O sofrimento humano… A Velhice – Aida Fernandes

A mudança e o mudar, foram sempre, ao longo dos tempos, preocupações sentidas por aquele que está atento e vigilante á evolução sociológica do ser humano. Com efeito a maior mudança que se opera na vida de um pequeno ser que nasce é sentida na sua velhice. Não é fácil aceitar a esta mudança fisiológica, geram-se sentimentos de desconforto, de medo, de ansiedade e de dúvida, esta etapa requer cuidados acrescidos, por parte da família, requer mais carinho e mais amor.

Atrevo-me a dizer que  …”quando a vida nos dá razões para chorar, temos que lhe mostrar as razões que ainda temos para sorrir”!!!!

Verdade, parece difícil e ás vezes quase impossível, mas nada podemos esperar do desespero, do medo, da resignação, da não aceitação do que quer que seja.

Vivemos numa sociedade quase descartável, não podemos deixar que as relações interpessoais desapareçam. Acreditemos na felicidade para tornar os outros felizes!!!

Convencemo-nos de que a vida será melhor depois, depois de terminar o curso, depois de conseguir trabalho, depois de casarmos, depois de termos um filho…Logo sentimo-nos frustrados porque os nossos filhos não são suficientemente grandes, e pensamos que seremos mais felizes quando crescerem e deixarem de ser meninos, depois desesperamo-nos porque são adolescentes, difíceis de aturar, o que  não pensamos é que tudo isto é insignificante quando nos deparamos com a velhice, ou  com  perdas que não estaríamos a contar pela lei natural da vida, isso sim requer de nós a tal mudança.

Este é um tema que me agrada particularmente, por estar diariamente confrontada com estas experiências, já me questionei e parei para pensar no que realmente significa o sofrimento humano, e para que serve???

A medicina enquanto ciência e, simultaneamente arte de curar, descobre no seu vasto terreno dos sofrimentos do homem o seu sector mais conhecido, ou seja, o que é identificado com mais precisão.

O sofrimento que de fato devemos definir como provação muito dura, á qual a humanidade é submetida.

Quando estamos deparados com uma pessoa nestas condições  e vemos que a morte na maioria destes casos é um evento traumático e excessivamente doloroso, acontece pensarmos muitas vezes, será que há uma forma de morrer na qual não haja tanto sofrimento desnecessário ao ser humano?Até que ponto valerá a pena lutar?até que ponto valerá a pena prolongar alguns “dias”de vida! em vez de darmos mais vida aos nossos dias! Ou pensar o contrario?

Questionamos  frequentemente! Que estão a  fazer os doentes em fase terminal, de morte cerebral, de imobilidade total! Isto é difícil de entender e aceitar!!

Poderíamos até falar na eutanásia mas se reflectirmos um pouco vemos que não são os casos de sofrimento físico excessivo, mas sim o desânimo e a falta de coragem para enfrentar a vida de uma forma diferente, os que levam á eutanásia, então , qual é o maior sofrimento Humano e quando é ele mais relevante…sem duvida a velhice!


Assim, enquanto capazes devemos  aproveitar o que a vida nos dá, ela está sempre cheia de desafios e surpresas, só que por vezes não pensamos que são desafios e provas e que nada existe por acaso, mas sim para nos ensinar a ver a realidade da vida com os outros olhos…A vida é uma passagem!!!A escola da vida diz-nos que devemos aprender com as adversidades, elas estão ali para nos testar, fazem parte da nossa história, enquanto membros de uma família, de um povo, e raramente temos consciência da importância da nossa história.

Precisamos da história, da nossa, dos outros, da do mundo que nos rodeia, para fazer do tempo uma linha de continuidade e da vida, a nossa e a de todos os outros , acontecimentos que jamais se apagam.

Ninguém pode voltar atras com a sua história, mas pode aprender com ela,  fazer com que os que nos rodeiam possam sentir que contribuímos para um futuro melhor, a nossa viagem pode ser cheia de atropelos, sonhos, fantasias e esperas, mas nunca uma viagem com volta…pensemos nisto!

Até uma determinada fase da nossa vida não aceitamos da melhor forma perder o que amamos mas sim a amar o que possuímos, na velhice só nos resta mesmo, amar o que possuímos.

Quando contactamos com idosos diariamente,  a vida vai mudando cada vez mais, eles são o espelho para o nosso futuro, todos eles possuem características diferentes, dificuldades, carências, idades e sabedorias diferentes…seres humanos que necessitam do nosso amor, compreensão, a nossa ajuda nas tarefas que aos poucos foram deixando de poder realizar, motivo de uma grande angustia, tristeza e frustração.

Sem duvida que devemos aproveitar e compreender estes seres que apesar das idades avançadas, do sofrimento e da fragilidade nos enriquecem diariamente com as suas histórias…a suas bibliotecas de saber…um património sociocultural e histórico acumulado em anos de experiência, de saberes já feitos .

Vale a pena pensar sobre isto, numa sociedade que enfrenta diariamente uma crise de valores e não só uma crise socio-economica!!!

DestaqueLeitoresCrónica enviada pela Leitora Aida Fernandes
O sofrimento humano… A velhice

Envie também a sua crónicaaqui