O pai do meu filho.

Uma mulher realizada era o que se podia considerar hoje afinal estava-se a falar de umas das maiores especialistas dentro da sua área profissional. Enviuvara demasiado cedo ainda não tinha completado 25 anos e hoje já com 42 anos sentia-se uma vencedora apesar de tudo uma vencedora  como se considerava quando se olhava no espelho todas as manhas e não conseguia deixar de mostrar um sorriso, um sorriso interior. Cedo demasiado cedo logo após a viuvez soube quais eram muitas das dificuldades da vida e aprendera como ultrapassa-las e vence-las como ninguém.

Seu maior orgulho era sem duvida o filho Santiago, desde que ficara viúva que não tivera mais nenhum homem e viveu todo o resto de juventude para o filho e para o trabalho e agora começava a colheita desses frutos. O filho era um jovem e estudante exemplar, ela fora promovida e tornara-se agora Directora do Colégio Camões em Lisboa onde dava aulas de Historia, o único senão e que começava com a idade, a independência do filho a chegar-lhe cada vez mais o peso da solidão.

Começara a sentir vontade de ter alguém perto de si, alguém amigo com quem não tivesse segredos e pudesse compartilhar todos os seus segredos e desejos custou-lhe a aceitar a ideia e a admitir que estava era a sentir falta de um namorado… Sim! Porque não? Santiago estava crescido, era já maior de idade, ela fizera um bom trabalho na forma como o criara não se sentia arrependida, antes pelo contrario. Via que o filho já pouco parava em casa aos fins de semana mas sabia que estava tudo bem Santiago era Escuteiro e sobretudo no Verão ia acampar quase todos os fins de semana, num desses fins de semana de ausência de Santiago deu por ela numa discoteca de Lisboa.

Ele também estava sozinho e bebia uma cerveja cruzaram uma vez olhares, outra e mais outra, trocaram sorrisos e a vontade de irem trocar dois dedos de conversa aumentou. Ele pediu mais uma cerveja, olhou para o que ela estava a beber vodka com laranja e pediu ao barman que fosse levar mais uma vodka com laranja a senhora do vestido castanho, foi a casa de banho.

Como ele calculara ela tinha percebido o sinal ou pelo menos mordido o isco quando ele voltou a área de diversão ela estava sentada na mesa dele esperando por ele, cumprimentaram-se com beijos no rosto, sentindo um calor enorme que lhes dava a certeza de que iriam muito mais alem, iriam ate onde a liberdade de ambos entendesse.

Ele chamava-se Salvador, Salvador Daniel como o próprio se apresentara ela vai-se la saber porque decidiu apresentar-se com nome falso e de Marisa passou a chamar-se Alda. Foram dançar e o ritmo da musica vê-los dançar lentamente e abraçados, ela sorriu e não esteve com meios termos deu-lhe um beijo, um beijo na boca que ele nunca iria esquecer.

Voltaram a mesa e ela notou, estanhou que ele começara a ficar diferente, já sabia que o mesmo era uns meses mais novo que o seu filho Santiago e que os pais estavam separados ele viera recentemente para Lisboa para iniciar os estudos académicos e estava a viver em casa de uma tia viúva, solteirona e demasiado religiosa segundo ele confessara.

Ela decidiu avançar, talvez os vodkas com laranja a mais estivessem a fazer efeito, jurou a si própria que da próxima vez que fizesse uma saída nocturna daquela maneira iria beber somente sumos naturais ou agua mineral, estava decidida ia quebrar o jejum de sexo. Avançara mais uma vez disse-lhe que era viúva a já muito tempo e não conhecera mais nenhum homem desde então. Pensou “só se ele for mesmo burro e que não percebe onde estou a querer chegar”, mais uma vez sentiu que ele recuara e convidou-o com todas as letras para irem passar a noite num hotel, ele depois de tantos recuos aceitou.

Não se lembraram de quase mais nada ate entrarem no quarto do hotel e onde depois de algumas caricias iniciais ele voltara a recuar, sentira-se atrapalhado ate a tirar a roupa, mas la foram tomar banho juntos e seguiram para cama. Alda que na realidade era Marisa sentira que nunca tivera tanto prazer e cedo atingira um orgasmo, logo de seguida ele também atingira o climax.

