O trapalhão que virou Rei e pelo caminho enganou uns quantos

Inicio de noite de domingo. O ambiente aquece, os espectadores vão chegando, os jogadores vão-se perfilando no relvado, a bola está ao centro, o apito na boca do árbitro e… Está assim aberta a temporada 2014/2015 bem como a primeira discussão de um troféu nacional. Frente a frente encontramos um europeu Rio Ave e um fragilizado Benfica. O jogo, que se tornou desinteressante com o passar do tempo, acabou por não se decidir no tempo regulamentar e nem nos 120 minutos se resolveu alguma coisa, relegando a disputa da Supertaça para os penalties. Foi aí que emergiu um herói inesperado, Artur.

O que pelo título podia perfeitamente ser mais uma história para crianças ou uma fábula de la fontaine, o certo é que acabou por ser a realidade, nua e crua – mais crua que nua – . O guarda-redes brasileiro arrasou tudo e todos ao defender 3 grandes penalidades, fazendo assim com que os benfiquistas esquecessem as críticas e o endeusassem por mais uns tempos. A verdade é esta, Artur não tem qualidade para ocupar a baliza de uma equipa candidata ao título e com intenções de conseguir surpreender na Europa. O brasileiro cometeu diversos erros durante o jogo, erros esses que vêm sendo uma constante ao longo tanto dos anos como dos últimos jogos.

Perdas de bola infantis, tentativas falhadas de passe, frangos, saídas em falso, tudo isto tem sido apanágio das exibições de Artur Moraes que, mesmo tendo Paulo Lopes como concorrente directo, é titular. Podemos falar de mais uma embirração de Jesus, que apesar de ainda não ter o tão desejado guarda-redes – viu Romero fugir por entre os dedos – podia perfeitamente apostar no português para a titularidade. É já certo e sabido que Artur é fraco e que o que fez hoje não apaga tudo o resto, ou será que apaga?

Não. Pelo menos assim deveria ser, não estivéssemos nós a lidar com a espécie mais desmemoriada, no que ao seu clube diz respeito, do mundo; os adeptos de futebol. É bem possível que diversos benfiquistas, não generalizando é claro, passem a não se lembrar de tudo o que de horrendo tem sido feito pelo brasileiro. É completamente credível que Artur seja ovacionado no próximo jogo da Luz e que, até ao primeiro erro, seja tratado como o salvador, que não é. O relógio não pára e Jorge Jesus tem de resolver urgentemente o problema da baliza, se não quem se vai ficar a rir vão ser os aficionados dos outros clubes, como é evidente e natural.

De ostracizado nos 120 minutos a melhor em campo nas penalidades, Artur protagonizou mais uma das histórias tão fantásticas do futebol português e que, feliz ou infelizmente, mudam mentalidades e apagam passados. De trapalhão a Rei, Artur ganhou moral e apoio para se aguentar no poleiro por mais alguns meses. Finalmente conseguiu tirar a espada da pedra, agora ver-se-á se faz jus à coroa.