O Velhão – o novo ecoponto – Raquel Santos

Já lá vai uma semana, desde que o dia da família devia de ter sido celebrado. No calendário da igreja católica está assinalado no dia 28 de dezembro. Sabiam, caros leitores?

Eu afirmei o verbo “devia”, porque nem todas as pessoas sabiam, no entanto, o dia da família é como o Natal, é quando a pessoa quiser!

Neste dia, muitas pessoas andavam preocupadas com os saldos, correndo lojas e mais lojas procurando o produto mais económico e rentável. Outros, trabalhavam arduamente nos seus empregos e outros, estavam confortáveis, sentados em frente à lareira, desfrutando o seu calor.

E a família? Reservaram um pequeno tempo para a família, além do jantar, que nem sempre é feito em família? Pois é, nem sempre é fácil estar em família, outros motivos, mais ou menos apelativos forçam isto.

O conceito de família tem vindo a sofrer alterações significativas, influenciado pela evolução e exigências da sociedade.

O casamento entre um homem e uma mulher, em que deste amor resultava um ou mais filhos, já não é um assunto verdadeiramente consolidado. Com isto, quero dizer que existem muitos tipos de família que põem de lado a base do conceito família, se assim posso dizer.

A família não é só homem, mulher e filhos, é muito para além disto! A família assenta numa relação de amor, amizade, no dar e receber, no suporte e satisfação de necessidades básicas, entre outras. Sem ela, a nossa vida teria outro sentido. A família influência todos os nossos comportamentos e o caminho a seguir, que é muitas vezes desviado por influências dos amigos ou outros sistemas que vão aparecendo no percurso.

Ao longo da vida vamos ficando cada vez mais velhos, conscientes de que o nosso percurso tem um fim. Já diz o velho ditado que “ velhos são os trapos” e é verdade! Porque os entendedores de bebidas dizem que “Quanto mais tempo tiver a bebida melhor ela é!”

No entanto, somos encaminhados para um lar ou muitas vezes abandonados, aparecendo na televisão noticias, de que aparecem idosos mortos no seu lar sem conhecimento dos familiares! Isto é estranho!

Eu compreendo que nem sempre há disponibilidade para visitar um familiar devido ao trabalho, principalmente, mas aparece sempre um dia é que se consegue. Já pensou que também podia telefonar-lhe? Ou tentar saber dele e da sua saúde por outras pessoas, vizinhos? Contudo o mais fácil é colocar no contentor do “Velhão”. Já dizia um elemento da famosa família de amigos “Gato fedorento” que existia um novo ecoponto, o incomparável velhão! Era basicamente um ecoponto para reciclar os idosos porque já não eram precisos na terra e tornavam-se apenas empecilhos! Ai que injustiça vai para aqui!

Não façam uso deste ecoponto. Já pensaram o que é que estes idosos fizeram para que vocês estivessem cá? A vida que levaram, o sacrifício que fizeram para vocês estarem aqui?

Todos estes idosos já foram bebés, cresceram, trabalharam, constituíram família e agora precisam do carinho de todos. O mais fácil é depositar no “ velhão”, mas não façam isso.

Um conselho quero deixar aos jovens: Deem mais ouvidos aos pedidos, às instruções de quem vocês tratam por cota, pois eles já têm uma boa bagagem de experiências de vida que ajudar-vos-á a serem as pessoas do amanhã! Eles, principalmente os vossos pais, só querem o melhor para vocês. Antes eram vocês que precisavam deles e agora são eles. E vocês incomodados, exclamam: “Nós não temos paciência para os cotas!”

Já pensaram que os vossos pais podiam não ter paciência para as vossas birras de pequenos e sempre estiveram ali a dar todo o apoio e carinho?!

Não deixem o ecoponto “Velhão” encher e sejam mais família.

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