O que falhou nas presidenciais para a esquerda?

O que falhou nas presenciais para a esquerda foi o mesmo de sempre: a falta de unidade.

Enquanto a direita, unida, apoiou apenas um candidato, à esquerda havia vários candidatos. E se isto não fosse suficiente, se juntarmos o facto de o candidato da direita ser bastante popular pelos vários anos que fez comentário politico na televisão, era mais que previsível que Marcelo Rebelo de Sousa ia ganhar. A única dúvida era por quanto e se logo à primeira volta.

Tal como no passado (como já escrevi noutras crónicas) os partidos da esquerda decidiram apoiar cada qual o seu candidato. Em bom tom de verdade, dá a sensação que PCP/PEV e Bloco de Esquerda indicaram mesmo um candidato, algo que não devia ser, pois as presidenciais não são partidárias (não são os partidos que se candidatam, mas sim candidatos individuais). Era por demais óbvio a “máquina” da CDU atrás do candidato Edgar Silva e o Bloco mobilizado na campanha da candidata Marisa Matias.

O que António Costa não quis fazer – dividir o PS ao apoiar um dos candidatos da esfera política do partido – fizeram os ilustres membros do partido. Por exemplo, Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores e actual presidente do PS, decidiu apoiar Sampaio da Nóvoa, enquanto que Manuel Alegre manifestou publicamente o seu apoio a uma candidatura de Maria de Belém. Como eles, outros ilustres socialistas juntaram-se a um lado e a outro, dividindo as opiniões dos eleitores mais influenciáveis por estes confusos “jogos” de apoios.

É minha opinião que, havendo a experiência de 2011 – quando a esquerda na oposição se uniu à direita para derrubar um governo socialista e escancarar a porta a um governo PSD/CDS – e de há poucos meses atrás – em que uma esquerda unida viabilizou um governo socialista -, os partidos à esquerda, do PS ao Bloco, já deviam entender que fraccionar as atenções dos eleitores por vários candidatos não dá resultado.

Se mesmo com um único candidato à esquerda, e toda a esquerda unida, empenhada na campanha do mesmo, já seria dificil lutar contra a popularidade de Marcelo (que tem a sorte dos portugueses terem memória curta e não se recordarem de grande parte das suas opiniões enquanto comentador, antagónicas ao que disse na campanha), com vários era impossível. Se não tivesse sido à primeira volta, era à segunda.
E, para mim, com Marcelo, vamos ter Cavaco versão 2. Oxalá me engane. A bem do país.

 

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990