O “ser social” e o conflito com a felicidade

“Ser conservador, então, é preferir o familiar ao desconhecido, é preferir o tentado ao não tentado, o facto ao mistério, a actual ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, o riso presente à felicidade utópica”
– Oakeshott, Rationalism in Politics, P.10. Citado por Coutinho, Conservadorismo, 2014, P.34.

Começo a crónica desta semana com um excerto da minha leitura de fim-de-semana. Esta pequena citação de Oakeshott tem-me feito reflectir, de um tempo para cá, no conceito de felicidade. Vivemos num mundo acelerado, no qual escasseia o tempo para pensar, em que nos exigem o máximo a cada dia; no trabalho, na universidade, no ginásio, até na vida social! Existe um desespero interior em cada um para gritar puxando todo o ar dos pulmões: “Eu sou fixe! Eu sou social! Eu até como sushi, ando de para-pente e nado com golfinhos ou outras coisas quaisquer que sejam diferentes e que revelem a pessoa extremamente interessante que sou!”

Somos bombardeados diariamente com este tipo de pessoas que querem ser “fixes” nas redes sociais, aliás, quase todos nós queremos ser “fixes” nas redes sociais, basta pensarmos um bocadinho. A realidade porém é imensamente diferente, as coisas boas da vida podem não ser aquelas que a sociedade acha que são as coisas boas! O estereótipo é absolutamente horroroso e, em última análise, faz das pessoas “fixes” as mais banais e desinteressantes.

Parece-me que viver por aquilo que realmente gostamos e não por aquilo que a sociedade nos diz para gostar é imensamente mais interessante. Continuo a preferir um bom churrasco ao melhor sushi do país, continuo a gostar de jogar futebol com os meus amigos em vez de fazer surf, gosto das pequenas coisas, dos finais de tarde à beira-mar e não propriamente de um qualquer evento ultra-mega fantástico que toda a gente quer ir sem saber muito bem porquê. Resumindo, eu sei o que gosto e estou borrifar-me para aquilo que o “corpus-social” gosta ou faz. A diferença está entre ser “fixe” e ser feliz. As duas são compatíveis? Sim, sem sombra de dúvidas! O problema é que as pessoas preocupam-se mais em ser “fixes” que em serem felizes.

Partilhar um determinado momento no facebook ao invés de aproveitar o mesmo a 100% é um desses exemplos; vivemos para o nosso ego e para aquilo que os outros irão pensar, não para nós! Gostamos de mostrar onde estamos, com quem estamos, de postar a foto com o rapazinho que ficou famoso sem saber bem como ou de fotografar pés com o mar em “imagem de fundo”. Gostamos, ou achamos que gostamos, dos comportamentos em “manada”, não fazemos o mínimo para “sair da caixa” pensando além daquilo que vemos ou daquilo que nos dizem que é “fixe”.

Ser conservador é também ter este espírito “contra corrente”, de desconfiar de tudo aquilo que não é familiar. É valorizar a tradição, as rotinas já que, se elas existem e perduram no tempo, más não podem ser! São necessários abanões na rotina? Certamente que sim mas nunca, jamais, devemos pensar que a vida deva ser sinónimo de cortar constantemente com o instituído e muito menos um acto contínuo de mostrar aos outros a nossa aparente felicidade!