O preço de um capricho – Nuno Araújo

Paulo Portas é um actor da mais “fina craveira”. A forma como se demitiu do governo levou muita gente a pensar que estaria farto de políticas de austeridade postas em prática pelo governo do qual é ministro. Porém, uns dias depois, vimos todos a saber que Portas ficará como vice-primeiro-ministro e coordenação das áreas económicas, da reforma do Estado e do relacionamento com a troika.

A “peça de teatro de escolinha” apresentada pelos dois “garotos”, Paulinho e Pedrinho, provocou a queda do PSI 20 em 6%, significando cerca três mil milhões de euros perdidos pelas empresas cotadas na bolsa de Lisboa. Esse foi o preço de um capricho tido por Paulo Portas, o de possuir mais poder dentro do governo, o poder de destruir governos e de formar novos governos, sempre que a ocasião assim o exija. Algo pouco representativo de um estadista…

Mas importa talvez fazer um pequeno rewind de modo a que se recapitule a situação ocorrida. Tudo começou com a demissão de Vítor Gaspar. No dia a seguir, foi a vez de Paulo Portas. Pelo meio, surgiu a impensável nomeação da “Miss SWAP”, Maria Luís Albuquerque, para Ministra das Finanças. Ah, as autoridades portuguesas (quais?) recusaram a aterragem do avião presidencial de Evo Morales, chefe de estado da Bolívia, vindo de Moscovo, devido ao boato de que o “ex-espião” Snowden iria nesse vôo.

Voltando à crise nacional, Vítor Gaspar demitiu-se. E fê-lo bem, ainda que tarde demais. Mas, sobretudo, fê-lo bem, porque o estado das finanças públicas é demasiado mau para se consentir que Gaspar continue a gerir essa pasta. Recessão de 4%, défice superior a 10% e desemprego quase nos 18% são números que evidenciam a desgraça que assolou o nosso país.

Maria Luís Albuquerque aceitou a nomeação enquanto Ministra das Finanças. Agora percebe-se que a Ministra continuará a exercer as mesmas funções de secretária de estado do tesouro, só que agora auferindo outro vencimento mensal (superior ao do anterior cargo que ocupava, claro) e num cargo com outra denominação: é que o verdadeiro responsável pela área económica será Paulo Portas, e Maria Luís será responsável pelos leilões de dívida pública (que este ano não se deverão mais realizar, tendo em conta que, segundo dados do governo, 98% das necessidades de financiamento do estado estão já asseguradas).

Posto isto, será que Cavaco Silva irá aceitar esta segunda proposta de Passos Coelho para formar governo? A primeira proposta enjeitada por Cavaco, segundo se disse, na imprensa, mas a verdade é que um governo de iniciativa presidencial pode ser viável. Até porque Rui Rio, apontado por alguns como o “homem certo” para essa função, está a terminar o seu mandato como edil do Porto. A ver vamos. Já agora, o que eu quero é que haja eleições antecipadas. Devolva-se a palavra ao povo, e restabeleça-se a confiança entre cidadãos e políticos.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana