O quê? Deitar isso fora? Tu és mas é maluco! – Bruno Neves

Certas pessoas têm uma extrema dificuldade em desfazerem-se dos objectos que a rodeiam mas de que já não precisam. Pode até ser apenas um daqueles papéis velhos que temos na carteira desde as férias de verão de 1989 em Albufeira, mas custa pegar nele, amachuca-lo e manda-lo fora. E eu aqui me confesso como sendo uma dessas pessoas. Bem-vindos ao “Desnecessariamente Complicado” desta semana.

Esta é uma mania como tantas outras e não é sequer das mais estranhas. Este tipo de pessoas não deitam nada fora. Não, vocês não estão a perceber! Literalmente nada! Pode até ser uma caneta que já nem sequer escreve, porque se acabou a tinta ou simplesmente porque se estragou, contudo eles vão mantê-la na escrevaninha para exposição.

O meu quarto ia parecer-se com um autêntico cenário de guerra não fosse a santa da minha mãe obrigar-me a arrumá-lo de tempos a tempos. Obviamente que nunca concordo com ela porque para mim o meu quarto nunca está verdadeiramente desarrumado. Aliás, eu encontro melhor seja o que for quando ele está desarrumado do que quando está arrumado! Mas claro que o arrumo sempre que ela manda. Ok, sou capaz de resmungar um bocado…mas arrumo. Mas também faz parte do papel de filho resmungar um pouco de vez em quando não é? Aliás, neste aspecto é como se a minha mãe fosse a ASAE e eu o comerciante que é fiscalizado. Para a ASAE há sempre trinta e cinco mil normas que estão a ser desrespeitadas. Já para o comerciante é tudo perfeitamente normal e obviamente que não se justifica uma multa.

Mas eu desde pequenino que sou assim. Senão vejam bem este exemplo: conta a minha mãe que eu quando era bem pequeno ia ao armário onde estavam guardadas as bolachas e os chocolates, tirava os que me apetecesse, comia-os e depois escondia os papéis dos chocolates debaixo das almofadas do sofá da sala! Podia ser pequeno, mas já era espertinho! Posso ainda hoje não ser um génio a matemática, mas desde muito jovem que sei que se for ao armário dos chocolates e tirar e comer alguns sem permissão pode dar mau resultado para o meu lado. Como tal esconder os vestígios é a melhor opção, ou seja, se os papéis não forem para o lixo pode ser que ela não dê conta que os ditos doces desapareceram!

Vamos tentar ver um pouco para além do horizonte. O que poderá isto significar? Talvez estas pessoas tentem compensar alguma “solidão interior” apegando-se mais ao que as rodeia. Pode ser um urso de peluche de quando eramos crianças, uns óculos de sol que já não usamos mas que teimamos em conservar ou simplesmente um daqueles papéis que estão na nossa carteira desde o período jurássico. Mas está ali, é nosso. Seriamos igualmente felizes se ele ali não estivesse. Mas se ele pode lá estar não lhe vamos mexer. Será então que o facto de eu nunca ter tido muitooos amigos explica este meu apego pelos objectos que me rodeiam? Talvez sim. Talvez não. É apenas uma interpretação, e até prova em contrário é tão válida quanto as restantes.

Eu sei que existem casos especiais. O exemplo acima mencionado do peluche é um desses casos. É algo que nos liga à nossa infância e que tem um grande valor sentimental, logo vamos querer mantê-lo por perto, ou pelo menos bem longe do caixote do lixo. Mas nem todos os objectos se enquadram nesta categoria.

Façam um esforço e vão-se livrando desses objectos. Com calma e aos poucos, mas tentem fazê-lo. O vosso quarto e as vossas mães certamente que vão agradecer. E olhem que estou a falar contra mim.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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