Ficaram abraçados, trocando caricias, ela começou a sentir-se arrependida, tinha feito amor com um estranho que não voltaria a ver nunca mais muito possivelmente mas já que ali estava queria ir ate ao fim, fizeram amor novamente e já no final da noite de loucura que ela pensara que seria única ele resolvera abrir o jogo e confessara-lhe tudo, todos aqueles recuos dele tinham sido receios e medo de não saber como fazer ou o que fazer, disse-lhe com todas as letras que era virgem ate então.

Ela ficou incrédula para jovem virgem sem experiência Salvador ate se tinha saído muito bem, tomaram banho juntos, vestiram-se, arranjaram-se, tomaram o pequeno almoço na sala de refeições do hotel ainda com o ar de cumplicidade, terminaram, cada um foi a sua vida e não mais se voltariam a ver, pelo menos assim pensou ela. Assim pensava ela mas o futuro ia mostrar uma realidade bem diferente.

O ano lectivo começava e iria ser o primeiro dia de aulas isso já era uma situação normal para uma professora com quase vinte anos de carreira mas naquele ano a situação dela era um pouco diferente o cargo de Directora do colégio aumentava-lhe o peso da responsabilidade que tinha perante as suas costas mas tudo ia correr na perfeição e além do mais não podia deixar de pensar também que mesmo sendo directora do colégio iria continuar a dar aulas. O que mais a incomodava para alem de ir ser Professora do próprio filho era aquele rapaz com quem tivera uma aventura de uma noite não lhe sair da cabeça.

Ele levantara-se com a tia aos berros e a bater na porta do quarto tinha faltado a luz durante a noite e por isso o alarme do despertador electrónico não funcionara naquela manha resumindo e concluindo ele deixara-se dormir e estava atrasado perdera a primeira aula, certamente iria perder a segunda e se não corresse depressa chegaria atrasado bem atrasado a terceira aula. Saíra a correr sem tomar pequeno almoço iria fazê-lo já na cantina do colégio e no autocarro olhou o seu horário escolar, perdera uma aula de Geografia, iria certamente perder uma de Português nada de preocupante mas serio mesmo era a terceira aula do dia de Historia, adorava Historia e tudo o que estivesse relacionado com o assunto desde de muito jovem que decidira que iria ser Arqueólogo.

Como calculara duas aulas estavam perdidas mas ia agora começar a aula de Historia era tudo novo para ele, novo em Lisboa, novo naquela escola, as pessoas eram outras, tudo estranho. Ele já calculara que a adaptação não iria ser fácil e tentou meter conversa com alguém que estivesse sozinho e encontrou um. Meteram conversa faltavam alguns minutos ainda para o inicio da aula o suficiente para ele saber que ambos tinham a paixão pelo campismo na natureza e que ambos eram Escuteiros, assim como Salvador soube também que aquele rapaz Santiago era filho da Professora de Historia com quem iriam ter a próxima aula e que por sua vez ela era Directora do colégio também.

Ela abrira a porta e não se pode dizer qual dos dois ficou com a surpresa maior, afinal para começar ela mentira-lhe e nem se chamara Alda mas isso já seria de esperar ele havia sido supostamente uma aventura de apenas uma noite mas a atracão fora muito forte e agora eles estavam ali frente a frente e ainda para mais ele começara a tornar-se bastante intimo de seu filho. Primeiro que tudo iriam ter que conversar a sós aquilo não ia poder ficar assim não podiam fingir agora que não tinha havido nada, no final da aula ela fez-lhe sinal para que ele continuasse onde estava.

Marisa agradeceu a Salvador o facto de ele lhe jurar que não ia contar nada a Santiago do que acontecera entre ambos mas ele fez-lhe lembrar que agora nada seria como dantes os destinos de ambos estavam novamente cruzados, mesmo sabendo que não podia ou que pelo menos não devia ela beijou-o novamente e estavam decididos agora que se tinham voltado a encontrar a manter uma relação amorosa.

A vida de ambos ficara diferente sobretudo a de Marisa ao longo do ano por Salvador ser quem era alem de um óptimo aluno começaram a passar mais tempo juntos Santiago sai-a para os acampamentos ao fim de semana e Salvador passava os fins de semana em casa de Marisa estavam decididos a assumir uma relação logo que possível. Santiago em principio iria aceitar e pensavam que ele ate já desconfiara e ainda fizera mais para os unir começando a convidar Salvador para ir la a casa sem que houvesse qualquer justificação ou razão para isso. Marisa e Salvador estavam decididos logo que ela deixasse de ser professora dele e em principio isso seria logo que ele entrasse na faculdade poderiam ate chocar a sociedade e o mundo que os rodeava mas pouco importava.

Bomba de ultima hora não podia acontecer aquilo não podia ser verdade mas ela começara a ter a certeza de que era e agora nada mais iria poder ficar escondido ela estava gravida e o pai claro era Salvador. Como iria ele reagir, tão novo e jovem com tudo ainda para viver. Ela sentia que não podia exigir tanto dele era como lhe estar a roubar o fim da adolescência como poderia exigir que ele assumisse um filho ainda para mais daquela maneira.

Salvador reagiu como um louco mas louco de alegria falou que se a dois já estava bom a três estaria ainda melhor ela não esperava uma reacção destas da parte dele, tão positiva, mostrando tanta responsabilidade, determinação em assumir as suas obrigações não só como de homem mas como de pai. Estavam loucos de felicidade e alegria mesmo sabendo que não iria ser fácil quando todos soubessem, foram comemorar toda aquela felicidade num passeio a beira mar com o anoitecer como pano de fundo.

Estava quase em final de tempo ninguém no colégio sabia quem era o pai daquela criança que iria nascer dentro de semanas iria ser um rapaz o que deixara Salvador ainda mais feliz e radiante e logo que soube que iria ser pai procurou um part-time e ia economizando tudo o que podia embora Marisa sempre lhe dissesse que não era necessário. Ela sentia-se culpada devia ter tido os devidos cuidados para evitar aquela gravidez.

Naquela manha o Salvador faltara a primeira aula com ela, facto que ela notara mas não dera grande importância era normal isso acontecer ainda para mais agora que ele estava trabalhando ate tarde no part-time. Um auxiliar de educação viera avisa-la a correr no final da aula, um aluno seu acabara de ser atropelado junto do portão do colégio e o caso parecia ser grave.

Ela temeu logo o pior, tinha esperança que não fosse ele, que não fosse nada de grave e fosse um aluno de outra turma. Quando chegou no local já la estava ambulância, paramédicos e um enorme aparato. Infelizmente era ele era Salvador a vitima de um atropelamento provocado por um condutor embriagado e que a policia ja levara detido, ele estava mal mesmo mal era demasiado sangue a sua volta e ainda estava consciente, respirava com dificuldade. Ela pediu a Deus por tudo que não o levasse mas parecia que estava difícil. Ele olhou-a num esforço desumano apenas conseguiu dizer-lhe algo antes do ultimo suspiro.

– Marisa, amor – colocou o olhar sobre a sua barriga – chama-lhe Salvador.
– Que assim seja Daniel – era a primeira vez que ela lhe chamara pelo seu segundo nome – juro-te aconteça o que acontecer e assim que vai ser.

Foram as suas ultimas palavras mas Marisa realizou seu pedido. Marisa não tivera mais homem nenhum, não acreditava que houvesse outro meigo, romântico, carinhoso como Salvador. No aniversario dele ia sempre ao cemitério colocar flores em sua campa mas daquela vez tinha um momento especial era a primeira vez que o fazia levando com ela um menino de três anos esse menino era o filho dela, dela e de Salvador, levara-o ali finalmente porque acontecera o que ela mais temera ele lhe perguntara pelo papa. Como a vida era injusta pensou enquanto pegava ao colo Salvador filho e ia no carro que Santiago conduzia, como ela dava tudo para o ter ali agora. Sentia que ele Salvador Pai apenas tinha existido para lhe dar uma nova razão de viver e o resultado estava ali com Salvador filho.

Crónica enviada pelo leitor Manuel Gonçalves