O que é o amor? – Bruno Neves

O que é o amor? Em que medida é que o nosso conceito de amor vai mudando ao longo da nossa vida e do nosso crescimento e amadurecimento?

Por exemplo, quando somos muito petizes o que é o amor para nós? O amor é gostar de alguém. É gostar desse alguém sem saber bem porquê, apenas porque sim. É gostar de brincar com essa pessoa. É querer estar com essa pessoa. Colocar em prática esse amor é dar as mãos. É dar um beijo na face. É dar por vezes um beijo maroto nos lábios, não porque se sabe o que tal significa ou representa mas porque sabemos que ainda não é suposto o fazermos e como crianças que somos queremos sempre crescer demasiado depressa. Isto é o amor para os muito petizes.

Depois vem a adolescência….uiiii a adolescência, que dor de cabeça não é? Esta fase é caracterizada por um misto de emoções, sentimentos, uma luta entre o crescimento físico, psicológico e mental, fase de dramas e de rebeldias e de formação da personalidade. E a tudo isto ainda temos de adicionar o acordar para o amor, a paixão e o começar a olhar para o sexo oposto com os chamados “olhos de ver”. Nesta fase tudo é feito por impulso, tudo é muito exagerado e pautado por passagens frequentes pelos extremos porque somos jovens, porque temos energia para dar e vender, porque nos queremos mostrar ao mundo. Esta é a altura em que estamos dispostos a correr os maiores riscos, que todas as loucuras parecem saudáveis e perfeitamente normais se isso significar estarmos dez minutos com quem amamos.

Mas esta fase passa e acabamos por crescer e amadurecer. Chegando então à fase adulta, a tão desejada e ambicionada fase adulta. Aquilo com que sonhamos toda uma vida. Mas tal como certamente nos vai acontecer muitas outras vezes vamos dar por nós a dizer um “ah ser adulto é isto? Podiam ter avisado que eu tinha-me ficado pela adolescência!”. Esta é a altura em que estabilizamos, continuaremos a ter os sentimentos à flor da pele, demasiada energia, alguma impulsividade e ainda alguma rebeldia sem nunca esquecer umas quantas passagens pelos extremos. Mas regra geral tudo é muito mais calmo e pacífico. Aqui sim percebemos o que é o amor, o que é a paixão, descobrimos que temos de dar tudo de nós ao outro sem esperar nada em troca. Mas também percebemos que o amor não é para sempre, que tudo tem um fim. Que o facto de gostarmos de alguém não implica necessariamente que esse sentimento seja retribuído de igual forma pela outra pessoa. Que podemos sofrer por amor e que a vida muitas vezes é injusta.

O amor é algo lindo e maravilhoso, mexe connosco e com os nossos sentimentos mas pode ser traiçoeiro e muitas vezes apenas espera que na longa estrada da vida apareça uma curva apertada para nos pregar uma rasteira ou para nos encandear a vista com o sol brilhante.

Por fim vem a velhice. É o fechar de um ciclo. Novamente tudo muda: a nossa mobilidade é mais lenta e reduzida. As baterias parecem caminhar para o fim e longe vão os tempos em que tínhamos energia para dar e vender. Somos calculistas e de impulsividade muito pouco resta. Mas continuamos a sentir o amor e a paixão, continuamos a querer estar ao lado da pessoa amada cada segundo da nossa existência. Voltamos a dar importância aos gestos mais simples e dar a mão naquele momento importante deixa de ser algo banal e passa a ser valorizado pela pessoa amada. Voltamos aos tempos de infância onde o simples gesto de dar a mão era uma prova de amor eterno à pessoa amada. É no fundo um fechar de ciclo.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
Visite o blog do autor: aqui