O que esperar para 2013? – Francisco Duarte

Na natureza não há castigos nem prémios, só consequências.

Ditado chinês

 

Futurologia é sempre um assunto delicado. Infelizmente, não há modo de prever o que irá acontecer amanhã, e apesar de certos fenómenos serem previsíveis, o seu contexto pode não o ser. Isto traz sempre problemas quando tentamos ter uma ideia acerca do que será o futuro e o modo como isso nos pode afectar.

Evidentemente que não magoa tentar. Mais ainda, tentar pode ser a melhor maneira de acautelar os grandes erros e ponderar as melhores opções. Infelizmente parece que muitos dirigentes da actualidade, e muito especificamente aqueles que têm na sua mão o futuro de Portugal, parecem não tentar nem querer aprender com os erros do passado e as suas possíveis manifestações do futuro. Este texto irá, certamente, parecer muito negativo, até porque é bem mais fácil prever o mau do que o bom. Sendo a realidade como é as coisas más tornam-se mais previsíveis que as boas, mas não deverá ser isso a impedir-nos de ter esperança.

Economia domina a vida

É mais que certo que a temática económica irá dominar os discursos do próximo ano. Isto porque apesar de alguns sinais optimistas dos mercados, o facto é que ainda não saímos do mato. A possibilidade de se cometerem deslizes catastróficos permanece, e passos mal calculados levarão ao desastre.

No nosso país a economia está por um fio, e em vez de os dirigentes tentarem arranjar maneira de controlar a situação (como já foi dito, pedindo tempo ao Banco Central Europeu e tentando aumentar o PIB mediante uma revitalização da economia interna) eles fazem o exacto oposto e cortam ainda mais nos ganhos, aumentando os impostos e agora começando a retirar dinheiro aos reformados (a redistribuição de metade dos subsídios é parca recompensa perante o aumento do custo de basicamente tudo) que, tendo em conta o actual estado da economia nacional e da empregabilidade, são quem vai aguentando o barco.

Honestamente, com este governo e com as suas medidas auto destrutivas, prevejo um 2013 de completo colapso económico nacional, levantamentos em massa nas ruas e, no geral, um futuro bem negro que poderá levar a terríveis efeitos indirectos. Pura e simplesmente não há maneira de brincar com isto, a estratégia do governo não vai funcionar porque já não há dinheiro suficiente no sistema.

Isto, contudo, é apenas a situação a nível nacional. Nos Estados Unidos Barack Obama tem a difícil tarefa de conseguir controlar o défice nacional num país em que (como em todo o lado) os mais ricos tentam conseguir proteções especiais em detrimento dos mais pobres, e em que a divisão interna é cada vez mais intensa. Pressinto que o país está a atingir o pico da sua falta de capacidade de controlar os privados e isso será outra coisa com consequências perigosas.


Em relação à última declaração, veja-se que sou, a nível pessoal, um amante da liberdade individual e de expressão, mas quando falamos de economia entramos num ambiente pantanoso. A lógica neoliberal defende que as iniciativas das empresas e empresários deveriam ser controladas pelo sistema e pela racionalidade de quem gere dinheiro. Isto pode ajudar, de facto, a criar muita riqueza a curto prazo, mas baseia-se numa falácia – as pessoas não são racionais. Emoções, erros de cálculo e fé cega no sistema vão ter resultados cataclísmicos, e o rebentar da bolha imobiliária da década passada adveio exactamente disso. O sistema precisa de regulação ou auto destrói-se.

É o mesmo que sucede na selva – se uma espécie se torna demasiado bem-sucedida irá esgotar todos os recursos disponíveis e ou muda ou morre. Não há meias medidas sem intervenção externa.

Preparados para a guerra

Preocupante também é a corrida ao armamento que vemos na Ásia. Nunca se gastou tanto em armas naquela região como se está a fazer agora. Mais ainda, gasta-se em sistemas de índole cada vez mais ofensiva, como mísseis de longo alcance, bombardeiros supersónicos e porta-aviões. É fácil ficar com a noção de que algo está em marcha. Sem querer cair na armadilha das comparações históricas, mas antes da Primeira Guerra Mundial o medo mútuo e necessidade de controlar recursos levou os grandes poderes europeus a uma corrida às armas que eventualmente os conduziu ao controlo de exércitos gigantescos que precisavam de inimigos para se justificarem. O resultado é bem conhecido e na Ásia, sobretudo na República Popular da China e na Índia, as considerações territoriais, de recursos e demográficas, criam um cocktail preocupante.

Mais uma vez isto está ligado à economia internacional. Afinal, todas as guerras têm como razões últimas as de índole económica. É assim que as coisas são. Caso tal suceda, será um conflito que entregará tudo aos vencedores e nada sobrará para os vencidos. O problema é… e se não houver vencedores?

Que futuro?

Apesar da cegueira dos governantes e da sensação de desespero dos governados, será realmente que nenhuma opção nos resta? Será que apenas temos de aceitar que nada vai mudar e que teremos de nos deixar cair no poço que nós mesmos criámos?

Não é uma opção muita acalentadora, de facto.

No entanto creio que tal não deve ser o caso. Pode haver boas notícias. O governo português tem apenas duas opções, a meu ver – ou se demite ou muda totalmente as suas políticas. Não há meios-termos nisto e já houve demasiadas hesitações. O actual OE vai correr mal, e é preciso mudar as coisas para melhor.

De um modo mais geral, contudo, é evidente que as sociedades humanas se têm tornado mais gentis com o passar dos milénios. A questão é se poderemos esperar algum progresso nesse sentido nos próximos meses, ou se estaremos demasiado preocupados com prioridades mais imediatas.

Teremos de nos agarrar à esperança de que existe luz ao fundo deste túnel e que, eventualmente, as dificuldades acabarão e trarão mais uma era de prosperidade, como sempre sucedeu ao longo da nossa horripilantemente gloriosa história humana.

Crónica de Francisco Duarte
O Antropólogo Curioso