O peso do tempo

No decurso da vida vais deixando pequenas migalhas no caminho que percorres. Pequenos pedaços de ti, histórias e vivências que tiveste outrora e que, hoje em dia, são recordações que te enchem os olhos de brilho e a alma de um orgulho inenarrável. Dás por ti com a mão sobre o peito e a voz à desgarrada, levantando-se para lá dos prédios altos, quase a chegar ao céu. E às vezes choras, quando a saudade te arranca o coração do peito momentaneamente.
Temos sempre algo ou alguém no passado que nos faria largar tudo só por mais uma oportunidade. Há quem o faça. Há quem feche os olhos, largue o que tem nas mãos e avance numa corrida desenfreada rumo ao passado. Mas depois tropeçam, ficam com a cara colada ao asfalto, o coração metaforicamente desfeito e a visão nublada. Há quem diga que não, contra todas as partes de si que gritam “sim”. “Voltarias a fazê-lo?” “Não”. Não te negas com total firmeza mas move-te a convicção de que estás a fazer o que é correcto. Porque no fim de contas, conseguiste aprender que há coisas que acabam simplesmente porque têm de acabar. E mesmo que o tempo te faça esquecer todos os motivos que ladeiam esses acontecimentos, há algo dentro de ti que te chama à razão.
Deixas de chorar pelas coisas. Não é insensibilidade, não é falta de memória ou saudade. É a compreensão de que tudo tem o seu tempo e o seu lugar. Algumas coisas vivem em nós, debaixo da pele, junto ao coração. Outras vivem numa rua que um dia foi nossa. No fim do dia, o que te faz feliz é teres tido a oportunidade de viver tudo isso, de forma apaixonada ainda que por pouco tempo. Mas todas as paixões são assim: curtas e avassaladoras. Resta-nos aprender a deixá-las no passado, sem lágrimas, apenas saudade. O que foi bom de viver, é bom de recordar.