O Natal Mais Feliz da Minha Vida – Júlio Silva (Extra – Natal)

O Natal Mais Feliz Minha Vida..

O Natal, só por si é uma quadra festiva que meche muito com os sentimentos dos Portugueses e não só.

Comigo, a data do 24 para o 25, é a que mais me toca, tanto a nível sentimental como de recordações que me trás à memória, umas boas outras menos boas.

Mas para que compreendam melhor o que eu estou a tentar dizer, teremos de voltar aos anos 70 mais precisamente ao ano de 1973, tinha eu 14 anos.

E foi neste ano que passei a consoada, mais bonita, mais acolhedora e a mais alegre, que eu já passei alguma vês no seio da minha família.

No entanto, terei que falar-vos um pouco das minhas origens, para que os leitores possam compreender todo este conjunto de sentimentos, que eu guardei na minha memória até ao dia de hoje.

Este mesmo Natal, de 73 foi passado com os meus avós paternos, com os quais eu vivi desde tenra idade até há aos meus 18 anos.

O meu avô era ajudante de máquinas na Marinha Mercante, trabalhou em paquetes como por exemplo Santa Maria, o Infante Dom Henrique entre outros.

Por essa razão, nunca sabia quando é que estava em casa, e por tal motivo, também nunca sabia quando é que passaria o Natal em casa.

O meu avô foi pai de dois filhos, ou seja o meu pai e o meu tio.

O meu pai era pescador artesanal e sazonal da Ria de Aveiro, este estava sempre em casa nas noites de Natal.

Já o meu Tio, esse andava à pesca do Bacalhau, lá para o Norte da Groelândia, fazia viagens de 5,6 ou 7 meses isto tudo para livrar à tropa.

Para isso, teve de fazer desta pesca, a sua vida durante 7 anos consecutivos.

Escusado, será dizer, que foram muito raros os Natais que ele passou em casa, durante esta época.

A minha avó, essa era comerciante, a minha tia era Costureira e a minha mãe era Doméstica. Portanto, explicadas as minhas origens, vou relatar o que se passou de tão interessante no Natal de 73, para que este me ficasse na memória como o melhor natal da minha vida.

E é simples, é que pela primeira vês, e única em 53 anos de vida que eu já levo aqui ao de cima da terra, a minha família conseguiu estar toda reunida na noite de consoada e no dia de Natal.

Recorda-me que à mesa na ceia estavam assentadas 17 pessoas, entre os meus avós, o meu Tio e Tia, os meus pais e irmãos do meu avô um irmão e uma irmã, cunhado e cunhada e sobrinhos do meu avô que vieram de Lisboa, completavam as 17 pessoas.

Coisa muito rara numa família que cujo chefe de família se dedica ao Mar, acontecendo isto apenas quando são emigrantes.

Mas nesse ano de 1973, eu estava a jantar o tradicional Bacalhau, com as batatas a hortaliça cozinhada ao lume de lenha, com toda a minha família paterna junta.

Ouviam-se histórias passadas recentemente, e vividas nas viagens tanto pelo meu avô como pelo meu Tio.

Histórias esta sque me davam arrepios, e que me faziam pensar e jurar a mim mesmo, que nunca viria a ser pescador ou marinheiro.

Depois à meia-noite, foi o abrir os presentes, o que devido à quantidade de familiares presentes nesse Natal, foram com mais abundância do que os demais e a que eu estava habituado.

Mas mesmo, que não tivesse havido tantos presentes, eu já estava satisfeito por passar um Natal, tão alegre e feliz por ter as pessoas mais queridas ali todas reunidas.

E por elas estarem tão alegres e satisfeitas, ao contrário dos anos anteriores, que na hora de cear havia sempre choro, porque faltava ali à mesa ora fosse o meu avô ou o meu Tio, e por vezes eram os dois que não estavam presentes.

Mas nesse Natal de 73, a alegria sobrepôs-se à tristeza dos demais anos.

A felicidade, reinava em casa dos meus avós, felicidade essa que durou até ao sol nascer já no dia de Natal.

Porque, e apesar da casa dos meus avós ser uma casa térrea, tinha na altura 13 divisões entre Cozinhas salas e quartos de dormir, teve-se que improvisar umas camas no chão, para que todo o mundo pudesse descansar algumas horas.

É por esta razão, que eu digo que o Natal de 73, foi o único que me deixou marcado para o resto da vida.

Hoje em dia, já não tenho os meus avós nem o meu pai cá entre nós, uma vês que eles já faleceram, o meu Tio e a minha Tia sua esposa, estão emigrados no Canadá, já à 39 anos, por sua vês os meus dois irmãos também estão emigrados no Canadá um à 27 anos e outro + ou – à 20 anos, já têm famílias constituídas.

Eu por minha vês, emigrei para o Luxemburgo, e apesar de ter vindo passar sempre todos os anos o Natal a Portugal, nunca mais tive a oportunidade de ter toda a minha família reunida e sentada à mesa na noite de consoada, tal e qual o ano de 1973.

E este caso não é único, claro que não, num Concelho como o é a Murtosa com um fluxo enorme de emigração, normalmente em todas as famílias Murtoseiras existe um caso igual ao meu, existe Natais que são alegres outros à que são tristes, e a chorarem na hora do jantar. Porque, sente-se a falta de algum familiar que é muito querido a essa família, e que apesar de estar vivo se encontra muito longe.

Eu pelo meu lado, não posso dizer que não tive a minha cota de felicidade vivida num Natal, embora também tivesse tido Natais muito tristes por ver a minha avó e a minha Tia, a chorar por não terem os seus maridos, juntos delas na noite de consoada.

Para todos os meus amigos, conhecidos e até inimigos eu desejo uma Santa Quadra Natalícia, pois a minha será razoável desde que “Deus” me dê saúde.

Porque feliz, mesmo feliz, seria passar a consoada de novo com os meus irmãos, cunhadas e sobrinhos/as, os meus Tios, a minha mãe, juntamente com os meus filhos noras genros e netos/a todos juntos tipo repetição do ano de 73.

A todos Feliz Natal e um Ano Novo cheio de prosperidades.

 

Crónica de Júlio Silva
A opinião de Júlio Silva