O terror dos Centros Comerciais – Ricardo Espada

(Hoje, vasto auditório do +opinião, decidi brindar-vos com uma pequena história. Sim, é longa… mas é gira…)

Esta é a história de João António, um cidadão como tantos outros e pai de 2 filhos que, um certo dia, viu-se obrigado a passar umas horas num Centro Comercial, porque foi a única forma de os putos o deixarem em paz… Mal sabia ele, que esse dia viria a relevar-se um dos piores dias da sua ainda curta vida…

Eram 9 horas da manhã, quando João António sente um enorme peso em cima das suas pernas e, completamente ensonado e assombrado por ser Sábado — O que deveria equivaler a um acordar tardio —, desata a sacudir com as pernas, aquele peso estranho. Pensava ele que se tratava do cão, que andava completamente desvairado pelo facto de a cadela da vizinha se encontrar com o cio. Só se apercebe que se tratava de um dos seus filhos, quando o raça do puto cai estatelado no meio do chão do quarto e desata aos berros, como se estivesse a sofrer de Bullyng na sua escola. Lá tinha de acordar e levantar-se para ir amparar a criança chorona. Os putos estavam irrequietos, e queriam ir brincar para a rua. Mas, João António, apenas queria aproveitar o facto de ser Sábado, para dormir mais um pouco do que era habitualmente normal. Mas… os putos, o «raio» dos putos, não o queriam deixar aproveitar a manhã de Sábado…

João António, tentando livrar-se dos miúdos, tentou convencê-los a sentarem-se os dois em frente à televisão, e jogarem Playstation, para o deixaram em paz, aproveitando assim, para dormir até mais tarde. Nada feito. Os putos não queriam ficar em casa. Os putos queriam ir passear para a rua! Eis que, a mulher de João António, se lembra da excelente ideia de irem até ao Centro Comercial, almoçando por lá e, assim, ela aproveitava para ir fazer umas compras. João António, já sabia que isto eram más notícias: ele teria de ficar a tomar conta dos putos, enquanto ela passeava pelas lojas do Centro Comercial, experimentando tudo o que é vestuário. E assim foi…

Depois de almoçarem, lá seguiu a mulher na sua demanda de loja em loja, para experimentar novas peças de vestuário, proferindo para João António, as imaculadas palavras «Olha, João, vai dar umas voltinhas com eles pelo Centro Comercial, pode ser que eles se cansem, e nos dêem algum descanso!», na esperança que isso acontecesse, mas sabendo que isso jamais iria acontecer… E, João António, ciente no esforço que iria ter de suportar, por ficar com os dois «pirralhos» ao seu encargo, lá foi dar a «voltinha» com os putos. Depois de vários berros e de vários saltos que deixaram a João António, a vontade de pegar nos miúdos e os colocar dentro de um poço durante o resto do dia, só os indo buscar, depois de passear pelo Centro Comercial, sozinho, absorvendo a elegância das meninas que trabalham nas lojas de roupa interior feminina. Mas, quando crescia a um ritmo alucinante a ideia do poço, eis que, os putos reparam que existia no meio do Centro Comercial, um pequeno estaminé de golfe, para as pessoas brincarem com os seus filhos. Gritando aos berros para o pai, os pirralhos, rapidamente, convenceram o pai a jogar com eles, longe de imaginarem que o pai estava a um fio, a um mísero fio, de os enfiar num poço até ao fim do dia. João António pensou: «Finalmente! O raça dos putos tiveram uma boa ideia!» Longe de imaginar que isso não viria a ser uma ideia positiva…

João António, todo armado em «gingão», pegou no taco de golfe e começou a ensinar os putos, a técnica de jogar golfe. Após dez tacadas e com os putos a berrarem para jogar, João António, decide dar a vez aos miúdos. No preciso momento em que um dos petizes decide dar uma pancada na bola, João António apercebe-se que tinha já uma pequena plateia de atentos mirones, ao que ele e os miúdos estavam a fazer. E, no meio da plateia, estava um colega de trabalho, que lhe fez um sinal de presença, tal e qual, quando na escola a stora dispara o nome dos alunos para decidir se marca falta, ou coloca um visto de presença no livro de ponto.

João António, pensa para com os seus botões, que esta era a oportunidade de demonstrar aos colegas de trabalho, que não era assim tão «azelha» como o intitulavam. Então, determinado e destemido, retira o taco de golfe ao filho e dá uma valente e confiante pancada na bola, esquecendo-se que, de facto, era um zero à esquerda, no que tocava à habilidade de jogar golfe. Já era tarde demais, a bola saiu disparada com uma força tal, que levantou voo em direcção à loja de animais, partindo um vidro e atingindo um pequeno coelho. O coelho faleceu, de imediato, incrustando nas pessoas que faziam parte da plateia de João António, uma expressão de horror e de repúdio para com o assassino de coelhos. Uma infelicidade, que nunca mais iria abandonar João António.

O colega espalhou a notícia do «Assassino de Coelhos», pela fábrica inteira, com as pessoas a reagirem com apupos e com insinuações absurdas para com João António, levando-o a ter de apresentar a demissão, por não aguentar mais aquele sufoco. A mulher, deixou-o, talvez influenciada pelas vizinhas, que faziam questão de relembrar-lhe todas as manhãs, no café, que o seu esposo era o «Assassino de Coelhos». Ambos os filhos, enveredaram pela criminalidade, actuando em conjunto com o nome fictício «Os Mata-Coelhos». Assaltavam vários bancos. Encontram-se, actualmente, presos numa quinta no Alentejo. São criadores de coelhos. Foi a pena que o juiz achou melhor para eles, ao fim ao cabo, a culpa era do pai João António, que provocou um trauma nos miúdos. E, finalmente, João António…

João António, deu por si, deitado e completamente suado, na sua cama, no seu quarto, com o cão espojado em cima de si, a lamber-lhe o suor da cara. João António, apercebeu-se que, tudo não tinha passado de um terrível pesadelo. Olhou para o lado e não viu a sua mulher. Chamou pelos filhos e nada… Onde estavam eles? Interrogava-se João António. Levantou-se da cama, dirigindo-se ao espelho da casa de banho e, a meio do caminho, assustou-se com alguém a gritar pelo seu nome. Era a sua mãe, a gritar-lhe para se despachar, porque as torradas já estavam em cima da mesa a esfriar e ele já se encontrava bastante atrasado para ir para a escola. João António, tinha apenas 15 anos, e tudo não tinha passado de um pesadelo horrível. Daí para a frente, jurou a si próprio, que nunca iria colocar os pés num Centro Comercial!

João António, actualmente, vive numa enorme quinta situada no Alentejo, dedicando-se à criação de coelhos, e é o fundador do movimento «Os Coelhos são nossos amigos». É um claro opositor à práctica de golfe em Centros Comerciais. Há quem afirme, que ele é o criador de um pequeno grupo de meliantes, que se dedica à destruição de campos de golfe. Mas, até agora, tudo não passa de boatos, sem que ninguém tivesse reunido provas para o incriminar.

 

FIM


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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