Obesidade Infantil – Bruno Neves

A obesidade infantil é um problema que só pode ser encarado com seriedade e preocupação. Em Portugal estima-se que 30% das crianças entre os 1 e 3 anos de idade tenham excesso de peso, sendo que a tendência é para que estes números aumentem. Por sua vez a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou em 2010 que globalmente existiam 42 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade com peso superior ao recomendado.

Esta autêntica epidemia traz consigo preocupações que anteriormente pareciam descabidas, como por exemplo o facto de a actual geração viver mais doente e morrer mais cedo que a anterior. Segundo o Instituto Nacional de Saúde, contrariamente ao que acontecia no passado, 57% das crianças vão para a escola de carro com o pai ou a mãe em vez de irem a pé (mesmo que a escola fique apenas a alguns quarteirões de casa). Já quanto à alimentação 90% das crianças comem fast food quatro vezes por semana, mas apenas 2% comem fruta todos os dias e menos de 1% bebe água diariamente.

Os hábitos dos jovens são também eles diferentes dos de antigamente e como tal é raro ver uma criança brincar na rua. É usual que depois das suas aulas fiquem em casa a ver televisão ou a jogar videojogos. Em média uma criança portuguesa ocupa quatro horas do seu dia em frente à televisão, sendo que ao fim-de-semana esse tempo-médio aumenta para 7 horas. “Mas esses mesmos jovens podem na escola praticar actividade física, certo?” Parcialmente está correcto. Apenas parcialmente porque de todos estes jovens só 40% deles pratica actividades extracurriculares que envolvam actividade física. No nosso país 32% dos jovens tem excesso de peso enquanto que 14% deles são mesmo considerados obesos ou seja, uma em cada três crianças já é afectada por esta epidemia.

Mas a obesidade infantil é também uma “porta de entrada” para outros problemas de saúde, alguns deles bem mais graves, que podem desenvolver-se na idade adulta, nomeadamente: Diabetes Tipo 2, Hipertensão Arterial, Colesterol Elevado ou outras doenças cardiovasculares, problemas com ossos ou articulações, Apneia e outras alterações do sono, Distúrbios Hepáticos, Embolismo Pulmunar e até diversos tipos de cancro! Mas existem também consequências emocionais que se manifestam logo na infância: desânimo, cansaço, quebra no rendimento escolar, baixa auto-estima, isolamento, discriminação ou mesmo bullying.

Dão-me autorização que faça a interpretação que ninguém quer fazer? “Não!” Vá, deixem de ser do contra mas é! Já pensaram na quantidade gigantesca de empregos associados à obesidade (infantil e não só)? Na primeira linha temos sempre as cadeias de restauração de fast food, ou seja McDonald’s e seus semelhantes. Mas essas empresas não trabalham sozinhas e necessitam de empregados (de balcão e limpeza, no mínimo). E para que consigam chegar às pessoas precisam de promover os seus produtos. Essa promoção é feita por empresas de publicidade e mais tarde difundida pelos meios de comunicação social (jornais, televisões e internet). Mas também no sector da saúde onde médicos privados e nutricionistas vêm o seu leque de “clientes” aumentar diariamente. E se os centros comerciais não tivessem restaurantes deste tipo na sua área dedicada à restauração arrisco-me a dizer que as vendas das restantes lojas sofreriam um grande rombo e alguns desses espaços comerciais seriam mesmo inviáveis dado que o número de clientes diminuiria brutalmente.

Esta é uma interpretação dura porque nos faz perceber que a culpa é de todos nós e que o impacto na sociedade é maior do que pensávamos. Tudo é passível de ser transformado em negócio (até a morte…olhem para as funerárias) muito mais se estivermos a falar de alimentação. Todos nós precisamos de nos alimentar (e várias vezes ao dia) como tal por mais cortes que façamos, na alimentação vamos ter sempre de gastar dinheiro. Podemos é escolher alimentos saudáveis em vez da já mencionada fast food, mas essa já é uma escolha pessoal.

A obesidade infantil é um assunto muito sério, muito sério mesmo, mas a sua resolução não se afigura nada fácil. Depende de todos nós, mas essencialmente dos progenitores das ditas crianças e jovens. Cabe-lhes a eles guiá-los e educa-los de modo a que tenham uma alimentação correcta e saudável. “Pecados” todos nós podemos cometer, desde que sejam nas doses certas.

Cuidem da vossa alimentação, e principalmente da alimentação das crianças e jovens deste país. Um dia eles vão agradecer-vos por isso.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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