O que é o Estado? – João Cerveira

Muita gente confunde Governo com Estado.  Governo é uma das instituições que faz parte do Estado, mas não é o Estado. O Estado é o conjunto de instituições que administram o país, a nação. Ou seja, todos nós.

E com tudo o que se tem passado – a administração ruinosa e danosa do actual Governo – as pessoas tendem a esquecer que a nação somos todos nós. E que o Governo gere o que é de todos nós. E agora o leitor pergunta: teoricamente é assim, mas onde queres chegar?

Simples. Na nossa gestão diária, temos de fazer as nossas compras com o dinheiro que temos, que ganhamos, fruto do nosso trabalho. E se, por algum motivo, precisamos de mais dinheiro do que aquele que temos (por exemplo, para comprar uma casa) precisamos recorrer a um empréstimo, bancário ou não. E, provavelmente, vamos ter de pagar juros sobre esse empréstimo. O Estado, numa outra escala, faz o mesmo. A diferença é que nós temos o nosso trabalho como a nossa fonte de sustento. O Estado tem os impostos como principal fonte de sustento.

Porquê falar nisso agora? Porque muita gente, muitos portugueses, andaram anos a fugir ao cumprimento dos seus deveres – falo claramente do pagamento de impostos – e muitos também a receber subsídios do Estado – doença, para o investimento, para abertura de novas empresas, etc – e nunca pensaram que o dinheiro tinha de vir de algum lado. Para mim já era um hábito ouvir “ah eles têm muito”. Eles? O “eles”, o Estado, somos nós. O “que eles têm” é o nosso dinheiro, de todos nós, cobrados nos vários impostos que temos. E a cegueira é tanta que os mesmos que reclamam da falta de manutenção das vias rodoviárias, dos serviços que fecham por falta de dinheiro, da demora dos serviços por falta de pessoal ou fundos, etc, etc, são os mesmos que se criticam a existência – note bem, não é o aumento, é a existência – dos impostos.

Nós podemos ter um Governo de pessoas que já demonstraram não terem capacidade e/ou competência para o que se propuseram fazer, mas o principal problema da nossa democracia é não cuidarem do que é público como algo que também é seu. E isso afecta qualquer gestão e qualquer Governo,  qualquer Câmara Municipal.
Agora a nova moda é culpar a crise. Qualquer coisa “é a crise”. A “crise de valores” ou, se quiserem, a “crise de identidade” já vem de há muitos anos.

Aquilo em que todos deviam pensar é que o Estado gere aquilo que é nosso, de todos nós. Então a nossa função é zelar pelo que é nosso – como fazemos com o nossos bens pessoais . E exigir que o Estado faça a melhor gestão possível. Mas não é lógico sequer pensar que uma boa gestão possa ser feita quando o titular máximo da soberania no nosso país – o Povo, nós todos – continuar a delapidar o que é de todos. Num sistema próximo da perfeição (a perfeição, a meu ver, não existe), todos contribuem com os seus impostos e com a sua participação cívica (nomeadamente votando para eleger os seus representantes e governantes), para uma distribuição equitativa dos recursos, a bem da nação.

Nada disto existe. Nem o Povo a contribuir, quer com impostos, quer com participação cívica, nem os órgãos do Estado (nomeadamente o Governo) a conseguir uma distribuição equitativa dos recursos, a bem da Nação. Começo a acreditar no Rui Rio, quando disse que o sistema estava perto do fim. Algum médico por perto?

 

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…