O “músculo” do HOT BLADE 2012 – Francisco Duarte

Nas últimas duas semanas decorreu no Norte do país o exercício Hot Blade 2012, o maior exercício militar envolvendo helicópteros no espaço europeu e o quarto do género. A temática deste ano foram ações em cenários quentes e poeirentos, do tipo do Afeganistão, utilizando os helicópteros em combinação com outros meios aéreos, como aviões de carga e caças, assim como meios do Exército. Isto não apenas serviu para treinar esta tripulações a operar juntamente com helicópteros de diferentes modelos utilizados por nações aliadas no teatro de operações, cuja habituação se verificou como sendo algo complicada sem treino prévio, e, também, treinar a coordenação das tripulações dos helicópteros com outros tipos de unidades e diferentes ramos das Forças Armadas.

Para quem esteve atento aos céus, houve a possibilidade de se verem uma série de máquinas que raramente passam por estes lados. Aproveitando o contexto, vou aproveitar para exercitar o meu gosto pela aviação para fazer uma leve descrição das aeronaves que estiveram envolvidas no exercício.

 

Boeing CH-47D Chinook (Real Força Aérea Holandesa)

Talvez o helicóptero mais peculiar do Hot Blade, o Chinook é um design que remonta aos anos de 1950, quando o Exército dos Estados Unidos da América procurava substituir aparelhos mais antigos com motores de pistons por máquinas mais avançadas e capazes, equipadas com turbinas. Um aparelho relativamente grande, com capacidade para transportar até 33 soldados, é facilmente reconhecível pela forma tubular e pelos grandes rotores montados na frente e na cauda, que lhe conferem uma característica forma de “banana”. Tem sido continuamente fabricado desde os anos 1960 e é o cavalo de carga principal de uma série de forças armadas aliadas dos EUA. A Holanda trouxe 3 destes pesados helicópteros para Portugal.

 

Augusta A109A (Componente Aérea do Exército Belga)

As Forças Armadas Belgas sofreram uma remodelação em 2002 que incluiu os três ramos numa única estrutura com seções especializadas. Nesta restruturação o leve A109 foi mantido como o helicóptero de reconhecimento por excelência por ser rápido, ágil, fiável e versátil. Foi concebido nos anos 60, e para além dos 6 passageiros e dois tripulantes, pode ainda carregar armamento ligeiro e diverso equipamento de vigilância, como o apresentado pelos 3 aparelhos que fizeram parte do Hot Blade. O A109 foi adquirido pela Bélgica em 1988, mas essa compra foi rapidamente envolta num escândalo de subornos que levou, inclusive, à demissão do Secretário-Geral da NATO da altura.

 

Augusta-Bell AB212 Twin Huey (Força Aérea Austríaca)

Fiável, leve e adorado pelas tripulações, o AB212 é uma das muitas iterações do lendário UH-1 do Vietname. Quando primariamente surgiu no campo de batalha do Sudoeste Asiático impressionou pela capacidade de carga (oito tropas nos modelos mais recentes) e pela simplicidade, aterrando sobre patins equilibrados a óleo e não rodas, e com grandes rotores de duas pás que fazem um som cortado característico, totalmente distinto do de qualquer outro helicóptero do mundo. Os austríacos trouxeram 6 destas máquinas de dois motores para o Hot Blade, e é com grande entusiasmo que são recebidas pelos aficionados da aviação.

 

Eurocopter AS532U2 Cougar Mk.II (Real Força Aérea Holandesa)   

O Cougar é um descendente de um modelo conhecido em Portugal, o Puma, que a nossa Força Aérea começou a utilizar no final a Guerra Colonial e acabou por desativar em 2011. Mais avançado do que o Puma que o precedeu, o Cougar mantém as mesmas linhas, e, em todos os aspetos pode ser descrito como um helicóptero clássico, com um rotor principal e uma longa cauda na ponta da qual está instalado um pequeno rotor lateral que serve para contrariar a rotação do principal e evitar que a máquina gire descontroladamente. O peso máximo de descolagem ronda as 9 toneladas e no exercício esteve presente um exemplar, do modelo utilizado na Holanda e especializado em busca e salvamento.

 

NH Industries NH90 TTH (Força Aérea Finlandesa)

O NH90 é a aeronave mais recente do Hot Blade, e os finlandeses trouxeram 3 para o exercício. Os primeiros destes aparelhos entraram em serviço em 2007, e cerca de 100 foram já entregues. Foram concebidos com as tecnologias mais modernas, de modo a se adaptarem uma série de tarefas, mas os modelos que têm voado nos céus lusitanos foram especialmente adaptados para busca e salvamento, e o contacto com as experientes tripulações portuguesas, que operam o muito maior EH101, certamente que terá sido componente importante do exercício.

Augusta-Westland EH191 Merlin (Força Aérea Portuguesa)

Um dos orgulhos da Força Aérea Portuguesa, o Merlin é considerado um dos melhores aparelhos do mundo na sua categoria. Representa um projeto multinacional, desenvolvido no Reino Unido e em Itália, com vista a substituir uma série de aparelhos mais antigos, alguns deles já icónicos das forças armadas que o adquiriram. Tem uma vasta capacidade de transporte de tropas e é versátil e com alcance suficiente para ser utilizado em busca e salvamento, guerra anti navio, entre outras tarefas. Foi este o modelo que substituiu o velho Puma, entrando ao serviço em 2005 na Esquadra 751, e com 2 aparelhos a servirem no exercício.

 

Sikorsky CH-53G Sea Stallion (Luftwaffe)

Assim como sucedeu com o Chinook, o Sea Stallion foi um produto da corrida ao armamento do início da Guerra Fria, e no seu desenvolvimento ultrapassaram-se muitas barreiras do desenvolvimento de helicópteros. Entrou ao serviço nos Estados Unidos em 1966 e foi muito utilizado no Vietname. Ainda hoje, a família do CH-53 continua a representar os maiores helicópteros desenhados no ocidente, apenas ultrapassados por alguns modelos russos. Os 5 Sea Stallions alemães presentes no Hot Blade não são apenas os maiores no exercício, mas também os mais antigos, já com 30 anos, sendo reconhecíveis pelas grandes dimensões e pelos motores que produzem trilhas de fumo facilmente observáveis.

 

Lockheed F-16AM Fighting Falcon (Força Aérea Portuguesa)

Apesar da sua natureza como exercício de helicópteros, o Hot Blade serviu igualmente para treinar ações conjuntas com outros tipos de aparelhos, como é o caso de caças de escolta, uma inovação no que diz respeito a este tipo de exercícios. Os 4 F-16 utilizado durante o exercício (Esquadras 201 e 301) representam o único caça atualmente em serviço na Força Aérea Portuguesa e dos mais icónicos do Ocidente. Rápido, ágil e bem armado, este caça de um só motor a jato está em serviço nos Estados Unidos desde os anos 70, possuindo esse país mais de 1000 em inventário. Chegou a Portugal em 1995 e recentemente iniciou-se o programa de modernização MLU para garantir que ainda permanecerão os guardiões dos céus nacionais durante mais alguns anos.

 

No total estiveram envolvidas oito nações neste exercício. Para lá de Portugal, Alemanha, Áustria, Bélgica Holanda e Finlândia, também a Suécia e o Reino Unido participaram como observadores.

 

NOTA: O autor gostaria de agradecer às relações públicas do Hot Blade pelas informações e pelo esclarecimento de dúvidas.

Poderão saber mais sobre o Hot Blade 2012 no seguinte site:

http://www.emfa.pt/hotblade/index.php?lang=PT

 

Crónica de Francisco Duarte
O Antropólogo Curioso