O Natal, a Sociedade e o individuo – Um tempo de reflexão – Viriato Queiroga

Caro eventual leitor,

Escrevo-lhes hoje sobre uma temática cuja importância, ainda que variável de pessoa para pessoa, é sobejamente conhecida. Seja religioso, ou não, não podemos negar a importância Natalícia em todas as vertentes das nossas vidas. As ruas estão decoradas, o ar pulula com canções temáticas, as pessoas pensam nos seus entes (mais concretamente em prendas a oferecer) os investidores esperam ansiosamente pelo número de vendas com que fecharão o ano, os políticos reformulam táticas para chegarem aos ouvidos dos seus eleitores, os estudantes dizem que estudam, mas desfazem-se nas maravilhas vídeo-jogáveis, antecipando o terrível fado que é enfrentar os exames e aulas em Janeiro… Enfim, toda uma panóplia de atividade inerente à confortabilidade natalícia.

Confortabilidade conferida pelos princípios de amor e fraternidade, inicialmente perpassados pela religião (Cristã).

Mas o que pensar do frenesim consumista observado nesta época? Não pondo em causa a existência dos costumes criados nos últimos 70 anos, mas qual o significado do Natal num tempo em que exprimir sentimentos pelos nossos entes queridos significa comprar uma prenda maior e melhor que a do ano transato?

Existe um interessante princípio social que versa o seguinte:

“As prendas exprimem exatamente quão mal uma pessoa conhece outra”

No que concerne à Sociedade, essa instituição que de tão grande e genérica envergadura, pouco engloba, é difícil perceber até que ponto existe uma penetração efetiva de princípios de amor, entre-ajuda e amizade. Um bom exemplo será o consumo de produtos natalícios, e, mesmo tomando em consideração as instituições de ajuda, é possível observar o contraste entre aqueles que são capazes de consumir e aqueles que não o podem, ou que se vem obrigados a fazê-lo em menor medida.

É bem sabido, e tal faz parte de uma sociedade de capital e consumo, que as desigualdades existem, mas até que ponto será aceitável a sua existência? Melhor, até que ponto podemos pregar os valores do “amor e fraternidade” se deixamos um espaço imenso entre necessitados e beneficiários?

O que queremos da nossa sociedade?

Esta, caro leitor, é a pergunta que lhe deixo. É nos tempos em que a nossa ação se torna automatizada que a necessidade de pensamento se torna premente. A crise roubou muito daquilo que fomos capazes de melhorar em Portugal e na Europa, mas certamente que não foi capaz de roubar a capacidade de pensar, sentir e amar.

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