“O ódio tem melhor memória do que o amor” – Laura Paiva

Dizem que perdoar é uma virtude.  Dizem que saber perdoar é algo digno de pessoas grandiosas.
Preciso urgentemente de ter essa capacidade pois o ódio consome-me, todos os dias, a todas as horas!

Como é possível amar e odiar alguém na mesma proporção?
Como posso, há anos, viver com esta dualidade de sentimentos?
De vez em quando, quase julgo ser capaz de a perdoar mas só para, logo a seguir, sentir ainda mais revolta, mais ódio!
Dias há em que não suporto sequer ouvi-la, no seu queixume quase constante e na sua súplica por atenção.

Será, meu Pai, que ainda hoje estarias ao meu lado se te tivessem prestado a atenção e o cuidado atempado que tanto precisaste?
Não tenho nada nem ninguém que me diga que sim!
Não tenho nada nem ninguém que me diga que não!
A única certeza que tenho é a de não ser capaz de perdoar a quem te prolongou a agonia e o sofrimento que haveriam de levar à tua partida.
Uma partida injusta, repentina e precoce. Dizem que os bons partem cedo. Eu digo que só os bons partem cedo!


Ainda sonho contigo.
O teu sorriso, o teu riso, os teus olhos lindos, os teus modos meigos e gentis, a tua voz…
Quase espero encontrar-te ao me lado, ao acordar! Tantas saudades…

Deixaste-me, partiste para um lugar onde não te posso ver, onde não te posso tocar.
O dia mais triste da minha vida.
Despedi-me de ti.
Foste a enterrar.
Ainda hoje ouço a terra a bater no teu caixão. Ainda hoje estremeço pela lembrança.
Não fui capaz de ver – o barulho, compassado com o bater agitado e triste do meu coração, ecoava em mim e deixou-me cega!

Este poderia bem ser um desabafo feito num sofá de psicólogo mas é apenas a primeira vez que me permito pensar em “voz alta”  reconhecendo perfeitamente o mal de que padeço, na esperança de me sentir um pouco melhor.
Mas não creio que haja nada capaz de atenuar a dor, a raiva e a revolta que sinto em mim.
O amor e o ódio inundam-me o corpo e consomem-me a alma, noite e dia, sem sinais de tréguas.

Quem sabe, um dia, consiga perdoar mas jamais serei capaz de esquecer.

“O ódio tem melhor memória do que o amor”
Honoré de Balzac

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos