O Palito – a caça ao fugitivo mais famoso de Portugal

Há noticias que parecem uma paródia total, uma anedota completa, e esta assim seria se não tivesse contornos macabros.

Manuel Baltazar, 61 anos, caçador exímio, residente em S.João da Pesqueira, distrito de Viseu, com pulseira electrónica e proibido de contactar a ex-mulher, tem uma lista com doze nomes de pessoas que tenciona abater, por terem sido testemunhas contra ele num processo de violência domestica.

Numa bela tarde de Quinta-feira, três dias antes da Páscoa, o chanfrado dirigiu-se à pequena localidade de residência da ex-mulher, Valongo dos Azeites (cada vez estou mais convencida que há muitos malucos nestas aldeias), atingiu mortalmente a tia da ex-companheira, a ex-sogra, e feriu com gravidade a ex-mulher e a filha.

Depois da matança, cortou a pulseira electrónica, foi a casa, e pós-se a montes.

E a historia ganha contornos hilariantes a partir dessa data…

A policia cercou a casa do individuo, havia uma forte possibilidade de o fulano se suicidar mas népias.

Seguidamente começou uma operação gigantesca na caça ao homem, envolvendo mais de cinquenta homens da GNR e da PJ, coletes à prova de bala, shotguns, pistolas, mapas, rádios, telefones e cães.

No Sábado, a policia vigiou atentamente um casamento realizado em Penedono, ao que parece os noivos faziam parte da famosa lista dos doze, e temia-se que o Palito aparecesse para festejar. Um brinde aos noivos! Pum Pum Pum, já eram! Foi um casamento inesquecível com a policia à porta da Igreja!

Apesar do enorme circo, desculpem quis dizer, cerco ao homem, este ainda veio à aldeia depois da fuga, a primeira vez para cumprimentar um amigo, a segunda para comprar pão ao padeiro João Pessoa (olha a publicidade – padaria João Pessoa, a primeira padaria em Portugal que alimenta fugitivos assassinos!). Ora…estou a pensar numa coisa louca neste momento…se estavam naquela zona cinquenta elementos da GNR mais os aus-aus com a penca de farejar até o invisível, como é que não viram o Palito? Ah, agora já sei porque é que ele tem este apelido!

Nos  funerais das vitimas havia um medo geral de que o Boby (sim, é outro apelido do chanfrado), aparecesse e fizesse uma matança! Seria no mínimo original, uma matança em pleno cemitério! Desculpe, é da funerária Pesqueira? É possível fazer um desconto no funeral da minha esposa? É que ela morreu mesmo aqui no cemitério! É só coloca-la na vala, senhor!

Depois de vários dias de procura sem sucesso, a GNR intensifica as buscas com cavalaria oriunda de Viseu e Lisboa.

Até hoje, dia 1 de Maio, duas semanas depois do homicídio, nada! Vamos fazer contas pessoal! O Palito tem uma lista de doze pessoas para matar, 9*4 , 7-2, 5+5…tira duas mais metade de outras duas, ainda faltam matar dez, porra!

Uma centena de autoridades da GNR e PJ, cães, duas dezenas de cavalos…foda-se! Quanto é que isto vai custar ao Estado, mais propriamente a nós contribuintes? Como é que não encontram o raio do homem? Chamem a Marinha, as Forças Armadas, o Rumpelstiltskin, o gato das botas, chamem os fulanos que encontraram o Bin Laden!

Eu, que sou uma mera observadora das noticias, tenho uma forte ideia de que, espero que a malta da aldeia de Trevões não leia esta minha crónica, vai matar mais uns não-sei-quantos da lista mortal e só depois vai ser apanhado…

Mas a questão que realmente importa nesta historia é: Se a ex-mulher, Maria Angelina, já tinha feito varias queixas à policia, se os vizinhos aldeões sabiam do historial de violência domestica, se a família presenciava as constantes ameaças, inclusive no ano passado, o caçador já tinha tentado assassinar a ex-companheira, se ele já tinha infringido a lei por se aproximar da mulher a menos de 400 metros, como é que esta desgraça foi acontecer? Era altamente previsível que terminasse assim! Quem são os responsáveis? O tribunal que tinha uma audiência com Manuel nesse mesmo dia e que não pode cumprir por não ter Juiz? A policia por não ter accionado os mecanismos de prevenção na segurança desta senhora? Os vizinhos que conheciam a situação mas não metiam o bedelho? A família que vivia em clima de puro medo pela própria vida? A ex-mulher, que nem podia olhar para o lado na rua e que o perdoou o ex-marido varias vezes? Manuel Baltazar, que é um homem com graves problemas psicológicos? A culpa é de todos eles e de todos nós, porque convivemos diariamente com situações tão frágeis como esta e nada fazemos.

Em Portugal funciona assim mesmo…não se actua para precaver uma desgraça, espera-se que a desgraça aconteça, mesmo com todos os santos a dizer-nos que vai acontecer, e depois apanha-se os cacos, cacos estes que dificilmente vão ser sarados por esta família e por esta mulher.

Alias, a frase que uma aldeã pronunciou ao jornalista diz tudo: “…quando ele morrer eu falo…”.

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense