O sonho comanda a vida! – A noite em que eu sonhei que era jogador do S.L Benfica

Ora chegou novamente aquela época do ano em que estamos perigosamente próximos do Natal e ainda não temos nenhum presente comprado não é verdade? E, ano após ano, o que é que nós fazemos? Prometemos que é a última vez que tal acontece e que para o ano vamos comprar tudo logo em Janeiro para adiantar trabalho. Mas no fundo estamos apenas a enganar-nos a nós mesmos. E temos noção disso. Mas pensar (ou dizer, depende dos casos) o contrário tem um poder estranhamente tranquilizador. Mas o tema desta semana é outro. Vamos falar de sonhos. Sim, de todo o tipo de sonhos: dos que ajudam a aumentar-nos o peso nesta época tão especial aos que acontecem enquanto dormimos. Tudo para ler no “Desnecessariamente Complicado” desta semana.

Vamos, desde já, abordar a doçaria deixando o verdadeiro tema desta crónica para segundo plano, boa? Boa. Eu adoro o Natal. É, para mim, a melhor época do ano e nada, nem ninguém, irá mudar isso. E se quando era criança a atenção ia apenas para a quantidade (e para a espectacularidade) dos presentes que recebia, hoje em dia isto não podia estar mais distante da realidade.

Actualmente tenho mais prazer em ver a felicidade estampada no rosto da minha afilhada e do meu primo (ela com sete aninhos e ele com onze) do que ao abrir o que me ofereceram amigos e familiares. É o sinal dos tempos. Mas algo que nunca mudará, tenha a idade que tiver, é o quão guloso sou pelos doces de natal. E um dos meus doces favoritos são os sonhos (só de falar nisto até fiquei com fome, vejam bem!). Já devem, portanto, ter percebido que quem me quiser conquistar (a todos os níveis menos sentimentalmente…as minhas desculpas, mas sou um homem comprometido) deverá começar pelo estômago. É caso para dizer: o sonho comanda o estômago! Perceberam o trocadilho? Eu sei, sou hilariante.

Sempre me questionei o quão curioso era o facto de aquele doce tão suculento partilhar o nome com algo tão importante nas nossas vidas como é o caso dos sonhos. Um sonho é, por definição, não só um doce tradicional de Natal como também um objectivo para o futuro, algo que ambicionamos ter/ser/fazer. Um sonho pode ser ter uma casa à beira-mar. Mas também pode ser ter um carro topo de gama. Ou um emprego na nossa área de formação que não seja precário. Ou andar de mota pelo menos uma vez na vida. Ou encontrar a mulher (ou o homem, obviamente) da nossa vida. Tudo depende do autor do sonho e das suas prioridades.

E depois temos os sonhos que têm lugar quando estamos a dormir. Confesso que sonho pouco. Na esmagadora maioria das noites não sonho. E nas poucas noites em que sonho não me lembro de nada. Ou melhor: lembro-me apenas de detalhes que em nada interessam (como por exemplo: estava descalço; tinha um cachecol amarelo ou estava na bomba de gasolina). No fundo recordo-me apenas de tudo aquilo que não interessa. Algo que, como devem imaginar, dá imenso jeito. Mas uma das noites da semana que passou foi diferente. Não faço ideia porquê mas recordo-me nitidamente de todo o sonho.

E antes de vos contar o sonho (que juro que é real, não inventei nem uma linha) é necessário uma declaração de interesses: se nunca leu as minhas crónicas (ou se as lê com regularidade mas não sabe o meu clube) devo avisar que sou benfiquista. E sim, fiquei muito contente com a vitória em pleno Estádio do Dragão na última jornada do Campeonato. Sou um benfiquista dos sete costados. De alma e coração. De gema. De nascença. Aliás, ainda não tinha nascido e já era do Benfica (dado que tanto os meus pais como todos os meus familiares mais chegados eram, e ainda são, do Benfica). Dito isto vão perceber o quão especial foi, para mim, ter o sonho que vos vou contar de seguida.

Olhei em volta e por momentos não percebi onde estava. Passo a mão pelos olhos, na esperança de que isso me ajude a perceber onde estou e de onde vem todo o barulho que escuto em meu redor. Oiço vozes. Muitas. E quando digo muitas são mesmo muitas. Dezenas delas. Não, esperem, centenas. Bolas, estou confuso. Onde raio posso eu estar para ouvir tantas vozes? Finalmente começo a conseguir ver alguma coisa. O chão está coberto de relva. O céu está mais azul do que nunca. Apercebo da existência de bancadas e de que as mesmas estão completamente cheias de adeptos benfiquistas. Olho em redor e percebo finalmente onde estou: é o Estádio da Luz em dia de derby! E eu estou em campo, com o manto sagrado vestido, a defender as cores do clube do meu coração!

Como é que eu vim parar ao onze do Benfica? Não faço ideia. Sei é que o Sporting tem um canto a seu favor e eu estou em plena grande área a proteger a baliza das investidas do adversário. O canto é marcado e a bola dirige-se para o centro da grande área. Nas alturas Luisão não dá hipóteses e cabeceia a bola para longe. Por obra do acaso a redondinha fica na posse do Adrien. Este prepara-se para rematar e tem o olhar focado no fundo da baliza. Eu respiro fundo e avanço rapidamente na sua direcção, tentando impedir o remate. Ele puxou o pé atrás e remata.

A bola embate em cheio no meu joelho esquerdo e eu próprio inicio o contra-ataque. Levo comigo o esférico durante uma dezena de metros para logo de seguida a colocar nos pés do Enzo Pérez. Ele segura-a, roda sobre um adversário e muda o flanco colocando-a no André Almeida. Este passa curto para o Samaris, que por sua vez coloca novamente no Enzo. Eu continuo a correr rumo à baliza contrária na esperança de marcar e dar a vitória ao clube do meu coração e é nesse preciso instante que a redondinha vem parar aos meus pés. Aí paro, levanto a cabeça e olho em redor. Pela direita desmarca-se o Salvio, pela esquerda o Gaitan. Aproximam-se adversários mas o meu olhar está vidrado na bancada. Aí vejo de tudo: alegria, raiva, tristeza. Volto à realidade e passo curto para o Talisca. Este devolve-me a bola, apenas para eu a fazer chegar ao Gaitan.

Corro para o centro da grande área. Vejo, de relance, uma finta estonteante do Gaitan (daquelas que provoca saltos efusivos junto dos adeptos e que pode entrar para a história do clube de tão genial que é) e preparo-me para saltar. Não sei como, ou porquê, mas sabia que tinha que saltar. Milésimos de segundo depois o Gaitan cruza e vejo a bola voar na minha direcção. No ar salto mais alto que o Rui Patrício e cabeceio de forma certeira para o fundo da baliza. É golo! E logo do Glorioso, o que clube que amo e que sempre foi o meu! E logo marcado por mim!

E depois? Bem, depois….acordei. Eu sei, foi uma pena. Em vinte e quatro anos de vida nunca havia sequer sonhado com o Benfica e, quando isso acontece, estou em campo ao lado dos bravos guerreiros que envergam o manto sagrado. Bolas, isto é que é um sonho como deve de ser! É pena não ter mais destes. Ou melhor: se calhar até tenho mais destes, simplesmente não me recordo de os ter.

Infelizmente este meu sonho nunca se concretizará. Mas os vossos podem tornar-se realidade (dependendo do que sonham, obviamente). Se existe uma época onde sonhar é obrigatório só pode ser o Natal.

Por isso sonhem. Sonhem muito. Não importa o clube que escolheram para ser o vosso para todo o sempre, o estilo de roupa que usam ou o hobbie que preenche a vossa vida. Todos temos igual direito a sonhar e a determinar objectivos que pretendemos alcançar. Não os vamos concretizar a todos, obviamente, mas essa é a parte curiosa da vida: nunca sabemos o que vai acontecer, quando vai acontecer ou de que forma se vai processar e é isso que torna a vida num desafio tão grande. A vida pode estar cheia de surpresas menos agradáveis, mas só passando por maus momentos daremos verdadeiro valor aos bons momentos que cruzam o nosso destino.

Estimem aqueles que vos são especiais. Digam-lhes o quanto gostam deles e a importância que têm na vossa vida. Mantenham-nos por perto, pois certamente que precisarão deles no futuro. Assim como eles precisarão de vocês. E, no fundo, a vida é isso mesmo: partilha e convívio entre amigos e familiares em busca de um amanhã melhor.

Boa semana.
Boas leituras.
Ah, e um Feliz Natal a todos!