente duvidoso da minha resolução, olhei em frente, descabelando as penas que permitiam aos ventos voar sobre as nuvens, em busca daquilo que realmente assumia importância.

Que coisa seria essa, cuja importância seria apenas subsidiária a poeirentos ideais?

Não sei. Mas está na hora. Penso enquanto me ergo e miro o horizonte, montanhoso.

Continua…

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