O papel das cenouras na II Guerra Mundial – Bruno Neves

Sobre a II Guerra Mundial parece que já tudo foi dito: os motivos que levaram ao seu início, quem invadiu quem e porquê e quem, feitas as contas, foram na realidade os vencedores e os vencidos. Contudo, ocasionalmente, o destino trata de nos colocar no nosso verdadeiro lugar relembrando-nos que nunca sabemos tudo e que há sempre algo por descobrir. Foi exactamente isso que me aconteceu esta semana. Quantos de vocês sabem qual foi o verdadeiro papel das cenouras na II Guerra Mundial?

Estamos em 1939 e a aviação alemã ataca diariamente as cidades inglesas, mas isso está prestes a mudar. Graças ao Airborne Interception Radar (AI) a Royal Air Force (RAF) consegue antecipar-se e detectar as forças alemãs, atacando-as antes que as mesmas sobrevoem solo inglês, nomeadamente durante a noite. Contudo os alemães desconheciam por completo a existência de tal tecnologia e como tal era necessário apresentar publicamente uma justificação para tão afinada pontaria durante a noite. E foi neste momento que o Ministério da Informação começou a assumir publicamente que a culpa era das cenouras. Sim, leu bem, das cenouras.

John Cumningham, um dos mais notáveis pilotos da RAF, era conhecido pela sua extrema pontaria (conseguiu um notável número de vinte mortes, sendo que dezanove delas aconteceram durante a noite) e quando confrontado com o motivo para tamanho feito o Ministério afirmou perante a imprensa que a razão para o sucesso do piloto era o excesso de cenouras que o mesmo consumia. As cenouras teriam, alegadamente, feito com que o piloto possuísse agora visão nocturna.

Dizem os especialistas que tal explicação foi um autêntico “tiro no escuro” e que nem os próprios saberiam até que ponto tal seria considerado plausível pela população (e pelos inimigos obviamente). Sabe-se agora que, inacreditavelmente, os alemães acreditaram na história. E chegamos a esta conclusão através dos registos do exército alemão que comprovam um aumento súbito do consumo de cenouras por parte dos pilotos alemães.

Quanto à população inglesa, essa acreditou com todas as suas forças que as cenouras realmente ajudavam a melhorar a visão de quem as consumisse. Não tardaram a surgir publicidades várias a incentivar o consumo da cenoura e a promoverem as grandes capacidades sobre-humanas que todos poderiam agora facilmente ganhar.

Mas a loucura em torno das cenouras não parou por aí. Quando as forças alemãs impediram que alguns navios britânicos carregados com alimentos (nomeadamente açúcar, bacon e manteiga) chegassem a Inglaterra a população viu-se obrigada a inovar. A partir daí o Governo britânico passou a incentivar a população a possuir a sua própria horta, combatendo assim a escassez de alimentos. A guerra teve consequências devastadoras, nomeadamente na alimentação: alguns alimentos chegaram a ser racionados (alimentos esses onde não se incluía o pão e os vegetais).

Foi então que o Ministério Britânico da Comida lançou a campanha “Dig For Victory (que incluía as personagens animadas “Dr. Cenoura” e “Batata Pete”) tentando desta forma incentivar o consumo de vegetais. O consumo da cenoura ganhou aqui um crescimento significativo passando a ser usada de todas as formas e feitios. Todos os doces que possam imaginar foram experimentados com cenoura. Mesmo que o sabor fosse desagradável a população consumia-o na mesma, afinal de contas poderia vir a ganhar poderes sobre-humanos como a visão nocturna por isso valia a pena o esforço, certo?

O “Dr. Cenoura” passou a estar em todo o lado: em programas de rádio, em plena rua através de cartazes e até a Disney deu uma mãozinha. Ou melhor, um dos cartoonistas da Disney deu uma mãozinha. Um dos grandes especialistas da Disney à data ajudou o Governo Britânico desenhando a restante família do “Dr. Cenoura”.

Ao mesmo tempo que em Inglaterra o “Dr. Cenoura” dominava as atenções dos petizes, nos Estados Unidos da América surgia um desenho animado que ainda hoje é conhecido, e reconhecido, por todos: o célebre Bugs Bunny. Dizem os especialistas que o aparecimento do coelho que devorava cenoura atrás de cenoura foi absolutamente acidental e em nada esteve relacionado com o “Dr. Cenoura” de origem britânica, mas a dúvida essa, vai ficar para sempre.

O papel das cenouras na Segunda Guerra Mundial era completamente desconhecido para mim, contudo a história é mirabolante e vale a pena pesquisar um pouco mais sobre ela. Aconselho a todos a visualização dos cartazes das campanhas britânicas dedicados às cenouras e aos seus “poderes sobre-humanos”, acreditem que não se vão arrepender.

Boa semana.

Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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