O que seria do Futebol sem Emoções?

É já um dado adquirido que semana após semana os erros dos árbitros, os lances de golo, as declarações dos treinadores, os aspectos tácticos e os “diz que disse” dos intervenientes vêm à baila e são falados insistentemente por intelectuais, pseudo-intelectuais ou simplesmente em conversas de café. Contudo, onde fica a parte emotiva? As paixões despertadas? Os ânimos exaltados?

Não é concebível retirar do desporto, e neste caso, do futebol em particular, a parte emotiva. Por mais aspectos técnicos e tácticos que existam, o futebol será sempre um misto de emoções, uma junção de sentimento aliados a uma união que por mais inesperada que seja, não será quebrada. Seja a seleção, o clube, ou mesmo aquele jogador preferido, o certo é que se formará uma união e uma onda de apoio em volta do futebol que fará com que parte dos problemas sejam postos de parte, pelo menos, durante o jogo.

Que mais uniria um povo devastado pela crise sócio-económica que não a sua seleção? O momento em que todos param em frente às televisões à espera daquele momento, do momento em que a bola passa linha, entra na baliza e todos em uníssono gritarão “GOLO!” enquanto abraçam a pessoa ao lado que nunca viram, mas que naquele momento partilham a efusiva alegria que se abate sobre eles. Aquela esperança na vitória, aquele nervoso miudinho antes dos penaltys, aquela ansiedade pela aguardada final e o sonho de, um dia, ter um país iluminado por uma vitóira numa grande competição. Nessa altura, tudo ficaria esquecido, ainda que por breve instantes, o orgulho no país seria alastrado de norte a sul, do interior ao litoral, aquém e além fronteiras todos estarão de sorriso nos lábios a falar de Portugal.

E o clube? Aquele que todos dizem não mudar, que todos apregoam ser o seu amor, que ninguém imagina um fim de semana sem ver um jogo. Fazem-se milhares de quilómetros só para o apoiar, gastam-se gritos, caem lágrimas, partilham-se sorrisos. Tudo isto por um amor ao clube, uma paixão que se julga intrínseca mas para a qual também nunca se procura resposta. Independentemente dos milhões investidos, dos jogadores comprados, dos treinadores despedidos, nunca se deixa de gostar, de vibrar com as vitórias, de estar com o coração na mão até aos 90 minutos, de ficar semanas sem falar devido às derrotas. Ter um clube é isto, é sentir algo que não se explica e deixar as emoções falarem durante um jogo, sem ser racional e coerente. É paixão, o que se há-de fazer?

Por fim os jogadores, os treinadores e os dirigentes. Todos aqueles que fazem parte da história da nossa equipa, todos aqueles que contríbuem e que vibram tanto com o clube como nós. Ninguém fica indiferente a um jogador que beija o símbolo, às juras de amor eterno feitas, ao suor dispendido em prol de uma causa. Aqueles que vêm pelo dinheiro e saem pelo mesmo são tão rapidamente esquecidos como dificilmente lembrados. Uns chamam-lhe romantismo do futebol, outros “o verdadeiro futebol”, o certo é que ninguém fica indiferente ao amor sentido por aqueles que contríbuem com tudo para o clube que amamos.

O futebol é isto. Extravasa o papel, a relva, as conferências de imprensa e os programas desportivos. A emoção dá cor ao futebol, a paixão faz-nos acalentar sempre algo mais e o sonho faz-nos viajar durante 90 minutos. Os adeptos fazem o futebol e os sentimentos fazem os adeptos. O que seria do futebol sem emoções?

AntonioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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