O poder da palavra – João Cerveira

Qualquer um de nós tem de medir as palavras que profere.  Temos de pensar nas consequências do que dizemos. Se é assim para qualquer um de nós, as consequências são mais graves se for uma figura publica, ainda pior se for titular de um cargo politico.

Assunção Esteves, actual Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, foi a primeira Juíza-Conselheira do Tribunal Constitucional, a partir do qual obteve a sua reforma. Graças a este cargo pode reformar-se aos 42 anos de idade, algo que deixa muitos portugueses perplexos, pois muitos são aqueles que contam com mais de 5 ou 6 décadas de idade e  pretendiam a reforma antecipada (mesmo com penalização) e não podem.
Uma das leis mais justas, em minha opinião, que se fez neste país obrigou-a a decidir entre receber a reforma ou o ordenado. Mas, não havendo lei que o proíba e, apesar de todas as regalias, como carro e motorista, não abdica de mais de 2000€ mensais de ajudas de custo.

Por tudo isto, Assunção Esteves, que já havia sido deputada (em 1987, Cavaco Silva era presidente do PSD), Eurodeputada e assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, não é, por certo, das figuras mais populares do PSD. E agora pior ainda ficou pois escolheu, perante uma manifestação de descontentamento de alguns populares nas galerias da Assembleia da República, a casa da democracia, citar Simone de Beauvoir, com uma frase pensada pela autora francesa para se referir aos nazis como carrascos. Tal citação, intencional ou não, fez toda a gente, obviamente, pensar que a Presidente da Assembleia havia comparado os populares das galerias da casa da democracia aos carrascos do regime nazi. Disse ainda que a Assembleia deveria pensar em proibir a população de assistir aos plenários nas galerias.

Assunção Esteves deve-se lembrar, do seu tempo de estudante, que democracia é o nome dado ao regime que atribui o poder das decisões politicas ao povo. Isto quer dizer que o cargo que ocupa, bem como de todos os outros deputados na Assembleia, é representativo desse poder do povo e não da vontade das direcções do BE, PCP, PEV, PS, PSD ou CDS. Por isso, se a Sra Presidente da AR não sabe lidar com os populares, com o povo que legítima o cargo que ocupa, resta-lhe apenas uma solução: a demissão. E, voltando ao primeiro parágrafo, que tenha consciência que, pelo cargo que ocupa, não pode dizer o que bem lhe apetece, seja com que intenção for, pelo decoro que deve ter a segunda figura do Estado. É mais do asqueroso referir-se a populares, na casa da democracia, usando uma citação referente ao nazismo. Qualquer dia lembra-se e cita o regime fascista na Assembleia. Só porque sim, nunca para ofender ninguém, diz ela.

 

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…