O que significa ser português hoje?

Somos uma família, unidos pela tradição e pelos costumes brandos, mas voltados para si mesmos, de cabeça enterrada nos seus próprios balões de pensamento.

Vivemos entre trocos e ilusões, alimentados pela esperança suspensa na teimosia; e há que apontar o dedo ao errado, personificando aqueles que lhe dão corpo – os que rodopiam em campanhas, nas televisões, pelas ruas, que se sucedem a si mesmos ou formam outros com os mesmos maneirismos.

Uns de nós somam os dias sossegados, entre as restantes gotas encaminhadas pela maré; outros colocam em palavras o que lhes vai na alma, e discursam, gritam e marcham: são estes as rochas atropeladas e contornadas pela corrente.

Fomos a fome e o analfabetismo no 25 de abril. Vimos Portugal crescer e tornar-se independente e, aí, recostamo-nos e acreditamos que o pior passou, ao ver os direitos do povo emergirem da crosta terrestre e a igualar toda a nossa espécie. Sim, somos feitos da mesma matéria, mas fomos perdendo essa noção; a matéria que nos move – o dinheiro – é a profundidade de tantos diferentes precipícios entre a população.

Somos os que protestam na linha da frente ou do sofá lá de casa; somos o voo calmo na tempestade, o grito abafado pela desistência ou esgotado pela persistência. Somos as políticas perdidas no comodismo, os valores esquecidos a cada geração – o desequilíbrio da nossa nação.

Somos uma família numa sociedade individualista, suportada por ansiedades e medos doutrora, que nos tornaram egoístas, unidos na desunião pelo desespero de um bem comum – uma ideia otimista.

Artigo de Ana Flora